Vitali Shishov, diretor de uma ONG bielorrussa que estava desaparecido desde segunda-feira na Ucrânia, foi encontrado enforcado em Kiev, anunciou nesta terça-feira, 3, a polícia, que iniciou uma investigação por “assassinato”.

“O corpo do bielorrusso Vitali Shishov, desaparecido ontem em Kiev, foi encontrado hoje em um dos parques de Kiev, perto do local em que residia”, afirmou o chefe da policía nacional, Igor Klymenko, em coletiva de imprensa.

A polícia abriu uma investigação por homicídio premeditado, mas também considera a possibilidade de um ato voluntário.

“Um suicídio e um assassinato disfarçado de suicídio são as principais hipóteses”, disse Klymenko.

Em resposta a uma pergunta sobre as declarações de um ativista bielorrusso, segundo o qual Shishov tinha hematomas no rosto o nariz quebrado, o chefe da polícia informou apenas pequenas lesões “características de uma queda”, sem mais detalhes.

A organização Casa Bielorrussa na Ucrânia (BDU) denunciou no Telegram uma operação das autoridades bielorrussas para “liquidar” uma pessoa “perigosa para o regime” do presidente Alexander Lukashenko.

“Não há dúvida de que esta é uma operação planejada pelos chekistas”, termo usado para designar as forças de segurança bielorrussas, disse a ONG, cuja missão é ajudar bielorrussos que fogem para a Ucrânia para escapar da repressão em seu país, onde milhares de pessoas foram presas no último ano.

“Vitali era vigiado e a polícia (ucraniana) havia sido informada a respeito. Fomos advertidos em várias ocasiões, tanto por fontes locais como por pessoas em Belarus, sobre (a possibilidade de) todo tipo de provocações, que poderiam chegar ao sequestro e morte”, completou a ONG.

Shishov, de 26 anos, havia saído para correr por Kiev na segunda-feira, mas nunca voltou.

Segundo a “Casa Bielorrussa”, Shishov foi obrigado a fugir para a Ucrânia em 2020, depois de participar no mês de agosto de protestos contra o governo em Gomel, sul de Belarus, e de ter “expressado oposição ativa” às autoridades.

Ameaçado inclusive no exílio

Desde então, Shishov se dedicou a ajudar seus compatriotas exilados na Ucrânia pelos mesmos motivos que ele e participou da organização de protestos em Kiev contra o governo de Lukashenko, segundo o BDU.

A Organização das Nações Unidas pediu nesta terça-feira a Kiev que conduza uma investigação “completa, imparcial e eficaz” sobre a morte.

Vários bielorrussos fugiram do país e seguiram especialmente para Ucrânia, Polônia e Lituânia, em um período de intensa repressão da oposição ao regime de Lukashenko, que governa desde 1994 a ex-república soviética que fica no meio do caminho entre a UE e a Rússia.

“Os bielorrussos não estão seguros no exterior enquanto houver alguém que tente se vingar e esconder a verdade, livrando-se das testemunhas”, disse no Telegram a líder da oposição bielorrussa no exílio, Svetlana Tikhanovskaya.

Depois de se reunir com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson em Londres, ela disse que aguarda “os resultados da investigação” antes de acusar Belarus de ter promovido um crime.

A opositora considerou que ela mesma “poderia desaparecer a qualquer momento”.

O caso de Vitali Shishov aconteceu um dia depois do incidente nos Jogos Olímpicos de Tóquio com a atleta bielorrussa Kristina Tsimanuskaya, que afirmou ter sido obrigada a abandonar a competição e foi ameaçada de ser enviada de volta ao país depois que criticou a federação de atletismo de Belarus nas redes sociais.

A velocista de 24 anos se refugiou na embaixada da Polônia, país que concedeu visto humanitário na segunda-feira.

O histórico movimento de protesto após as eleições em Belarus no ano passado foi reprimido com várias detenções, exílios forçados de opositores e o desmantelamento de muitas ONGs e meios de comunicação independentes.