O Norte Entrevista deste sábado (27) tem a participação de Antônio Geraldo, psiquiatra que acompanha a influenciadora digital Vanessa Lopes, desistente do Big Brother Brasil 2024, da TV Globo. O médico também é presidente da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
Na conversa, gravada no último dia 24, o especialista orientou sobre como lidar em situações públicas, como a que aconteceu com Vanessa. Durante a entrevista, o profissional não revelou que era o médico da influenciadora. Mas, nesta sexta-feira (27), por meio do boletim médico postado nas redes sociais dela, a informação tornou-se pública.
Antônio Geraldo enumerou ainda na entrevista os fatores sociais que levam o brasileiro a ser o povo mais ansioso do mundo, segundo alerta recente da OMS (Organização Mundial da Saúde). O médico analisou também a contribuição da exposição às telas no adoecimento das pessoas, os tabus que envolvem as doenças mentais e a falta de políticas públicas aos pacientes.
ASSISTA À ENTREVISTA:
ENTENDA O CASO VANESSA LOPES:
A influenciadora digital deixou a casa do BBB no dia 19 deste mês. Dias antes, espectadores e participantes notaram que Vanessa apresentava falas desconexas. Alguns chegaram a afirmar que ela poderia estar em surto. Na época, a TV Globo afirmou que criadora de conteúdo era acompanhada pela psicóloga do programa e foi decidido pela permanência de Vanessa. O reality estreou no dia 8 de janeiro. Dias antes, os brothers ainda encararam um pré-confinamento em quarto de hotel.
Desde a saída do BBB, Vanessa Lopes não havia se manifestado. Só nesta sexta-feira (26), por meio de uma postagem nas redes sociais, foi divulgado boletim médico informando que a ex-sister passa por tratamento psiquiátrico e está sob os cuidados de Antônio Geraldo, presidente da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
Nascida em Brasília, Distrito Federal, Vanessa Lopes, de 22 anos, foi criada em Recife, capital pernambucana. Aos 13 anos, a dançarina e criadora de conteúdo começou a gravar vídeos por hobby e hoje acumula mais de 50 milhões de seguidores no Instagram e no TikTok, somados.
DESTAQUES DA ENTREVISTA:
Brasileiro mais ansioso
“Nós temos insegurança financeira, insegurança política, temos insegurança em relação ao que se ganha hoje – se é possível comportar todos os gastos com a família ou não -, ‘o que você vai fazer no mês que vem – se vai estar empregado ou desempregado? No ano que vem, vai ter escola pro seu filho? Se você adoece, não adoece, o SUS vai poder atender adequadamente? Você vai ter tranquilidade?’ Então, você não tem essa tranquilidade hoje no nosso país”.
Contribuição da exposição às telas
“Ninguém mostra ruína, só mostra a perfeição. Aí, quando você sai ali da perfeição, que é a vida das pessoas, você cai nos noticiários e tem no mundo 10, 12 guerras – duas são mais faladas. Isso vai gerando medo, vai gerando ansiedade, e você continua exposto às telas. E aí você passa o dia inteiro e, quando você vai ver, a sua bateria já acabou. ‘É meio-dia e a sua bateria já acabou?’ Não é nem a bateria do celular. É ‘a minha bateria já acabou’, dizendo exatamente como você está vivendo, voltado extremamente a aparelhos que se conectam o tempo inteiro. Isso é grande gerador de ansiedade”.
Falta apoio do Estado
“Você não tem um medicamento, sequer, para transtorno de ansiedade na farmácia popular. Se você quiser ir na farmácia popular pra pegar, de graça, medicamento pra tratar transtorno de ansiedade, você não tem. Você não tem pra tratar nenhuma doença mental”.
Preconceito
“Pra ser uma pessoa melhor, você precisa entender que quando você destrata, quando você cria distanciamento, quando você cria preconceito – qualquer tipo de preconceito -, você mata as pessoas. Psicofobia mata, preconceito mata, estigma mata. As pessoas não procuram ajuda. E, sabendo nós que 100% daqueles que se suicidam é porque têm transtornos mentais, e ter preconceito? É intolerável, inaceitável. Mais de 90% dos suicídios podem ser prevenidos. Basta procurar o psiquiatra, procurar o tratamento.
Caso Vanessa Lopes no BBB
“A gente precisa tomar cuidado ao julgar. A gente pode acabar fazendo um linchamento moral, a gente pode fazer julgamentos em relação às outras pessoas. Quem apresenta – qualquer pessoa – que apresenta uma alteração de comportamento o que a gente precisa, primeiro, é proteger a pessoa, é cuidar da pessoa, é colocar a pessoa em situações de cuidado, pra que ela não se exponha”.
