A ketamina, uma substância amplamente utilizada como anestésico em ambientes clínicos, tem chamado atenção pelo seu uso crescente tanto em tratamentos psiquiátricos quanto em contextos recreativos e criminosos. Essa substância afeta o cérebro e o corpo humano, ocasionando efeitos benéficos e riscos associados a essa droga poderosa.

Conhecida por sua capacidade de induzir um estado dissociativo, o efeito é mediado principalmente pelo bloqueio dos receptores NMDA (N-metil-D-aspartato) no cérebro. Esses receptores são responsáveis pela transmissão de sinais excitatórios entre neurônios, e seu bloqueio resulta na interrupção da comunicação neural, levando ao estado de anestesia.

Segundo o pneumologista David Luniere, o uso desregulado pode deprimir o sistema respiratório, levando a pessoa a “esquecer” de respirar. Se não há movimento muscular que gere respiração, não há troca gasosa de oxigênio e gás carbônico, levando a parada respiratória.

“Se isso perdurar por mais de 5 a 10 minutos, não existe oxigenação dos tecidos e o primeiro órgão que sofre é o sistema nervoso central. Em seguida pode evoluir para uma parada cardíaca”, explica o especialista.

Ketamina no corpo humano

Os efeitos físicos da ketamina variam dependendo da dose e da via de administração. Em doses anestésicas, a ketamina provoca uma perda de consciência e uma anestesia, onde o paciente parece estar “desconectado” do seu corpo e do ambiente.

Isso é particularmente útil em situações médicas onde a manutenção da função respiratória é crucial, já que a ketamina não suprime o centro respiratório no cérebro, ao contrário de muitos outros anestésicos.

Em doses subanestésicas, utilizadas no tratamento da depressão ou em contextos recreativos, a ketamina pode causar uma variedade de efeitos físicos e psicológicos. Esses incluem:

  • Euforia e relaxamento: aumento da sensação de bem-estar e relaxamento, devido à liberação de dopamina e outras substâncias químicas no cérebro.
  • Alucinações e dissociação: sensação de desconexão do corpo e do ambiente, acompanhada de alucinações visuais e auditivas.
  • Alterações na percepção do tempo e espaço: distorções na percepção temporal e espacial, que podem ser agradáveis ou perturbadoras.

No entanto, o uso crônico ou abusivo de ketamina está associado a vários riscos à saúde. Problemas como cistite induzida por ketamina, uma condição dolorosa da bexiga, e danos aos rins são preocupações significativas para usuários frequentes.

Além disso, o abuso pode levar a dependência psicológica e a danos cognitivos a longo prazo, incluindo dificuldades de memória e de concentração.

Efeitos adversos e riscos

Embora a ketamina tenha aplicações terapêuticas, seus efeitos adversos não podem ser ignorados. No uso recreativo, as “viagens de K” podem resultar em desorientação severa, perda de coordenação motora e comportamento perigoso, devido à diminuição do julgamento e da percepção de risco.

A combinação de ketamina com outras substâncias, como álcool ou outras drogas, pode exacerbar esses efeitos e aumentar o risco de overdose. 

Além disso, a ketamina é conhecida por seu uso em crimes como o “Boa Noite Cinderela”, onde é administrada a vítimas para facilitar abuso sexual ou roubo. A capacidade da droga de induzir amnésia e perda de consciência torna as vítimas vulneráveis e incapazes de recordar o ocorrido.