O que fofoca, canjica, moleque, marimbondo e caçula têm em comum?  São palavras incorporadas ao português praticado no Brasil, porém de origem africana.  Esta é a essência da exposição  Línguas Africanas que Fazem o Brasil, em cartaz no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.

Inaugurada nesta sexta (24) a exposição tem a curadoria do  músico e filósofo Tiganá Santana. A mostra confirma a presença africana no dia a dia do povo brasileiro, em diversas formas como nos expressamos. Essa presença pode ser na palavra escrita ou falada, na entonação, no vocabulário ou até mesmo na forma como construímos nossos pensamentos.

Experiência

O visitante da exposição vai se deparar não só com experiências verbais e não verbais, apresentadas por meio de vídeos, sons e instalações imersivas. A ideia é que o público não só conheça mais sobre as línguas africanas, mas também possa senti-las, “sorvendo o que se ouve e o que se vê”.

“É impossível falar de línguas africanas no Brasil sem considerar essas outras dimensões de linguagem e sem considerar as implicações do corpo nisso. Essa é uma oportunidade para a gente falar como a língua se faz presente nos tambores, nos gradis, na dimensão arquitetônica, nas estampas e no jogo de búzios”, disse o curador, em entrevista à Agência Brasil.

Essa presença poderá ser sentida também em outras manifestações culturais como a arquitetura, as festas populares e os rituais religiosos. E até em canções bastante populares como Escravos de Jó, jogavam caxangá. O trecho dessa canção, que aparece em uma parte da exposição, mostra que o “jó” advém das línguas quimbundo e umbundo e quer dizer “casa”, “escravos de casa”.

“Escravizados ladinos, crioulos e mulheres negras, que realizavam trabalho doméstico e falavam tanto o português de seus senhores quanto a língua dos que realizavam trabalhos externos, foram a ponte para a africanização do português e para o aportuguesamento dos africanos no sentido linguístico e cultural”, disse Tiganá Santana, com base nas pesquisas da professora Yeda Pessoa de Castro.