Maria Helena Garrido, de 17 anos, é de Manaus e uma das jovens que compõem a delegação de crianças e adolescentes que se encontrará com o papa Francisco, no Vaticano, na quinta-feira (16).

Ela testemunhou de perto a seca histórica do Amazonas em 2023. Com as águas do Rio Negro baixas demais para navegar, Maria Helena ficou um mês impedida de retornar à comunidade indígena Tumbira, onde reside, na região metropolitana de Manaus.

“A gente está aqui para falar sobre e para mostrar o que gente passou. Eu estive presente em cada situação no período da estiagem de 2023. Eu vi e vivi tudo o que aconteceu na Amazônia, a escassez de água imensa que teve, que prejudicou muitas famílias, que praticamente matou o Amazonas”, diz Maria Helena.

O grupo que vai ao Vaticano é composto por representantes do Brasil, Colômbia, Estados Unidos, Guatemala e México. As crianças apresentarão ao pontífice desenhos e mensagens elaboradas por crianças em resposta à pergunta: “Como os líderes mundiais podem auxiliar na proteção das crianças e da natureza?”

Além disso, eles farão um apelo pela elaboração de uma nova Encíclica. Este documento papal orienta toda a Igreja Católica globalmente, com foco na salvaguarda das crianças

Manaus, papa e o encontro

O grupo que inclui a jovem de Manaus no encontro com o papa também participará de um painel dedicado às crianças, em conjunto com o líder religioso. Ele acontece durante o evento “From Climate Crisis to Climate Resilience” (Da Crise Climática à Resiliência Climática), promovido pelo Vaticano.

A manauara, outra brasileira de Salvador e o colombiano Francisco Vera, de 14 anos, viajam a convite do Alana. O grupo de impacto socioambiental busca promover um mundo melhor para as crianças.

O encontro com o Papa também conta com a participação da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), da UCLA Lab School e da University of Massachusetts Boston (UMass Boston).

A seca no Amazonas

A seca que assolou a região foi a mais severa em 121 anos e afetou todas as 62 cidades do Amazonas. A comunidade indígena Tumbira está situada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro.

Maria Helena explica que o acesso à comunidade de carro é inviável devido à presença de igarapés na região. Os moradores dependem do rio para suas atividades econômicas, do dia a dia e para o transporte.

“Eu cheguei a pisar em um lugar que era totalmente cheio de água. O que eu vi foi uma seca que eu nunca pensei que aconteceria, mas que acontece sim, por conta das mudanças climáticas no mundo. A água praticamente sumiu. Além do calor imenso. Parecia que a gente estava assando. Dentro de casa, praticamente não tinha ar. Além de ficar sem fôlego, não podia trabalhar, não podia sustentar a casa. Foi o período que mais tive que viver sobrevivendo. Não foi nem vivendo, foi sobrevivendo em um lugar onde é meu mundo. E eu não pude fazer quase nada”, lembra a adolescente.

Ela relata que, após realizar um exame em Manaus, não pôde retornar para casa devido à seca, sendo obrigada a passar um mês na cidade.

“Se a gente não tiver um mundo mais saudável e digno, a gente não vai ter nada. Porque sem chão para pisar, sem terra para plantar, sem oxigênio para respirar e sem água para beber, a gente não sobrevive mais, de qualquer forma”, diz.

Após essa experiência, ela faz um apelo às pessoas, especialmente aos líderes regionais, nacionais e globais, para que prestem atenção aos alertas climáticos e realmente auxiliem aqueles que enfrentam tragédias. Ela observa que muitos prometem ajuda, mas na prática isso não se concretiza.

*Com informações da Agência Brasil