A empresa farmacêutica Gilead Sciences anunciou recentemente um avanço significativo na luta contra o HIV com testes do medicamento antirretroviral lenacapavir.

Dos resultados do estudo clínico de fase 3 realizado na África, duas injeções anuais deste medicamento proporcionaram proteção total contra o vírus às mulheres participantes.

“Com zero infecções e 100% de eficácia, o lenacapavir demonstrou o seu potencial como uma nova ferramenta importante para ajudar a prevenir infecções de HIV”, afirmou o diretor médico da Gilead Sciences, Merdad Parsey, no anúncio dos resultados preliminares do teste na quinta-feira (20).

O estudo foi conduzido no Uganda e na África do Sul e envolveu mais de 5 mil adolescentes e mulheres com idades entre 16 e 25 anos. As participantes foram divididas em três grupos, recebendo diferentes medicamentos.

Das mulheres que receberam lenacapavir, nenhuma contraiu o vírus da aids. Em comparação, entre aquelas que tomaram diariamente a Truvada (há mais de uma década no mercado), 16 foram infectadas (1,5%), e das que receberam Descovy, uma nova pílula diária, 39 contraíram o vírus (1,8%).

Devido aos resultados positivos, um comitê independente recomendou a interrupção precoce do estudo clínico e a oferta do lenacapavir a todas as participantes, dada sua clara superioridade na proteção contra o HIV.

O resultado do estudo foi anunciado pela farmacêutica Gilead, no dia 20 de junho. Os dados do estudo ainda não foram submetidos à revisão por outros cientistas (revisão por pares).

Testes em diversos grupos populacionais

Além de testar a eficácia do antirretroviral lenacapavir em mulheres, a Gilead está realizando estudos em homens que fazem sexo com homens, homens e mulheres trans e indivíduos de gênero não binário em diversos países como Argentina, Brasil, México, Peru, Tailândia, África do Sul e Estados Unidos.

Os resultados desses estudos são esperados para o final de 2024 ou início de 2025.

Caso os resultados sejam positivos, a Gilead pretende disponibilizar o lenacapavir como Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) nos EUA até o final de 2025.

Nova alternativa à PrEP

A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é uma terapia recomendada para indivíduos com alto risco de contrair o vírus. O método consiste na ingestão diária de antirretrovirais. No Brasil, essa terapia é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2017, com a utilização de medicamentos combinados como tenofovir e entricitabina.

“O lenacapavir para PrEP, se aprovado, poderá fornecer uma nova opção crucial para a prevenção do HIV. Embora saibamos que as opções tradicionais de prevenção do HIV são altamente eficazes, se tomadas como o prescrito, o lenacapavir para PrEP pode ajudar a solucionar o estigma e a discriminação que alguns podem enfrentar ao tomar ou armazenar os comprimidos de PrEP, assim como potencialmente ajudar a aumentar a adesão a esse tipo de tratamento”, afirmou Linda Gail-Bekker, que participou dos estudos.

Embora as opções tradicionais de PrEP sejam altamente eficazes quando tomadas conforme prescrito, o lenacapavir pode ajudar a reduzir o estigma associado ao tratamento e aumentar a adesão entre grupos vulneráveis, como mulheres na África, onde a adesão à terapia é baixa.

A oferta da PrEP ao HIV na rede básica municipal em Manaus é disponibilizada em nove unidades da capital.

Custo do medicamento

Atualmente, o antirretroviral é comercializado pela Gilead por $42,250 dólares por paciente por ano nos EUA (aproximadamente R$ 229 mil).

Em resposta a apelos por maior acessibilidade, a empresa está explorando opções para permitir a produção de versões genéricas mais acessíveis do medicamento, para expandir o acesso em países com alta incidência de HIV e baixa renda.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dois terços das pessoas vivendo com HIV em todo o mundo estavam na África em 2022.

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*Com informações do G1