Em seu primeiro discurso no G20 enquanto ministro da Fazenda, Fernando Haddad disse a demais ministros de Finanças, nesta sexta-feira (24), que o governo federal prioriza a retomada brasileira em cenário diplomático internacional.

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Durante sua fala de boas-vindas em Bangalore, na Índia, Haddad afirmou que a gestão do presidente Lula herdou um cenário diplomático problemático.

“O Brasil estava isolado, ausente e em desacordo com seus valores e tradições”, disse o gestor.

Como o Brasil preside o grupo do G20 a partir de 2024, o ministro da Fazenda também ressaltou em sua fala que o governo Lula considera o G20 central para fortalecer o multilateralismo.

Também na comitiva brasileira está o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em aceno aos bancos multilaterais de desenvolvimento, Haddad falou da importância de promover reformas.

“[Reformas] para apoiar os países em desenvolvimento com financiamento de longo prazo, [com] taxas de juros adequadas e estruturas inovadoras para reduzir riscos, estimular parcerias público-privadas e atrair investimentos privados”, disse.

No fim, o ministro da Fazenda cobrou os países ricos o compromisso feito durante o Acordo de Paris e durante as COPs de 2021, em Glasgow, e de 2022, no Egito.

“É fundamental que os países desenvolvidos cumpram os compromissos estabelecidos pelo Acordo de Paris e a ambição declarada em Glasgow e no Egito, incluindo o aumento de recursos para mitigação e adaptação”, disse.

O ministro ainda enfatizou o desafio do novo governo em questões ambientais para os próximos anos.

“No caso brasileiro, gostaria de destacar o compromisso renovado do presidente Lula de acabar com o desmatamento até 2030”, finalizou.

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Agenda de Haddad no G20

Ainda nesta sexta (24), Fernando Haddad participou de encontros bilaterais, aqueles feitos, geralmente, em portas fechadas entre autoridades de dois países.

O ministro da Fazenda esteve com representantes da Alemanha, da Argentina, da África do Sul e da União Europeia.

Também estava na agenda encontros bilaterais com a França e a Índia, mas por divergências de compromissos as reuniões foram canceladas.

Durante o almoço na Índia, um vídeo que circula na internet mostra Haddad e Roberto Campos Neto em clima amistoso, em meio às tensões entre governo federal e do Banco Central.

No dia 16 de fevereiro, os dois já haviam se encontrando pessoalmente, acompanhados da ministra do Planejamento, Simone Tebet, em um almoço antes da 1ª reunião do Conselho Monetário Nacional.

Fernando Haddad finaliza a agenda no encontro do G20 com um jantar de encerramento e depois retorna ao Brasil.

O ministro chega ao país na noite de sábado (25), pelo horário de Brasília.

Discurso de Haddad na reunião do G20 na íntegra

“Gostaria de saudar o governo indiano pelo magnífico trabalho na organização de sua Presidência [da cúpula do G20]. Saúdo também os Ministros das Finanças, os gestores dos Bancos Centrais e os representantes dos países e organismos internacionais. Esta é minha 1ª participação em uma reunião do G20 e estou ansioso para ter um contato mais próximo com vocês.

“Herdamos um cenário diplomático problemático. O Brasil estava isolado, ausente e em desacordo com seus valores e tradições. Agora, vamos reconstruir nossa presença internacional. Os assuntos econômicos e financeiros são uma parte crucial desse esforço. No caminho para a Presidência [do G20] em 2024, trabalharemos com este grupo para promover entendimentos baseados na inclusão e em um futuro sustentável para os povos e nações.

“O governo do presidente Lula considera o G20 central para fortalecer o multilateralismo. Em 2008, o grupo conseguiu se coordenar para enfrentar a crise financeira e traçar um caminho de recuperação.

“Hoje, enfrentamos vários desafios interligados, crises multidimensionais, consequências da pandemia, guerras, conflitos, aumento da pobreza, desigualdades e obstáculos ao abastecimento de alimentos e energia limpa a preços acessíveis. Nesse contexto, o aumento do diálogo entre as maiores economias é importante, mas não suficiente. Precisamos de ações com resultados concretos.

“Concordamos com as prioridades propostas pela presidência indiana. Mantendo o foco na prosperidade compartilhada e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), devemos aprofundar as discussões sobre reformas nos bancos multilaterais de desenvolvimento que reforcem seu papel de formar parcerias e canalizar recursos para lidar com o clima, alimentação e pobreza. Essas instituições devem ser bem capitalizadas e flexíveis para apoiar os países em desenvolvimento com financiamento de longo prazo, taxas de juros adequadas e estruturas inovadoras para reduzir riscos, estimular parcerias público-privadas e atrair investimentos privados. Também é importante que avancemos nas propostas de mobilização de recursos adicionais que estão sobre a mesa.

“Estamos preocupados com os níveis de endividamento, principalmente entre os países mais pobres. A elevação dos juros em meio à fragilidade da economia mundial agravam o cenário. Devemos continuar o trabalho que está sendo realizado no Marco Comum e outros esforços de coordenação coletiva. Ter mecanismos para uma reestruturação ordenada e oportuna é do interesse de credores e devedores.

“A Presidência indiana deve ser elogiada por suas prioridades em finanças sustentáveis e infraestrutura urbana. O Brasil defende que os debates considerem as especificidades, em particular as dos países em desenvolvimento e emergentes, que têm diferentes desafios e prioridades econômicas e sociais. O financiamento climático é mais caro e apresenta taxas de risco mais altas para esses países, o que dificulta o alcance das metas de redução de emissões de carbono.

“É fundamental que os países desenvolvidos cumpram os compromissos estabelecidos pelo Acordo de Paris e a ambição declarada em Glasgow e no Egito, incluindo o aumento de recursos para mitigação e adaptação. No caso brasileiro, gostaria de destacar o compromisso renovado do presidente Lula de acabar com o desmatamento até 2030.

“Na infraestrutura, os investimentos nas cidades são fundamentais para apoiar um desenvolvimento equilibrado e inclusivo, baseado em soluções sustentáveis de baixo carbono e que respeitam a natureza. Como ex-prefeito da maior cidade do Brasil, saúdo a Índia por buscar soluções centradas na cidade. Você pode contar com o nosso apoio.

“Passo a palavra ao Banco Central.”