A futura presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, afirmou, na manhã desta segunda-feira (2), que quer autonomia política para a fundação e já conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o tema.

“Não quero interferência política, questões indígenas tem que ser voltadas para os povos indígenas, quero autonomia para os povos indígenas para ter um trabalho responsável”, destacou.

O discurso foi feito em reunião com servidores e representantes indígenas na sede da Funai, em Brasília.

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Joenia destacou outros dois pontos da conversa com o presidente Lula: destinação de mais recursos para a Funai e regulações internacionais para fortalecer os povos indígenas.

A nova gestora ressaltou ainda que vai ter a coletividade de não tomar decisões sozinhas, mas consultar outros povos e opiniões como principal instrumento para comandar a Funai.

“Eu não estou sozinha, é o meu jeito de trabalhar, gosto de discutir, gosto de conversar. Temos nossas diferenças, eu respeito isso, e quero trabalhar com essa diversidade.[…] Não quero conversa minha só com presidente, quero uma conversa minha com a presença das lideranças indígenas para ouvir dele o compromisso – não só com a Joenia, mas com povos indígenas”, ressaltou.

Joenia Wapichana também reconheceu que o trabalho não será fácil, pois irá comandar um órgão negligenciado durante o governo do presidente Jair Bolsonaro.

“Peço paciência, estamos pegando uma estrutura zerada, negligenciada, chutada muitas vezes e desprezada nesses quatro anos, não vai ser fácil, temos um orçamento pouco e vamos usar para retirar do buraco”, disse.

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A morte do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira foram mencionadas por Joenia, que se emocionou ao relembrar de Bruno.

“Não entendo até hoje porque mataram uma pessoa cumprindo uma obrigação, Bruno esteve na minha sala falando do perigo”, ressaltou.

Agora, Joenia Wapichana afirmou que suas primeiras ações serão para derrubar todos os atos anti-indígenas decretados durante o governo Bolsonaro.

Líderes de diversas etnias indígenas também discursaram e comemoraram a presidência de Joenia à frente da Funai.

Os representantes evidenciaram a invasão de terras indígenas, a ameaça do garimpo ilegal e o desmonte da fundação durante o governo anterior.

O cacique Raoni Metuktire – que participou da entrega da faixa presidencial ao presidente Lula – Sônia Guajajara, a ministra dos Povos Indígenas, e a deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG) também participaram do evento.

Indicação de Lula

Joenia Wapichana, a primeira deputada indígena eleita da história do Brasil, por Roraima, em 2018, foi indicada como presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) na última sexta (30) pelo presidente Lula.

No domingo, dia da cerimônia de posse de Lula e do vice-presidente, Geraldo Alckmin, Joenia participou de reunião com a secretária do Interior dos Estados Unidos, Deb Haaland.

O encontro foi para tratar sobre redes de colaboração entre os EUA e o Brasil em questões como gestão e proteção territorial, conservação da biodiversidade, saúde e acesso a serviços públicos, crimes ambientais e mudança climática.

Joenia Wapichana ainda não assumiu a presidência da Funai, ela foi indicada pelo presidente Lula, mas ainda não foi nomeada. A nomeação vai ocorrer após o fim do mandato da parlamentar na Câmara dos Deputados.

Trajetória de Joenia Wapichana

Desde os 22 anos, após se formar em Direito na Universidade Federal de Roraima (UFRR), em 1997, já participava da discussão da demarcação de terras indígenas.

Joenia Wapichana foi a primeira mulher indígena a exercer a profissão de advogada no país e fez um mestrado mais tarde na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.

Ela foi a primeira mulher indígena a fazer uma sustentação oral no Superior Tribunal Federal (STF) e também foi a primeira indígena a ter uma cadeira na Câmara dos Deputados, garantida nas eleições de 2018.