Quatro indígenas da etnia Tembé foram atingidos por disparos de armas de fogo em Tomé-Açu, no Pará, entre a última sexta-feira (4) e essa segunda (7).

Um deles está internado em estado grave. O conflito acontece a 200 quilômetros de Belém, onde tem início, nesta terça (8), a Cúpula da Amazônia.

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Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Igreja Católica, houve um primeiro ataque na sexta, na Aldeia Bananal.

Aconteceu quando o indígena Kauã Tembé, de 19 anos, foi baleado por seguranças de uma empresa exportadora de óleo de dendê.

O ataque dessa segunda-feira aconteceu durante os preparativos para o recebimento da comitiva do Conselho Nacional de Direitos Humanos.

O Conselho foi para a região apurar o ataque ao indígena e avaliar o risco de conflito em Tomé-Açu.

Conforme a CPT, houve reação de seguranças privados da empresa. Duas mulheres e um homem foram atingidos por disparos.

“Em razão de estar filmando a ação, Daiane Tembé foi o principal alvo, atingida no pescoço e no maxilar. Neste momento, está sendo levada para Belém, por meio de UTI aérea. Os demais estão recebendo atendimento médico. Ainda há dois desaparecidos”, relatou a CPT em comunicado assinado por lideranças indígenas e pela Comissão de Direitos Humanos da OAB do Pará.

Protestos na Cúpula

Um protesto contra os ataques acontecia enquanto os chefes de estado da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (Otca) chegavam para o encontro que discutirá o futuro da região.

Já participantes da Marcha dos Povos da Terra pela Amazônia, que ocupavam os arredores do Hangar – Centro de Convenções, onde seria iniciada a Cúpula da Amazônia, protestaram contra os ataques e cobraram providências.

Foto: Povos indígenas e movimentos sociais participaram de manifestação nas proximidades do Centro de Convenções Hangar, onde acontece a Cúpula da Amazônia, pedindo atenção às autoridades e chefes de estado presentes, nesta terça (8) – Foto: MATHEUS W ALVES/ESTADÃO CONTEÚDO

Também em protesto, manifestantes bloquearam a rodovia PA-140 queimando pneus e galhos em frente ao 48º Batalhão da Polícia Militar, em Tomé-Açu.

A estrada foi liberada durante a noite de segunda.

A CPT reforçou o risco de novos conflitos na região e pediu providências.

“Diante da gravidade da situação e destes recorrentes ataques, exigimos que sejam tomadas providências urgentes no sentido de investigar e apurar rigorosamente esses crimes, com a devida responsabilização dos culpados.”

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O que diz a segurança pública e a empresa

A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) do Pará informou ter reforçado o policiamento na região.

Conforme a pasta, foram tomadas providências para o esclarecimento do ocorrido.

“A Segup destaca que o policiamento na área foi reforçado e que as Polícias Civil e Militar estão em diligências para esclarecer os fatos e instaurar inquérito para investigar e identificar os suspeitos”, disse, em nota.

O Ministério Público Federal (MPF) no Pará informou que já requisitou à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar os ataques a indígenas em Tomé-Açu.

Também pediu providências ao governo do Estado para que o reforço policial enviado à região não agrave o conflito.

Segundo o MPF, comunidades indígenas denunciaram que o contingente ostensivo da Polícia Militar especializada passou a intervir de forma truculenta no local, junto com seguranças armados da empresa Brasil Bio Fuels – BBF.

Em nota, a BBF disse que os seguranças reagiram à ação dos indígenas que invadiram as instalações da empresa, destruíram edificações e queimaram equipamentos.

“O Grupo BBF (Brasil BioFuels) esclarece que o Polo de Tomé-Açu, propriedade privada da empresa, composto por Agrovila, Administração Geral e Áreas de Infraestrutura, foi novamente invadido e teve equipamentos incendiados e edificações destruídas.”

Na ação, segundo a empresa, 30 invasores armados ameaçaram e agrediram trabalhadores da empresa no local.

Isso tudo antes de incendiar dezenas de tratores, maquinários agrícolas e edificações da empresa.

“Em defesa, a equipe de segurança privada da companhia conseguiu conter a ação criminosa dos invasores e resguardar a vida dos trabalhadores que estavam no local.” A nota acrescenta que a empresa já tomou as medidas jurídicas cabíveis junto ao Poder Judiciário”, informou.