Em entrevista ao Portal Norte, cheia de risadas e piadas a cada pergunta, o trio de comediantes manauaras Bruno ‘Frota‘, Daniel ‘Aniceto’ e Daniel Maia falaram sobre a trajetória que tiveram, desde 2010 até hoje, com a produção de vídeos para a internet e levando a cultura amazonense para o resto do país.

Os três visitaram o Grupo Norte de Comunicação – Foto: Reprodução/ Instagram @frota_

Utilizando de gírias e expressões nortistas, os três produzem vídeos curtos para o Instagram e TikTok.

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É comum ver amazonenses utilizando expressões como “olha já”, para demonstrar surpresa; ou “telezé”, como uma junção de ‘tu é leso é’, e outras que fazem parte de quem mora no Amazonas.

Observando esse comportamento, e ingressando na vida da comédia, o trio conta como iniciou na internet e nas redes sociais.

“A gente grava há quatro juntos, isso no Instagram. O TikTok também. Mas a ‘parada’ de gravar mesmo, o Daniel já gravava desde 2010 para o YouTube. Eu também, 2009 e 2010 eu já estava no YouTube”, conta Frota.

Segundo Bruno, foi quando ele descobriu o clube de comédia local ‘Toca da Comédia’ e viu que era possível produzir vídeos para a internet que sua ideia de migrar para as plataformas surgiu.

A pandemia também foi um momento de incentivo para ele, já que sua rotina se resumia em ficar em casa e “fazer gracinhas na internet”.

Aniceto, como é chamado, também teve um ‘start’ no Toca da Comédia, e também foi onde conheceu o Frota.

“Como eu sempre gostei de comédia, eu pensei, eu vou ficar aqui fazendo e uma hora eu vou conhecer alguém aqui”, disse.

Daniel Maia ainda lembra que, no início, não era vista como profissional para eles. Hoje, já é sua profissão.

“Não era uma profissão ainda, hoje já é o nosso trabalho. Antes a gente não tinha intenção de ganhar dinheiro com isso”, contou.

Insistência no sonho

Frota, Aniceto e Daniel apresentaram a palavra ‘insistência’ como o que representa a trajetória de cada um na comédia e reconhecimento na web.

O resumo da obra de arte da nossa vida é a insistência.

Bruno ‘Frota’

De acordo com Frota, eles “bateram na tecla” de que a produção dos vídeos não era um hobby e que eles não tinham “plano B”, caso não desse certo.

“A gente não tem plano B. A gente só tem um plano A, vai dar certo e a gente vai ser conhecido. A gente tem certeza. Então acho que é essa certeza que fez a gente chegar onde a gente está”, enfatizou.

Não é à toa que a insistência os fez largar os empregos antigos e investir na comédia, levando a cultura nortista para ser reconhecida no estado e no Brasil.

“A gente abandonou nossos empregos e a gente está continuando nesse sonho, que é antigo, mas também é muito louco. Todo dia se renova. Acho que isso é um fato. Todo dia a gente chega mais longe’, disse Daniel.

“Quatro anos para chegar aqui”

Quando questionados sobre como “portas” foram se abrindo ao longo dos anos e do reconhecimento na produção digital, Frota enfatiza que foram quatro anos insistindo.

Segundo ele, os vídeos eram gravados todo sábado, “embaixo de chuva, de sol, sem dinheiro no bolso, sem nada”.

De acordo com Daniel, a arte “te procura” e que ele irão continuar nela até o fim.

A gente costuma falar que quando tu nasce pra arte, a arte vai te buscar onde tu tá. Então, não importa, a gente vai morrer na arte. 

Daniel maia

Definição das piadas

Com o sucesso nas redes, uma das curiosidades é saber como são escolhidos os temas dos vídeos, as piadas que serão feitas e se existe um cronograma por trás dessa produção.

Bruno explicou que, por estarem juntos quase o tempo todo, é mais fácil ter ideias. Eles criaram “quadros” de comédia para a internet, como:

‘Casal’

‘Melhor fechar’

‘É claro’

Há, também, algumas dificuldades, como esperar algum acontecimento viralizar para poder transformá-lo em piada.

“Quando a gente começou, a gente tinha a mente de trabalhar pros outros, a gente não tinha referência de nada. Hoje a gente tem a mente de comediante, que fica reparando as coisas. A gente repara tanto as coisas que criamos identificação”, explica Frota.

Segundo ele, só de “bater o olho” em algo, eles já sabem se irá viralizar ou não.

Um exemplo disso foi um vídeo em que eles rementem ao calor do verão manauara, em que as temperaturas batem recordes durantes meses.

A ideia é que, já que está “todo mundo falando do calor”, eles avaliam o que pode ser feito e produzem os vídeos.

“A gente elenca a problemática do manauara, o que o manauara está pensando naquele momento, o que ele quer assistir. A gente bate o olho e consegue dizer o que vai viralizar”, disse.

Regionalismo

Um dos destaques do conteúdo produzido pelo trio é o regionalismo, sendo no uso das palavras ou nos trejeitos do povo amazonense.

Entretanto, Frota reforça que eles não querem que o manauara seja um “personagem caricato”, e que eles procuram não “forçar o regionês”.

“A gente quer falar com o manauara, nós gostamos de trocar ideia com o manauara”, enfatizou.

Daniel também conta que conversou com um paraense para escrever uma história e exemplificou que eles não ficam falando “olha já”, por exemplo, toda hora.

Para exemplificar mais ainda o processo natural, eles contam que o quadro ‘Melhor fechar’ veio de uma expressão que eles falavam rotineiramente, e acabaram por potencializar isso em piadas.

“Tem momentos que do nada nós temos esses ‘flashes’. Mano, a gente fala coisa de tal jeito, dá pra explorar isso aqui. O ‘melhor fechar’ surgiu assim, sobre não ter tal coisa em tal lugar. A gente pegou e foi aprofundando”, contou Aniceto.

Vídeos virais

Perguntados sobre quando perceberam que os vídeos estavam começando a viralizar ainda mais, até mesmo para outros estados, eles deram alguns exemplos.

O principal foi o que falava sobre o peixe regional, o candiru, além de um vídeo sobre a lenda do boto.

Segundo Daniel, são nesses que eles “levam o Norte”.

Vídeo: Reprodução/ Instagram @frota_ e maiadaniel_

Eles ainda afirmou que, desde o início, o intuito era serem “inevitáveis”.

“As pessoas não conseguem evitar a gente. É porque como postamos vídeo todo dia e todos os dias está dando certo, é impossível as pessoas quererem evitar, só se desbloquearem a gente. Os três vão aparecendo no vídeo um do outro, então não tem como evitar”, afirma Frota.

Para conseguirem viralizar os próprios conteúdos e saberem o que produzir, Bruno conta que eles treinam para serem observadores.

Ele até mesmo faz referência ao “bobo da corte” e como o comediante vive “paralelo à sociedade”.

De acordo com o trio, características técnicas também fazem parte do motivo que vídeos curtos viralizam nas redes, como o formato de vídeo, a legenda, a edição e outros.

“A gente é muito perfeccionista. Então, às vezes eu mostro pra eles o vídeo dizendo ‘Não tá enquadrado direito, não ficou legal isso aí’. A gente preza muito por isso na edição, mas é porque a gente é muito observador”, disse Frota.

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Futuras ambições

No final da entrevista, o trio foi questionado sobre o que esperam para o futuro.

Foto: Reprodução/ Instagram @frota_

A principal resposta foi que desejam serem reconhecidos nacional e que não existe “plano B”.

Um deles até mesmo diz ter interesse em ir ao podcast Podpah, apresentando por Igão e Mítico, que recebe vários artistas nacionais, de vários seguimentos.

“A gente acredita muito em lei da atração. Em 2022, quando a gente estava ruim, a gente falou ‘2023 vai ser o nosso ano’. Em janeiro, a gente começou com o pé direito”, disse. “A gente tem certeza que a gente vai no PodPah”, complementou.

Daniel ainda diz que todo esse cenário artística está com eles desde o nascimento e que está no ramo para mudar a história da própria família.

“Na minha família, eu acho que eu sou o único artista das três últimas gerações. Então eu sei que eu nasci diferente, eu sei que nasci pra mudar a história da minha família”, afirmou.

Para finalizar, eles colocam a comédia como um alívio para as pessoas também, e que o objetivo é a risda.

O que a gente quer é fazer as pessoas rirem. Se eu estiver num lugar, eu vou fazer graça, porque pelo menos vou deixar o dia duma pessoa melhor.

Bruno ‘frota’