Um novo recorde foi registrado pela inflação na Argentina em abril, chegando a 109% no acumulado dos últimos 12 meses, o maior valor em quase 32 anos.

+ Envie esta notícia no seu WhatsApp

+ Envie esta notícia no seu Telegram

O aumento dos preços do país em um único mês (8,4%) representa o dobro do registrado em todo o último ano no Brasil (4,2%).

Os índices de preços ao consumidor de ambos os países foram divulgados nesta sexta-feira (12).

O Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censo) apresentou do lado argentino e lo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do lado brasileiro.

O número da nação vizinha ficou acima do esperado, mesmo que as expectativas já fossem de alta em relação a março.

Desde o início do ano, os argentinos convivem com uma inflação de três dígitos, o que significa que o valor do peso “derrete” rapidamente, dificultando a poupança.

O que mais puxou os custos foram os alimentos, afetados por uma seca histórica que comprometeu praticamente metade das colheitas dos principais produtos.

Seguido de roupas, restaurantes e hotéis que também registraram uma alta acima da média.

“Se gostou melhor levar logo, que esse é o último dia com esse preço”, diz a vendedora Cecilia Díaz, 58, mostrando uma calça verde à cliente em um brechó de Palermo, um dos bairros turísticos de Buenos Aires. A zona vive inundada por brasileiros recentemente, atraídos pelos baixos preços.

“A chave para entender a inflação argentina é basicamente o grande déficit fiscal. Com décadas de inflação e um mercado financeiro pequeno, o Estado não consegue emitir títulos suficientes para sanar o déficit, então começa a imprimir dinheiro, e seu valor cai”, diz o economista Fausto Spotorno, diretor da consultoria OJF e coordenador da escola de negócios da Universidade Argentina da Empresa (Uade).

Vale ressaltar que a inflação do último mês também foi pressionada por uma forte corrida cambial.

O dólar paralelo “blue”, que dita o dia a dia da Argentina, passou por uma escalada ininterrupta por 15 dias em abril e só baixou após fortes intervenções do governo peronista de Alberto Fernández.

RELACIONADAS

+ Lula diz que irá articular com o Brics para ajudar Argentina

+ Lula deve receber presidente da Argentina nesta terça em Brasília

+ Inflação na Argentina sobe para 98,8% na base anual de janeiro

Inflação na Argentina é notícia negativa

A notícia soou negativamente para o presidente da Argentina, por ser rodeada de polêmicas políticas.

O Indec anunciou na semana passada que adiaria a publicação do número para segunda (15), para evitar interferência nas eleições provinciais que acontecerão neste domingo (14) no país.

Entretanto, a medida foi considerada um favorecimento a candidatos governistas, e o instituto recuou.

O diretor Marco Lavagna manteve as datas estabelecidas um ano antes e, em nota, “lamentou que a intenção de separar o trabalho estatístico do processo eleitoral tenha sido mal interpretada”.

Com a subida os preços sem parar, o ministro da Economia, Sergio Massa, anunciou nesta semana mais uma leva de aumentos nas aposentadorias, pensões e benefícios sociais após 90 dias, assim como no piso para o pagamento do imposto de renda.

Se há um ano tinham que declarar imposto os que ganhavam acima de 225 mil pesos argentinos, agora só terão que declarar os que ganham acima de 506 mil (o equivalente a cerca de US$ 1.100 ou R$ 5.600 na cotação paralela).

O aumento é de 125%, portanto acima da inflação acumulada.

A Previdência e as bolsas dadas pelo governo às famílias de baixa renda também tiveram um incremento de 130%, acima da inflação no último ano – uma alta real de 7%, segundo Massa.

Com isso, um aposentado argentino ganhará a partir de 121.407 pesos em junho (US$ 260 ou R$ 1.300).

“Não é gasto, é investimento”, defendeu o ministro, pré-candidato à Presidência pelo setor mais kirchnerista do governo.

“Não é só para garantir o poder de compra dos aposentados, mas também pelo impacto que essas pessoas têm no mercado interno. A Argentina tem três motores da economia: mercado interno, exportações e investimento, e claramente o mercado interno é o pilar mais importante.”