O ano de 2021 está terminando e muitos aproveitam o momento para refletir sobre o período.

Nem de longe foi simples sobreviver no Amazonas ou mesmo ter um ano tranquilo.

Os acontecimentos que sacudiram o estado não deram trégua desde a virada 2020-2021.


Foto: Secom – Paciente de Covid dentro de hospital em Manaus

Pior janeiro do Amazonas

O ano mal acabava de começar e muitos manauaras não imaginavam que também estavam diante do início da 2ª onda da Covid-19 e de uma jornada de dias sombrios.

As festas e aglomerações no fim de 2020 foram trampolins para a explosão de casos.

Faltou leito, faltou remédio, faltou oxigênio, mas sobraram lágrimas em cemitérios, nos hospitais e nas residências daqueles que perderam entes queridos para a pandemia.

Dores e problemas enfrentados por pessoas de todas as classes sociais.

A capital do Amazonas se tornou o epicentro mundial da Covid logo nos primeiros meses de 2021.


Foto: Aeronáutica – Militares embarcam cilindros rumo ao Amazonas

Cilindros de oxigênio foram enviados de outros estados e transportados por militares e pela iniciativa privada.

Sem vagas em hospitais públicos e privados, houve necessidade de envio de pacientes para diferentes cidades do país.

Em janeiro, Manaus chegou a registrar 198 mortes em um único dia.

A situação chegou a provocar falta de caixões para enterro de vítimas. O setor funerário teve dificuldade para repor estoques e chegou a ser socorrido por estados vizinhos.


Foto: Semcom – Área ampliada do Cemitério Nossa Senhora Aparecida para receber mortos por Covid

Além de milhares de cidadãos vítimas da pandemia, a partida de um amazonense ilustre enlutou o estado inteiro: Zezinho Corrêa.

Hospitalizado desde o final de dezembro, o corpo do artista acabou vencido pelo coronavírus no dia 6 de fevereiro.

A pandemia seguiu em 2021 e os casos e mortes no Amazonas foram diminuindo ao longo do ano.

Restaram cicatrizes e medo de uma época que a maior cidade amazonense jamais esquecerá.


Foto: Aeronáutica – Em Manaus, paciente com Covid antes de embarcar para tratamento em outra cidade

 

Vacinação

O início da vacinação contra a Covid em fevereiro era o alento e a esperança que o povo amazonense precisava.

Mas o começo da imunização também foi marcado pelos fura-filas da vacina.

Cidadãos comuns e autoridades levantaram suspeitas de buscarem e conseguirem vacinação sem o direito legal naquele momento.


Foto:  Lucas Silva/Secom – Vacinação em Manaus

O ano foi passando e a oferta de doses aumentou exponencialmente no estado.

Antes do fim do 1º semestre, boa parte da população já havia sido vacinada com a 1ª dose.

Ficaram de fora, até o momento, aqueles que ignoram a ciência, riscos e enaltecem discursos, muitas vezes políticos, que atrapalham a imunização.

Até dezembro, mais de 120 mil pessoas sequer tomaram a 1ª dose. Uma constatação de que levará tempo para que a população se sinta realmente segura de retirar a máscara nas ruas.

O estado ainda está longe de obter pelo menos 80% de toda a população imunizada.

 

Maior cheia da história

Foi ainda no primeiro semestre que as águas do Rio Negro desconheceram limites e invadiram Manaus como nunca na história.

A maior cheia de todos os tempos impôs mudanças no cenário do Centro da capital e também na vida de quem vive ou trabalha naquela região da cidade.

Os efeitos da cheia em frente ao prédio da Alfândega, no Centro, viraram paisagem que incentivou turistas e os próprios manauaras a utilizarem rampas para verem de perto a realidade local.

Desde o início dos registros, em 1902, Manaus nunca havia se deparado com tanta água na área portuária.

No dia 5 de junho, o Rio Negro alcançou a marca histórica de 30 metros, a maior em 119 anos.


Foto: Semcom – Maior cheia da história provocou mudanças no trânsito do Centro de Manaus

 

Facções criminosas

Não bastasse a preocupação com a pandemia, o manauara enfrentou o ano tenso diante da ação de facções criminosas.

A ação crescente do tráfico de drogas e a disputa entre grupos rivais mancharam de sangue praticamente todos os dias de 2021.

Corpos esquartejados e muita violência brutal foram testemunhadas nas ruas e em vídeos divulgados pelos próprios assassinos.

Além dessa guerra, a população em geral também acabou sendo alvo de bandidos em meados do ano.

Entre os dias 6 e 8 de junho, dezenas de veículos e ônibus foram incendiados e prédios públicos depredados. Delegacias não foram poupadas.

Também houve registro de atentados em cidades do interior.

Para a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM), os ataques foram resultado da revolta de grupos criminosos que reagiram à morte de um traficante, em uma ação policial no dia 5 de junho, na Zona Centro-Oeste de Manaus.


Foto: Reprodução/Internet – Ônibus atacados por facções

 

Urina Preta

Na saúde, outra situação ainda merece preocupação.

Desde agosto, a rabdomiólise, conhecida como doença da urina preta, foi responsável pelo registro de 132 casos até dezembro.

É o pior surto da doença registrado no estado.

A cidade de Itacoatiara lidera o número de casos e hospitalizações provocados pela doença.

Não há consenso científico sobre o que causa a síndrome, mas o consumo de peixe contaminado é associado ao problema.

Um dos problemas durante a investigação dos casos é o rastreamento da origem dos peixes.

De acordo com a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), duas mortes foram causadas pela rabdomiólise.


Foto: Secom – Paciente com Rabdomiólise em hospital de Itacoatiara

 

Trânsito violento

O trânsito de veículos, de novo, foi um problema que vitimou fatalmente centenas de cidadãos no Amazonas.

Até outubro, 280 pessoas perderam suas vidas nas ruas.

Imprudência e álcool seguem como protagonistas nas ações de motoristas que provocam tragédias.

morte de uma mulher e a da enteada dela no Bairro Japiim, em agosto, chocou a capital.

Um caminhão bateu na traseira do carro delas, que estava parado no semáforo.

As vítimas e o veículo foram esmagados na traseira de um outro caminhão.

O motorista que causou o acidente alegou falha nos freios, mas meses depois a perícia técnica descartou o problema.


Foto: Reprodução/Internet – Acidente grave matou na hora mulher e enteada, em Manaus

Em dezembro, um gari foi morto após um micro-ônibus tombar em cima dele, que trabalhava na rua, no Distrito Industrial, Zona Sul de Manaus.

O causador do acidente, segundo testemunhas, teria sido o condutor de um caminhão que bateu no micro-ônibus.

Após teste do bafômetro, a polícia constatou que o motorista do caminhão estava alcoolizado.

 

Caso Lucas

Era início da noite do dia 1º de setembro quando o assassinato do militar Lucas Guimarães, na cafeteria dele, localizada na Avenida Ayrão, bairro Praça 14, na Zona Sul, dava início a uma sequência de fatos que revelaram um suposto crime passional.

Lucas era casado, pai de um menino e de uma criança que ainda não nasceu.

Jordana Freire é casada com Joabson Gomes, dono do Supermercado Vitória.

Durante investigações da polícia, ficou constatado que Lucas e Jordana mantiveram relação extraconjugal até poucos dias antes do crime.


Foto: Reprodução – Lucas Guimarães, Jordana Freire e o marido, Joabson Gomes

A suspeita do assassinato recai sobre o marido dela, Joabson, que teria descoberto a traição e contratado uma pessoa para matar Lucas.

Os pais de Lucas ofereceram R$ 40 mil para quem desse pistas sobre o assassino do filho.

Meses depois, a polícia conseguiu chegar ao homem que aparece nas imagens das câmeras da cafeteria de Lucas atirando nele.

É revelado que a morte de Lucas foi encomendada por R$ 65 mil e intermediada por uma outra pessoa, que ainda não está presa.

Jordana e Joabson chegaram a ficar detidos, mas um habeas corpus garantiu, até a data da publicação desta reportagem, a liberdade do casal.

O caso segue sendo investigado.

 

Garimpo Ilegal

No final de novembro, uma verdadeira vila de balsas e dragas no Rio Madeira surpreendeu o Amazonas e o mundo.

Próximo à comunidade de Rosário, no município de Autazes, a 113 Km de Manaus, as embarcações eram usadas por garimpeiros para extração de ouro.

O episódio, totalmente ilegal, repercutiu internacionalmente e chamou atenção sobre a prática criminosa que impacta gravemente rios, meio ambiente e seres humanos.

Dias depois, a Operação Uiara, da Polícia Federal, Ibama, Marinha e Aeronáutica combateu o garimpo ilegal.

Ao menos 31 balsas foram apreendidas e destruídas e equipamentos foram queimados, além da apreensão de porções de ouro e mercúrio.


Foto: Reprodução/Ipaam – Embarcações flagradas em atividade ilegal de garimpo

No mesmo período, foi descoberto que o general Augusto Heleno, ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência, autorizou o avanço de sete projetos de exploração de ouro na região de São Gabriel da Cachoeira, em um lugar conhecido como Cabeça do Cachorro. Na região, há 23 etnias indígenas.

Pouco mais de um mês depois, o cancelamento dessas autorizações foi publicado no Diário Oficial da União, no dia 27 de dezembro. O general Augusto Heleno assinou o ato.

Em nota, o GSI, comandado por Heleno, afirma que o cancelamento ocorre depois de o órgão receber ‘novas informações técnicas e jurídicas’.

A Funai (Fundação Nacional do Índio), o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e a ANM (Agência Nacional de Mineração) teriam indicado em diferentes ofícios que as áreas garimpadas estão “nos limites” de terras indígenas.

 

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