Um estudo publicado na revista Scientific Reports, liderado pela pós-doutoranda Patricia Carignano Torres, investigou a relação entre a ingestão deste tipo de alimento e a prevalência de anemia em crianças de seis meses a cinco anos de idade na Amazônia Central brasileira.

A pesquisadora faz parte do Programa de Pós-Graduação em Modelagem de Sistemas Complexos da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

Os resultados mostraram que se alimentar de modo mais frequente de carnes de paca, anta, porcos-do-mato e aves, por exemplo, está associado a uma maior concentração de hemoglobina no sangue – o que confere uma proteção parcial a essa população.

Contudo, os pesquisadores alertam que essa não deve ser a única solução para eliminar a anemia. Investimentos em saúde, saneamento e educação também foram recomendados. 

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Participaram do estudo 610 crianças de 1.111 domicílios localizados até 250 quilômetros (km) de distância do centro urbano mais próximo.

Os pais ou responsáveis responderam a um questionário sobre saúde e hábitos de consumo.

Além disso, foi feito um teste da concentração de hemoglobina no sangue para verificar a presença ou não de anemia.

Papel protetor

Nas comunidades ribeirinhas, quatro em cada cinco crianças de um a dois anos de idade comem carne de caça com mais frequência e cerca de um terço delas eram anêmicas.

Na cidade, são duas em cada cinco e, nos domicílios rurais, a ingestão pode ser até quatro vezes maior.

Níveis elevados de hemoglobina foram associados a um maior consumo de carne de animais terrestres.

O papel protetor desta proteína parece ocorrer apenas em domicílios vulneráveis, que são aqueles que comumente possuem os piores indicadores de saúde.

Já em comunidades ribeirinhas, onde a dieta também é composta de peixes, a proteção contra a anemia foi parcial.

A carne é fonte de ferro e a deficiência deste nutriente é a principal causa de anemia e de incapacidade em crianças menores de cinco anos no mundo.

Essa deficiência prejudica o desenvolvimento físico e mental, afetando a saúde e o bem-estar da infância até a vida adulta.

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Manejo sustentável

A pesquisa aponta que uma estratégia mais viável seria investir na promoção do manejo sustentável da fauna, realizado pelas próprias comunidades rurais ribeirinhas.

Isso poderia garantir a conservação de animais caçados e, ao mesmo tempo, prover o acesso a fontes de proteína animal ricas em ferro às populações vulneráveis da região.

Apesar disso, o acesso à carne de caça não deve ser encarado como a solução única para eliminar a anemia nessas populações.

Segundo o estudo, é preciso também investir em saúde, saneamento básico e educação, já que os ribeirinhos da Amazônia sofrem de uma série de outras carências que interagem com esse problema.

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