Copresidente do Painel Científico para a Amazônia, o climatologista Carlos Nobre é um dos mais respeitados cientistas do mundo e estuda a Amazônia há mais de 40 anos. Ao Norte Entrevista, ele fala dos desafios que a região precisa enfrentar.

Temperatura do planeta

Segundo Nobre, se as emissões de gases do efeito estufa continuarem altas, o planeta poderá estar 1,5 grau Celsius mais quente em 2030 ou 2033, e chegar a 2,4 ou 2,6 graus mais quente em 2050.

“Isso pode destruir a Amazônia, pode derreter o solo congelado da Sibéria, do Norte do Alasca, isso é um risco”, declarou.

Em suma, seria um desastre de proporções mundiais, embora ainda se possa evitar se as emissões atingirem níveis aceitáveis.

Impacto das mudanças climáticas na saúde

“Se chegássemos ao final deste século com 4 graus globais, “n” cidades tropicais seriam inabitáveis, por exemplo, o Rio de Janeiro”, declarou o cientista.

Dessa maneira, a alta temperatura e o ar muito úmido fariam com que nossos corpos não transpirassem. Bebês e idosos morreriam em meia hora – pessoas saudáveis sobreviveriam, no máximo, duas horas.

Ponto de não-retorno

Nobre foi o primeiro cientista a publicar artigos científicos sobre os perigos do desmatamento na Amazônia. Com muito menos árvores, o clima se torna muito seco, e a floresta não se mantém. Assim, aliado às mudanças climáticas, o quadro se agrava ainda mais. Se o desmatamento na Amazônia atingir 20% (hoje está em cerca de 16 a 17%) e a temperatura do planeta continuar subindo, a  região chegará a um ponto de não-retorno.

“O que é o ponto de não-retorno? Quando o clima vai mudando tanto, em grandes partes da Amazônia, que você tem uma auto-degradação. O que é isso? O clima vai mudando, vai ficando mais seco, menos chuva, estação seca mais longa, não consegue mais manter a floresta”, observou Nobre.

Soluções

O Painel Científico para a Amazônia lançou, durante a COP* 27 no Egito, em novembro de 2022, um estudo chamado de “Arcos da Restauração Florestal”:

“Um é todo esse sul da Amazônia, do Atlântico até a Bolívia, e o outro é ao longo dos Andes, ali é a segunda região mais desmatada da Amazônia, que é Peru, Equador e Colômbia, ali é a região que tem a maior biodiversidade do planeta”, explicou o cientista.

Entre as propostas estão doações a comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e de agricultores de reservas extrativistas para restaurarem áreas desmatadas.

Energias Renováveis

“Hoje, as duas formas que mais expandem de energia renovável são a energia solar e também a energia do vento, a energia eólica”, explica Nobre.

Entretanto, há diversas outras formas de energia renovável que deverão ser cada vez mais usadas, como as geradas pelas ondas dos oceanos e, sobretudo, o chamado hidrogênio verde.

Segundo o cientista, esta forma de energia está sendo convertida para inúmeros usos: “O h2 é um combustível. Países europeus já fizeram metas de não usar mais combustíveis fósseis na produção do aço, na produção do cimento, na produção de agrotóxico, todos estão caminhando para usar o hidrogênio verde”, disse.

O que é o AmIT

O Instituto de Tecnologia da Amazônia (AmIT) é um projeto inovador de Carlos Nobre. O AmIT será um centro de pesquisa cujos focos principais serão o desenvolvimento sustentável da sócio-bio-economia e a preservação da floresta amazônica.

“A idéia do AmIT não é só numa cidade em algum lugar da Amazônia, é ser pan-amazônica, nós estamos já em contato no estudo com cientistas do Peru, da Colômbia, da Bolívia, do Equador, pra ver se a gente cria um instituto internacional, logicamente, maior participação do Brasil, o Brasil tem 61% da floresta amazônica, então essa é a idéia”, declarou o cientista.

* COP é a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), e é realizada todos os anos desde 1995.