Há quase 10 anos trabalhando com grafismo, Deborah Erê é um dos principais nomes do cenário artístico urbano de Manaus. Nos parques, praças e até mesmo em grandes prédios, imagens de sereias com identidades visuais próprias, feitas pela artista, podem ser vistas por toda a população.  

O grafite

Ao Norte Entrevista, Erê contou como o grafite consegue atingir inúmeras pessoas todos os dias na capital amazonense, e quais são suas inspirações artísticas. Conhecida por representar mulheres reais em forma de sereia, ela defende o grafite como ferramenta política e social.

Por fazer parte do trajeto cotidiano das pessoas, o grafite, conforme Deborah, é uma arte democrática e acessível. A partir dele, a artista consegue representar e expandir suas ideias e visões de mundo.  

“Eu faço um grafite nas ruas e as pessoas têm acesso sem precisar pagar. Isso é muito enriquecedor. A gente consegue transmitir isso de forma muito direta e impactante”, diz Deborah.

Visões de mundo

Os elementos gráficos e visuais impressos em locais da cidade por Erê baseiam-se nas experiências da artista. Eles representam não apenas sua ótica de vida e sentimentos, mas refletem as características da sociedade. Para ela, a junção da coletividade e da experiência individual torna ainda maior a arte de fazer grafismo.   

“A arte que faço representa uma coisa maior que é a sociedade também. São expressões que falam por uma parte da sociedade. As pessoas se identificam. É isso que transforma a arte em algo mais forte ainda”, destaca.  

Mistura

Natural de São Paulo, ela carrega uma parte das vivências da outra região. No entanto, por morar há tantos anos em Manaus, a identidade Amazônica prevalece no grafite que produz.  

“A minha arte é uma mistura do meu repertório de várias coisas que eu já sonhei, já vivi e quis desde criança. É um repertório visual muito forte, inclusive da Amazônia. Por isso minha arte se parece tão amazônica”, conta.  

Expressão política

Com um intenso fervor político, os grafites de Erê representam a realidade particular das mulheres. Essa representação feita por uma mulher, de acordo com Deborah, imprime de forma mais verdadeira e profunda como as mulheres reconhecem o próprio corpo: “O nosso corpo é a nossa casa”, diz Erê.  

“A minha casa não precisa fazer parte de um padrão que na minha opinião é irreal. Eu represento mulheres com características mais reais justamente para a gente enaltecer o nosso corpo que abriga tantas coisas, e que não tem um objetivo só de erotizar e ser consumido. Nosso corpo não é consumível, é o lugar onde a gente habita”, afirma.  

Pichação

Antes de grafitar, Erê entrou no mundo da arte urbana por meio da pichação. Embora já seja considerada uma forma urbana de arte, a pichação ainda é vítima de estigmas e malvista por muitos.  

“A pichação é um tipo de expressão legítima. Eu não sabia desenhar muito bem, então eu não tinha condições de fazer grafite e isso me levou a pichar. Eu precisava me expressar. A pichação é um movimento artístico tal qual o grafite”, defende.