Depois de 11 anos carregados de sofrimento e de luta para “blindar” o neto da realidade dos acontecimentos envolvendo o próprio pai, a mãe da modelo Eliza Samúdio, Sônia Moura, voltou a sentir dores da ferida nunca cicatrizada. Ela garante que não vai deixar que a filha continue sendo vítima de outros crimes.

Em Manaus, um homem participou de uma festa de Halloween em uma casa de shows na Zona Oeste usando camisa rubro-negra e segurando um saco de lixo com os respectivos nomes Bruno e Eliza nos itens. 

A alusão é ao crime que vitimou Eliza Samúdio, assassinada em 2010 a mando do ex-goleiro do Flamengo Bruno e com quem teve um filho, chamado pela família de Bruninho. O corpo de Eliza nunca foi encontrado. Bruno e outros envolvidos foram condenados pela Justiça. O goleiro já cumpre pena em regime aberto.

Sônia vive com o neto no estado do Mato Grosso do Sul, onde o menino estuda e pratica esportes.

Na manhã desta quarta-feira, 3, ela concedeu entrevista exclusiva ao telejornal Norte Notícias, da TV Norte Amazonas. O apresentador Alex Costa foi quem entrevistou a mãe de Eliza.

Durante a conversa, ela falou sobre o caso envolvendo a fantasia de Halloween, os onze anos depois do crime, a criação do neto e também sobre sonhos que tem com a filha.


Foto: Reprodução/Instagram – Casa de shows em Manaus divulgou a imagem durante festa de Halloween

Crime relembrado em Halloween

Sônia disse que teve acesso ao conteúdo envolvendo um tatuador de Manaus na manhã de terça, 2, ao acordar. O homem foi para uma festa de Halloween com roupa e itens que recordam o que teria acontecido com Eliza Samúdio.

“Eu tive acesso às imagens e pra mim foi muito triste ver minha filha sendo retratada como um lixo. É uma coisa que doeu bastante, estou extremamente abalada”, disse emocionada.

Ainda sobre o episódio, ela falou do neto Bruninho e do esforço dobrado para deixá-lo longe do que relembra o que aconteceu com a mãe. 

“Não me passa na cabeça como um ser humano não se solidariza com a dor do próximo, ainda mais tendo nessa história o envolvimento do meu neto, que é uma criança de 11 anos, um menor”, lamentou.

 

Processo e apoio do Ministério Público

Sônia Moura disse que um advogado já está cuidando da situação e vai processar o autor da fantasia. Também informou que vai atrás de quem estiver envolvido na divulgação do conteúdo. Ela pediu o apoio do Ministério Público do Amazonas (MP-AM).

“Eu quero fazer um pedido ao Ministério Público do Amazonas para que investigue responsabilidades. Que cada um pague pelos seus atos. Os direitos do meu neto já foram muito violados, por isso quero que o MP-AM acate meu pedido, faça investigação e responsabilize cada um pelos seus atos”, afirmou.

 

Sonhos com Eliza

Sônia revelou que tem sonhos com a filha. Para ela, esses momentos sempre antecedem um fato novo envolvendo Eliza, é como se os mesmos avisassem algo e a faz refletir sobre o por quê.

“Há três dias tive um sonho com a Eliza, ela me mostrava vários papéis em branco. Antes mesmo do desaparecimento dela, antes do crime, eu tenho sonho com ela. Toda vez que eu sonho [com Eliza] algo acontece. Não sei como posso definir isso, mas é algo que acontece”, revelou.

 

Verdade revelada e psicologia

O menino Bruninho já tem ciência da história da mãe. A internet e a escola são desafios em meio ao turbilhão de informações que chegam até ele. Apesar disso, Sônia conta que desde que o crime veio à tona, antes mesmo do neto estar com mais idade, ela e ele têm acompanhamento psicológico. De acordo com a avó, esse trabalho é fundamental para a família seguir enfrentando a realidade.

“Tanto ele quanto eu temos tratamento psicológico. A psicóloga conversa com ele e eu também o chamei para conversar e expliquei o que tava ocorrendo [quando Bruninho soube do crime]. A orientação minha e da psicóloga é que qualquer comentário sobre isso na escola e em qualquer lugar, o importante é dizer que não quer conversar sobre o assunto e quem trata disso é advogado e a Justiça”, declarou a avó.

 

11 anos sem Eliza

A mãe de Eliza falou emocionada sobre o tempo sem a filha e o fato de nunca ter velado o corpo dela ou saber o que de fato foi feito após a morte da modelo. Ainda assim, ela se define mais forte após 11 anos e diz que canaliza forças para a criação do neto.

“Eu sou Sônia que vive a dor da perda da filha, mas vivo muito em função do meu neto, em função de criar meu neto sendo homem de caráter. Posso dizer que hoje eu não sou a Sônia de 11 anos atrás, eu sou uma Sônia que em momentos de dor me sinto abalada, mas eu tenho uma força que lá no início não tinha. Eu tenho a mídia do meu lado, que me ouve e que me ajuda”, falou.

 

Bruninhos pelo Brasil

Sônia fez questão de lembrar durante a entrevista que o crime cometido contra a filha também acontece em muitos outros lugares do país. Ela falou de injustiças para quem não tem apoio como a família dela consegue ter.

“Existem tantas outras crianças que não têm apoio psicológico, que não têm Ministério Público pra acompanhar essas crianças. Quantos bruninhos existem por aí, hoje em dia, e estão sendo esquecidos pela nossa Justiça? São muitos. Eu ainda tenho a mídia que me dá voz, e essas crianças por aí? É triste viver a situação de hoje de injustiça no nosso país”, lembrou.

 

Pensão e carro de luxo

Há poucos dias, uma concessionária de veículos do interior do Rio de Janeiro, onde vive o goleiro Bruno, publicou uma foto dele ao lado de um carro seminovo de luxo, avaliado em R$ 80 mil, e que teria sido comprado pelo atleta. Bruno não paga e deve pensão a Bruninho.

Sônia resume a situação apenas com lamento e cobra a Justiça sobre o assunto.

“Esperar que o Ministério Público se pronuncie, a Justiça que tem que ir atrás. Espero que a Justiça também tome posicionamento em relação a isso”, disse.

 

Goleiro Bruno

Questionada sobre sentimento em relação ao goleiro Bruno, Sônia desacelera a fala e diz que o pensa.

“Eu não tenho ódio. A única coisa que eu sinto em relação ao Bruno é a dor. Às vezes me perguntam sobre o arrependimento do Bruno [ele declarou se arrepender do crime]. Eu acredito que o arrependimento se dá com mudanças e quando você ver arrependimento onde não tem mudança é por que não tem arrependimento. E é isso que eu consigo enxergar no Bruno, hoje”, ressalta.

 

Bruninho

Sobre o neto, Sônia se entusiasma ao falar da criação e das alegrias que Bruninho vem dando. O esporte é uma prática presente na vida dele. A avó tentou levar o menino para o caratê, mas, aos nove anos, Bruninho falou do desejo de praticar futebol. Segundo Sônia, num primeiro momento foi difícil para ela aceitar.

“Houve uma conversa muito profunda com a psicóloga porque eu não aceitava essa ideia. Mas poucas pessoas sabem da história da minha filha, minha filha foi goleira por 10 anos no futsal. E o Bruninho tem se saído assim em dois anos, a evolução dele é muito grande. Ele é um menino que com 11 anos tem 1,70m, calça 41, e sábado, 30, foi uma grande alegria na escolhinha ele fazer um gol oficial. Ele treina muito e é uma alegria ver meu neto jogando e fazendo o que ele gosta, feliz”, concluiu.

 

Foto: Reprodução – Bruninho e a avó

 

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