Brincadeira antiga e transformada em patrimônio histórico, cultural e imaterial da cidade de Manaus, a pipa ou papagaio trazem de volta uma velha discussão: o uso de linhas com cerol. Nesta semana, um motoboy acabou morto degolado, na Zona Leste da capital, após ser atingido por uma destas linhas.

A lei municipal de Manaus 1.968/2015 proíbe a venda e o uso de cerol nas linhas de pipa. Também fica proibida a venda, o armazenamento, o transporte e a distribuição de cerol ou qualquer material cortante utilizado para empinar pipa de papel. No entanto, isso não é cumprido.

O cerol é uma mistura composta por pedaços de vidro e cola. O modelo “linha chilena” vai além e é produzido com quartzo moído e óxido de alumínio.

O produto oferece grandes riscos para quem está empinando o papagaio e também para terceiros, como pedestres e motociclistas. E foi o entregador de farmácia Daniel da Silva Rodrigues, que acabou sendo a mais nova vítima da “brincadeira fatal”, na quarta-feira, 4, no bairro Zumbi.

Danos sociais

Além da tragédia envolvendo o motociclista, moradores do bairro Nova Cidade, na Zona Norte de Manaus, relataram ao Portal Norte Notícias que constantemente ficam sem energia elétrica por causa das linhas com cerol. No último sábado, 31, a partir das 18h, a rua Liverpool ficou totalmente sem energia após pipeiros terem cortado os fios de eletricidade ao soltar pipas com o produto cortante.

Cansados das constantes ocorrências, os moradores planejam uma manifestação para este sábado, 7, contra a atividade de pipa na área do Igarapé do Passarinho (Buracão). A concentração será ao lado da Unidade Básica da Família (UBSF).

Um dos organizadores, Denison Vilar, diz que os pipeiros não têm nenhum respeito com os moradores, inclusive invadem o terreno das residências para pegar pipa quando cai.

“A situação está insustentável. Pipeiros de outros locais se juntam aos daqui e fazem arruaça, sem contar com o perigo que todo mundo passa porque eles usam linha com cerol e linha chilena”, denuncia.

Um abaixo-assinado também será feito para ser entregue ao Ministério Público, com a finalidade de proibir a prática da atividade no local.

Pipódromo em Manaus

No ano de 2013, uma lei criada por vereadores instituiu a criação do pipódromo. O espaço para soltar papagaio é tema da lei promulgada pela Câmara Municipal em 2013, de autoria do ex-vereador Gilmar Nascimento (DEM). Ela previa a criação de espaço para que as pessoas brinquem de pipa em todas as zonas da cidade.

Segundo a lei aprovada, o pipódromo tem como objetivo “proporcionar ao público amante das pipas um local seguro para soltar pipas e papagaios sem causar e sofrer acidentes”.  A determinação era que o prefeito da época construísse o espaço. No entanto, após oito anos, o espaço não foi criado.

O que se tem desde o ano de 2015 são áreas informais como Avenida do Samba (Sambódromo); Igarapé do Passarinho (área do Buracão); rua Lourenço Braga, por trás da Penitenciária, no bairro Cachoeirinha; no Prosamim do bairro Alvorada; no Viver Melhor e no Campo do Lidam, no Mutirão, e no Braga Mendes.