Os primeiros sinais da doença de Chagas podem facilmente passar despercebidos, assemelhando-se a sintomas comuns como febre, cansaço e dor de cabeça.

No entanto, a doença de Chagas, ainda presente de forma endêmica na região Norte do país, pode desencadear complicações graves no esôfago, intestino e coração, podendo levar até mesmo à morte.

O Amazonas figura como o terceiro estado brasileiro com maior incidência da doença, com 11 casos em 2023, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Esses números colocam o estado atrás apenas do Pará, com 408 infecções, e do Amapá, com 31.

A doença de Chagas é multifacetada, apresentando uma fase aguda que pode se estender por semanas ou meses, muitas vezes com sintomas leves ou até mesmo assintomáticos.

Posteriormente, surge a fase crônica, conforme explicado pelo coordenador-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde, Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior.

“Uma vez persistindo, a infecção vai desenvolver uma forma aguda, que pode ser subclínica ou manifestar sinais, como febre. Depois disso, [a infecção] entra numa forma que chamamos de ‘indeterminada’, que não consegue ser identificada – não tem sintomas clássicos”, afirmou Francisco.

Conforme o coordenador, após um período, que pode se estender por anos, a doença pode evoluir para a fase crônica, que pode afetar tanto o coração, na forma cardíaca, quanto o sistema digestivo, comprometendo o esôfago e o intestino.

Ele destaca que se a doença for tratada durante a fase aguda ou na forma indeterminada, a pessoa tem a possibilidade de eliminar o Trypanossoma cruzi e evitar o desenvolvimento da forma crônica da doença.

Transmissão

No Amazonas, uma das formas mais prevalentes de transmissão da doença de Chagas é a oral, através do consumo de alimentos contaminados por barbeiros portadores do Trypanosoma cruzi, devido à falta de higiene e cuidados durante o processamento.

Este é um problema comum, conforme explicado por Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior.

“Atualmente, temos uma média de 300 a 400 novos casos agudos notificados por ano no país. Acreditamos que esse número possa ser subestimado, já que alguns pacientes não são diagnosticados, especialmente devido à forma de transmissão oral – através da ingestão de alimentos contaminados pelo Trypanosoma cruzi proveniente do barbeiro. Ou seja, o barbeiro pode ter sido triturado junto com o alimento, ou as fezes do barbeiro podem ter sido ingeridas em um alimento que não foi devidamente higienizado. Assim, a contaminação ocorre oralmente, especialmente na região Norte”.

Delma Maria Santos, uma pensionista de 66 anos de Manaus, é um exemplo disso. Ela costumava consumir açaí natural e caldo de cana sem se preocupar com a origem desses alimentos.

Delma suspeita que tenha contraído a doença dessa maneira. Ela relata que não apresentou sintomas da fase aguda da doença de Chagas e só descobriu anos mais tarde, durante um exame de rotina. Assim que recebeu o diagnóstico, iniciou o tratamento.

Para prevenir a transmissão oral da doença, a principal medida é a boa higienização dos alimentos, conforme orientação de Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior.

“Isso ocorre geralmente quando o barbeiro é moído junto com a fruta ou outro alimento, e a pessoa não percebe. Como o inseto é relativamente grande e se o alimento for bem higienizado, há uma grande probabilidade de evitar essa contaminação dos alimentos”.

* Com informações do Brasil 61