O tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ex- ajudante de Jair Bolsonaro (PL), preso no último dia 3 em operação da Polícia Federal, tem família nos Estados Unidos com uma fortuna milionária em solo norte-americano.
Mauro Cid foi preso durante investigação de inclusão de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.
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Os dados foram publicados nesta semana no site Metrópoles.
Quando Mauro Cid viajou com Jair Bolsonaro (PL) rumo aos Estados Unidos, em 30 de dezembro de 2022, já tinha planos de estender sua temporada em terras americanas para além de Orlando, na Flórida.
Como ele próprio contou à Polícia Federal (PF) em 5 de abril, em depoimento.
O tenente-coronel do Exército já é investigado por distribuição de fake news, vazamento de documentos sigilosos para tumultuar o processo eleitoral e pela suspeita de operar um caixa paralelo no Planalto que servia à família Bolsonaro.
Ele também esteve empenhado na tentativa frustrada de resgate das joias presidenciais retidas pela Receita no aeroporto de Guarulhos e no esforço para fraudar comprovantes de vacinas, o que acarretou em sua prisão.
O faz-tudo de Bolsonaro não detalhou para os policiais o restante de sua programação nos Estados Unidos, mas traz à tona um rol de propriedades milionárias compradas e registradas em nome de sua família nos últimos anos em solo americano.
A começar pelo endereço principal que seria visitado na viagem à Califórnia, uma mansão de R$ 8,5 milhões, onde vive seu irmão, Daniel Cid, um outro personagem do clã que também é suspeito de envolvimento na difusão de fake news em favor de interesses bolsonaristas.
A mansão e o “trust”
A mansão está registrada oficialmente como propriedade de um trust de nome: “Cid Family Trust”.
A propriedade tem um grande jardim e vista para as colinas que cercam a cidade.
A paisagem foi registrada pela filha de Mauro Cid em um post publicado nas redes sociais em 13 de janeiro deste ano.
No ordenamento jurídico americano, trusts são um instrumento legal que permite a proprietários de bens, sejam eles fundos de investimento ou imóveis, deixarem a tutela do patrimônio a cargo de pessoas de confiança, que ficam a cargo de administrá-lo.
Trata-se de um modelo bastante usado, para blindar patrimônios de eventuais problemas judiciais e garantir sua transferência futura para quem o proprietário original indicar.
Os donos reais, as pessoas físicas, não aparecem nos registros oficiais, para isso, foi preciso cruzar os dados com outras fontes para descobrir que Daniel está ligado aos negócios.
Os trusts também são uma forma de obter benefícios fiscais e, ao mesmo tempo, um recurso para garantir mais privacidade e menos transparência para suas transações.
No caso em questão, a mansão registrada em nome da Cid Family Trust fica em Temecula, cidade vinícola encravada no sul da Califórnia, a cerca de 130 quilômetros de Los Angeles.
Mais propriedades
Pelo menos desde o ano de 2019, o trust da família Cid passou a ser dono, ainda, de outra casa, menor, avaliada em R$ 2,2 milhões e localizada na mesma cidade.
Antes, o imóvel estava em nome de Daniel, como pessoa física.
O irmão do tenente-coronel também aparece ligado a um terceiro imóvel em Temecula, vendido recentemente por ele pelo equivalente a R$ 3,3 milhões.
Segundo os registros oficiais do condado de Riverside, onde fica Temecula, foi no mês de março do primeiro ano do governo Bolsonaro que o principal bem, a mansão, foi posto em nome do trust.
A propriedade teve uma valorização considerável nos últimos anos. Sites especializados estimam que, atualmente, ela deve valer cerca de R$ 11 milhões.
A aquisição mais recente de Daniel Cid é uma casa em Miami, na Flórida: uma unidade no Doral Isles Martinique.
Segundo os serviços de pesquisa imobiliária, o imóvel foi comprado em agosto de 2020.
No site oficial do governo de Miami Dade, o bem está avaliado em cerca de R$ 2 milhões e registrado fora do trust, em nome do próprio irmão do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
São quatro quartos, em dois andares, dentro de um condomínio privativo da cidade.
Nos Estados Unidos, o irmão de Mauro Cid fez, nos últimos anos, uma série de movimentações financeiras e societárias que chamam a atenção.
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O irmão “nerd” e a milícia digital
Até o ano passado, Daniel era apenas mais um brasileiro vidrado em tecnologia que fez carreira no setor de segurança digital na Califórnia.
Quando começou a lançar mão das habilidades para ajudar Jair Bolsonaro na tentativa de fraudar as eleições e a disseminar mentiras sobre a pandemia de Covid-19, no entanto, ele entrou no radar da polícia e do STF.
Daniel Cid foi o criador e administrador do “brasileiros.social”, uma página virtual hospedada fora dos servidores tradicionais e ilustrada com a bandeira do Brasil.
Foi nesse mesmo site que foi parar uma cópia de um inquérito sigiloso da PF alardeado em uma live pelo ex-presidente para provar a manipulação do sistema eleitoral, segundo a delegada federal Denisse Ribeiro.
O caso virou um inquérito que ainda tramita no Supremo.
O irmão de Mauro Cid chegou a ser ouvido pela PF. E confessou, à época, que “já realizou o procedimento de colocar no ar link relacionados a arquivos em formato PDF a pedido do seu irmão Mauro Cid, umas 5 ou 6 vezes”.
Para quem pesquisa na internet, há inúmeras outras menções relacionando posts de Bolsonaro com documentos publicados no site de Daniel, Ou seja, vários posts bombásticos com possíveis mentiras propagadas por Bolsonaro tinham como fundamento documentos manuseados por Daniel.
Daniel Cid foge do perfil usual de parentes de assessores da família Bolsonaro flagrados pelas autoridades brasileiras em supostos esquemas das chamadas “rachadinhas”.
Empresa em paraíso fiscal
No ano seguinte, em 2018, veio a eleição presidencial brasileira. Ainda na transição, em 28 de novembro, Mauro Cid foi nomeado para o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, GSI. Pouco depois, em 13 de dezembro, ele já assumia o posto de ajudante de ordens do então futuro mandatário.
Foi logo após esse período que o irmão do então ajudante de ordens fez Daniel outra mudança na engenharia de seus negócios.
Em setembro de 2020, ele transferiu uma empresa que tinha na Califórnia, a CleanBrowsing, para Delaware, conhecido como um paraíso fiscal dentro dos Estados Unidos, como mostrou, em novembro do ano passado, o jornalista Lúcio de Castro.
Embora seja regida pela legislação de Delaware, o escritório de administração da firma fica no estado do Texas. Nos sites de busca, no endereço declarado aparece apenas uma agência postal.
Mudanças como essa podem acontecer por questões tributárias, mas, invariavelmente, deixam mais restritas as informações financeiras da companhia, facilitando, eventualmente, a incorporação de dinheiro de fonte incerta nos negócios.
As investigações
Dentre as várias investigações que incluem direta ou indiretamente o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, algumas envolvem lavagem de dinheiro, que resultou no cancelamento da nomeação de Mauro Cid para o comando de um batalhão de forças especiais com sede em Goiânia e na queda do então comandante do Exército.
Mensagens encontradas pela PF no celular do tenente-coronel revelam remessas de dinheiro para o exterior.
Os investigadores pretendem recorrer a acordos de cooperação com as autoridades americanas para avançar sobre essas transações.
Eles também devem tentar obter dados sobre a conta bancária que Mauro Cid mantinha na Flórida, de onde podem ter saído os 35 mil dólares encontrados na casa dele em Brasília, na semana passada.
O pai dos irmãos Cid, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, é amigo antigo de Bolsonaro, colega de turma de Bolsonaro na academia de formação de oficial e foi nomeado no governo passado para chefiar o escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos, a Apex, em Miami.