Um violino na Mangueira

Natural do Rio de Janeiro, o violinista Nathan Amaral acaba de ganhar o primeiro prêmio no Concurso Sphinx, nos EUA. Isso lhe propiciou contratos no valor de 50 mil dólares para ser solista em concertos de grandes orquestras naquele país. Ao Norte Entrevista, o músico fala de sua vida e carreira.

Quem é Nathan Amaral

Nascido e criado no Morro da Mangueira, no Rio, Nathan começou a estudar violino aos 12 anos num projeto social do Centro Cultural Cartola. Uma das professoras notou que ele tinha talento e lhe deu aulas particulares, o que muito o ajudou a progredir.

A história com a música

Embora não tivesse uma família ligada à música, Nathan foi muito incentivado pela mãe. “Acho que eu nunca tive essa distinção assim de quando foi o clique que deu em me tornar músico, eu sempre levei como uma maneira  mais tranquila, esportiva, como parte de mim”, declara o músico.

Superando dificuldades

Nathan encontrou algumas dificuldades no começo. “Enfrentei muito essa dura realidade do que é estar inserido dentro da música clássica, mas eu tive muita ajuda, muito apoio, dos projetos, de professores que acreditaram em mim”, revela Nathan.

Como as pessoas reagiam ao seu violino

“Era bem aceito, na verdade, as pessoas ficavam muito curiosas de me ouvir tocar”, diz o músico. “Eu tava tocando em tudo que é lugar, porque as pessoas tinham muito interesse em ver como aquilo funcionava, como assim, um menino da comunidade tocando violino?”, diverte-se Nathan ao relembrar. Contudo, quando as coisas se tornaram mais sérias e ele teve que estudar fora, ele recebeu muitos comentários de pessoas que não acreditavam que isso seria possível: “Olha, isso não é pra você não, isso não é pra gente”, recorda o violinista.

Quem mais o incentivou

A mãe de Nathan foi sua maior incentivadora: “Meu filho tem um propósito maior, eu posso sentir isso”, é a frase dela que Nathan relembra. E o músico também guardaria esta outra frase de sua mãe: “A educação e o conhecimento são as únicas coisas que ninguém pode tirar de você”.

Como surgiu a oportunidade de morar fora

A princípio, Nathan foi morar em São Paulo, onde o nicho da música clássica é maior. Na capital paulista, ele tocaria com a OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e teria seu primeiro contato com músicos internacionais. “O desejo de estudar fora veio, os professores que sempre me apoiaram falavam, vai, continua estudando, bola pra frente, próximo passo”. Nathan venceu o Concurso Eleazar de Carvalho e recebeu uma bolsa integral para estudar fora, na Europa ou nos Estados Unidos. Na audição em Salzburg, Áustria, terra natal do compositor Wolfgang Amadeus Mozart, Nathan passou e ficou na cidade por um ano.

Quantas horas de estudo por dia

No cotidiano, Nathan chega a tocar e estudar cerca de três horas por dia. Quando tem uma prova, concurso ou apresentação importante, porém, Nathan precisa dedicar de quatro a cinco horas por dia a seu instrumento. “A vida é mais que só o violino, a gente precisa balancear tudo”, diz.

Prêmios que já ganhou

Nathan começou muito cedo nos concursos. Venceu seu primeiro em Juiz de Fora-MG, o Concurso Paulo Bosísio, onde ganhou seu primeiro violino. Depois, por duas vezes ganharia o Concurso Eleazar de Carvalho e outro em Curitiba. “Um concurso muito importante para mim foi o de Viena, em que eu precisei tocar um concerto de Mozart na final, e a escola vienense é muito tradicional”, lembra. Também venceria um concurso na Alemanha, e sua vitória mais recente foi no Concurso Sphinx, nos Estados Unidos.

Estudar para o Concurso Sphinx

“Como o repertório é um pouco diferente do tradicional dos outros concursos, a gente precisa se dedicar mais em fazer uma pesquisa por fora da música”, revela Nathan. O Concurso Sphinx é uma competição voltada a afrodescendentes e latinos que visa a difusão e a diversidade na música clássica, também resgatando compositores dos mencionados estratos sócio-culturais.

O que esse prêmio significou

“O prêmio vai abrir muitas portas, já começou a abrir muitas portas. A minha carreira e a minha vida simplesmente mudaram, assim, de cabeça pra baixo”, declara. Para conseguir lidar com os compromissos, ele vai precisar contratar uma equipe. É que o prêmio de 50 mil dólares é, na verdade, um contrato para tocar em diversas grandes orquestras norte-americanas, no decorrer da temporada de música erudita daquele país.

Vida pessoal

“Nunca destaquei minha vida profissional da minha vida pessoal”, diz o músico. No entanto, acha que sobra pouco tempo para outras atividades. Nathan gosta de natação, futebol, karatê, de ler e de ir ao cinema com os amigos.

Viver de música clássica nos EUA

O violinista mora e estuda de graça nos EUA desde setembro último. Antes disso, morou na Alemanha, onde conseguia se sustentar com apoio de outras pessoas. Depois do concurso, vem sendo convidado para apresentações solo: “Aí a vida fica muito mais fácil de se sustentar”, garante.

Dificuldades que teve com os idiomas

Nathan foi para a Áustria sem falar muito bem o alemão. Chegou a fazer seis meses de curso no idioma e, na universidade, era oferecido um curso de 3 anos para a iniciação na língua. “Tive alguns momentos não tão felizes com relação a ser um imigrante num país estrangeiro, mas já esperava por isso e tive acompanhamento psicológico para saber lidar com essas situações”, diz.

Ídolos na música

“Tenho muitos, não necessariamente ídolos, mas pessoas que admiro muito por serem gênios musicais, Brahms, Beethoven, Bach, Tom Jobim, Chico Buarque, Nelson Cavaquinho”, revela Nathan.

Objetivos na carreira

O músico carioca quer levar a música para o máximo número possível de pessoas. “Seja dando aula, seja nos palcos, de qualquer forma”, finaliza.

Acompanhe Nathan Amaral em sua rede social no @nathan.violin