Mirella Archangelo teve um primeiro e único encontro com a jornalista Glória Maria há seis anos em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Ela ficou conhecida como a “Mini Glória Maria”, ao brincar de ser repórter denunciando as ruas esburacadas do Parque Industrial Avelino Alves Palma, na periferia do município paulista.

Ganhou uma bolsa integral em um dos colégios mais tradicionais da região e tem asfalto na porta de sua casa.

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“Desde aquela reportagem a minha vida mudou em todos os sentidos. Infelizmente, não tive a oportunidade de encontrá-la novamente para contar tudo e também agradecer”, observa.

“Ela foi e sempre será uma pessoa importante para mim. Pensar que é possível chegar aonde ela chegou é um estímulo.”

Em uma entrevista ao F5, a jovem de 16 anos revela que queria contar para Glória Maria que a indecisão entre Letras e Jornalismo acabou no mesmo dia do encontro.

“Ela me mostrou que eu poderia ser jornalista e que essa era a função que eu teria nesse mundo para poder me expressar”.

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A mudança na vida de Mirella

Mirella recebeu a notícia da morte de Glória Maria, vítima de câncer, através de sua mãe, que soube pela televisão logo pela manhã, na quinta-feira (2).

“Fiquei bem triste. Glória era uma referência como mulher, mulher negra e profissional. O legado que ela deixou de como usar o jornalismo para evidenciar os problemas sociais é o que mais me marcou. É isso que eu quero fazer”, conta.

A jovem diz que seu maior desafio hoje é ter condições financeiras para manter seu ritmo de aprendizado e vencer o vestibular.

“Eu estou focada, tenho bolsa de 100% em um colégio particular, mas minha família fica com todo restante do custo, materiais, transporte, alimentação. E como eu não sou filha única, ainda tenho três irmãos para quem minha família tem que garantir os estudos”, diz Mirella.

A estudante chegou a ser convidada algumas vezes para ser apresentadora de eventos.

“Tive a oportunidade de aprimorar, de aprender com diversas pessoas, inclusive ela, [ampliando] meu ponto de vista sobre liberdade de expressão, sobre o que é ser jornalista, de como é uma carreira linda e que pode ajudar tantas pessoas”, diz.

A fama e o espaço conquistado na mídia, segundo Mirella, pode ser melhorado, demonstrando que seu potencial para ser uma ótima jornalista é mesmo real.

“As pessoas me procuram muito em novembro, mês da Consciência Negra, e é para falar sobre racismo, porque sou uma menina negra da periferia, mas, apesar de ser um ponto que gosto, que busco estar ativa, não sou só isso. Também gosto de discutir muito sobre outras pautas que não sou reconhecida para ter lugar de fala. Eu adoro ler, por exemplo, gosto de discutir sobre livros, filmes”, reconhece.

Mirella revelou ter acompanhado a luta que Glória Maria travou contra a doença, descoberta em 2019.

Pensou em mandar uma mensagem pelas redes, mas achou que poderia incomodar e preferiu rezar e torcer por uma recuperação.

“Glória era uma mulher reservada e aí fiquei receosa de escrever para ela. É triste pensar que uma pessoa que você tanta admira morreu assim. É como se você perdesse um reflexo, sabe? Quando a conheci, ela me ensinou a como segurar um microfone, me ensinou a ter postura e a saber falar. São ensinamentos que eu nunca vou esquecer. Ela era incrível”, finaliza.

Relembre o vídeo de Mirella com Glória Maria: