A segunda e última noite de desfiles das principais escolas de samba do Rio de Janeiro começou às 22h de segunda-feira (20) e terminou às 5h45 desta terça-feira (21).
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Os destaques da noite foram Unidos de Vila Isabel, Imperatriz Leopoldinense, Beija-Flor e Viradouro.
Não faltaram luxo, emoção, torcida e lamentação.
Paraíso do Tuiuti
A Paraíso do Tuiuti abriu os trabalhos com uma exibição simples, mas competente e provavelmente capaz de mantê-la na elite.
A primeira escola exaltou o estado do Pará a partir da história da chegada dos búfalos à ilha.
Penúltima colocada no concurso de 2022, a escola queria se manter na elite, e certamente atingiu esse objetivo.
Ela fez um desfile correto, em vários aspectos superior a escolas tradicionais como Mocidade Independente de Padre Miguel e Portela, que tiveram problemas com carros alegóricos e vão perder pontos por isso.
As fantasias e alegorias da Tuiuti eram simples, comparadas à oponência de Salgueiro ou Grande Rio.
Mas o enredo foi muito bem contado, como é praxe no trabalho da consagrada carnavalesca Rosa Magalhães, maior vencedora de desfiles na “era sambódromo”, como é chamado o período a partir de 1984, quando a atual passarela do samba foi inaugurada.
Rosa divide a função de carnavalesca da Tuiuti com João Victor Araújo.
O desfile começou contando a importância dos búfalos na Índia e o comércio de especiarias e outros produtos indianos com o mundo Aí chegou ao Pará, porque no século XIX um navio saiu da Índia rumo à Guiana Francesa levando especiarias e búfalos, mas naufragou na costa brasileira e só os animais sobreviveram.
Eles chegaram à ilha de Marajó e se tornaram um símbolo dela, servindo como atração turística, montaria para a polícia e fornecedores de leite, por exemplo.
Tudo isso foi narrado durante o desfile, com fantasias coloridas e um samba com refrões fáceis de cantar.
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Portela
A Portela, alvo da maior expectativa da noite, fez um desfile histórico, mas teve um carro quebrado e problemas suficientes para impedir que ela retorne no desfile das campeãs.
O segundo desfile da noite foi da Portela, cuja apresentação era a mais esperada da noite.
A escola de Madureira (zona norte do Rio), recordista de títulos no carnaval carioca (22), comemora seu centenário neste ano e contou sua própria história na avenida.
A escola não era considerada grande candidata ao título, porque houve dificuldades na preparação do carnaval, mas havia expectativa de uma apresentação inesquecível e da volta no desfile das campeãs.
Mas o terceiro carro alegórico teve problemas desde o início da exibição e quebrou pouco antes da primeira cabine de jurados.
Chegou a bater na grade que separa as frisas da pista, e causou a abertura de um espaço de aproximadamente cem metros na pista (que tem 700 metros).
Isso vai gerar perda de pontos e tornou muito improvável que a Portela consiga voltar entre as campeãs.
De toda forma, o desfile foi histórico pelo enredo e pelas homenagens.
O que não faltou foram celebridades e personagens históricos da escola, como Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Marisa Monte, Diogo Nogueira, Luiza Brunet e Adriane Galisteu.
Uma novidade foi um conjunto de drones que formaram no céu palavras ou expressões como “Portela”, “100 anos”, “Monarco” e “Clara”, esta referência à cantora portelense Clara Nunes.
Unidos de Vila Isabel
A terceira escola a desfilar foi a Unidos de Vila Isabel, de novo sob as ordens do carnavalesco Paulo Barros.
Ele apresentou festas religiosas pelo Brasil e pelo mundo, um enredo simples, expresso em alegorias e fantasias muito luxuosas e de fácil compreensão.
Foi o primeiro desfile que a escola faz sob a gestão do presidente Luizinho Guimarães, filho de Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, contraventor e um dos fundadores da Liga Independente das Escolas de Samba.
Ele é figura constante nos desfiles da Sapucaí e iria desfilar junto com o cantor e compositor Martinho da Vila, presidente de honra da escola.
Mas desde dezembro Guimarães cumpre prisão domiciliar, sob acusação de ter mandado matar o pastor Fábio Sardinha, assassinado em junho de 2020.
Então, restou ao filho Luizinho dedicar o desfile ao pai: “isso acaba trazendo mais motivação ainda pra poder entregar esse título pra ele. Sei que ele vai ficar orgulhoso vendo a Vila em casa”, afirmou.
Questões policiais à parte, a Vila fez um excelente desfile, digno dos melhores momentos de Paulo Barros, e deve voltar entre as campeãs – e talvez encerre o desfile, como campeã do ano.
Imperatriz Leopoldinense
A quarta escola a desfilar foi a Imperatriz Leopoldinense.
Na estreia da segunda passagem do carnavalesco Leandro Vieira (ele já havia trabalhado na escola em 2020, quando a Imperatriz disputou e venceu o concurso da segunda divisão), a escola contou a morte de Lampião e a tentativa dele de ingressar no inferno e no céu.
Recusado em ambos, acabou indo… desfilar na Imperatriz.
A história pode soar fantástica demais, mas foi muito bem contada pela escola de Ramos (zona norte do Rio), que esbanjou luxo em fantasia e alegorias.
Beija-Flor
A Beija-Flor foi a penúltima escola a desfilar e levou um susto a poucos minutos do início de sua apresentação: o carro abre-alas sofreu um princípio de incêndio quando faíscas atingiram material inflamável.
Mas o problema foi sanado antes de o desfile começar, então não causou reflexos na avenida.
Apenas o susto de um integrante, Edson Gouveia, que iria desfilar na plataforma atingida pelo fogo. Recomposto, ele foi reintegrado ao carro alegórico.
Resolvido esse problema, a Beija-Flor falou sobre os 200 anos da expulsão das tropas portuguesas da Bahia, que ocorreu em 1823 e consolidou a independência brasileira – a escola defendeu a ideia de que essa foi a verdadeira independência do Brasil.
Com carros alegóricos e fantasias muito luxuosas e a habitual disposição dos desfilantes, que não pararam de cantar o samba interpretado por Neguinho da Beija-Flor em parceria com Ludmilla.
Unidos do Viradouro
Coube à Unidos do Viradouro, de Niterói (região metropolitana do Rio), encerrar a segunda noite de desfiles das escolas de samba do Rio.
A agremiação homenageou Rosa Maria Egipcíaca (1719-1771), africana que aos 6 anos de idade foi escravizada e trazida ao Brasil.
Inicialmente obrigada a fazer serviços domésticos, depois ela foi vendida a donos de minas de ouro, que passaram a explorá-la sexualmente.
Como tinha sonhos e visões que se concretizavam, passou a ser considerada bruxa pela Igreja Católica, embora cultuada pelo povo.
Foi presa em um convento no Rio, onde aprendeu a ler e escreveu um livro autobiográfico – o primeiro livro escrito por uma mulher negra no Brasil.
Com alegorias muito bem trabalhadas, fantasias luxuosas e desfilantes muito animados, a escola encerrou sua exibição já sob os primeiros raios de sol, aos gritos de campeã.