Uma nova pesquisa sobre macacos rhesus no Centro Nacional de Pesquisa de Primatas Tulane, na Louisiana (EUA), mostrou que o coronavírus pode infectar o tecido do trato genital masculino.

A descoberta sugere que sintomas como disfunção erétil relatados por alguns pacientes com Covid-19 podem ser causados diretamente pelo vírus, não pela inflamação ou a febre que geralmente acompanham a doença.

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A pesquisa demonstrou que o coronavírus infectou a próstata, o pênis, os testículos e os vasos sanguíneos circundantes em três macacos rhesus. Eles foram examinados com varreduras de corpo inteiro especialmente projetadas para detectar locais de infecção.

Os cientistas – que esperavam encontrar o coronavírus em pontos como os pulmões, mas não sabiam onde mais o encontrariam – ficaram um tanto surpresos com a descoberta.

“O sinal que se destacou para nós foi a disseminação completa pelo trato genital masculino”, disse Thomas Hope, principal autor do artigo e professor de biologia celular e do desenvolvimento da Escola de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, em Chicago. “Não tínhamos ideia de que o encontraríamos lá.”

Quando sua equipe analisou inicialmente uma imagem digitalizada do primeiro animal, uma das cientistas perguntou: “De que sexo era o animal mesmo?”, disse Hope.

“Eu disse: ‘Acho que é fêmea’. E ela disse: ‘Acho que não é fêmea’. Desci até a parte inferior da imagem, que estava quase cortada, e os testículos estavam bem iluminados. O sinal no pênis estava fora do radar”, disse Hope.

O artigo se baseou em descobertas em apenas três macacos, mas as conclusões foram consistentes, disse Hope. O estudo ainda não foi revisado por pares para publicação em uma revista e foi publicado na segunda-feira, 28, no site bioRxiv.

O trabalho foi realizado no Centro Nacional de Pesquisa de Primatas Tulane, na Louisiana. Os pesquisadores não sabem se os macacos apresentavam sintomas correspondentes à infecção viral do trato genital masculino, como baixos níveis de testosterona, baixa contagem de espermatozoides, dor ou disfunção sexual, disse Hope.

Cerca de 10% a 20% dos homens infectados com o coronavírus apresentam sintomas ligados à disfunção do trato genital, relataram estudos.

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Homens infectados com o vírus são três a seis vezes mais propensos do que outros a desenvolver disfunção erétil, que se acredita ser um indicador de longa duração da Covid-19.

Os pacientes também relataram sintomas como dor testicular, contagem reduzida de esperma e redução da qualidade do esperma, diminuição da fertilidade e hipogonadismo, uma condição na qual os testículos produzem quantidades insuficientes de testosterona, levando a baixo desejo sexual, disfunção sexual e redução da fertilidade.

Outros vírus são conhecidos por afetar a fertilidade, observou Hope. “A caxumba é mais famosa historicamente, por causar esterilidade”, disse. “O vírus Zika vai para os testículos e os infecta, e o Ebola também pode fazer isso.”

Embora uma pequena fração dos homens sofra tais complicações após a infecção por coronavírus, milhões podem sofrer problemas de saúde sexual e reprodutiva após a pandemia, simplesmente porque o vírus infectou tantas pessoas em todo o mundo, alertou Hope.

Imagem: Reprodução/Madden et al., 2022/BioRxiv – Na imagem da autópsia, os pontos verdes indicam a presença do coronavírus no plexo pampiniforme e no escroto dos macacos infectados

Thomas Hope pede aos homens que se vacinem e procurem uma avaliação médica se estiverem preocupados com sua saúde sexual ou reprodutiva.

A tomografia por emissão de pósitrons usada no novo estudo foi projetada para identificar os locais de infecção por coronavírus em animais vivos. A tecnologia possibilita fazer varreduras repetidas e sequenciais de um animal, rastreando como o vírus percorre o corpo e como é eliminado.

Agora Hope pretende determinar se os testículos são um reservatório para o coronavírus, hipótese levantada por alguns cientistas. Ele também analisará se o vírus infecta tecidos no sistema reprodutivo feminino.

A esperança é usar as informações para desenvolver tratamentos que mitiguem o efeito da pandemia na fertilidade. As varreduras também podem detectar a localização do vírus nos pacientes e adaptar os tratamentos adequadamente.

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