Milton Hatoum é considerado pela crítica um de nossos maiores escritores. Além de romancista premiadíssimo, o manauara já se aventurou pelo conto e pela crônica, é tradutor e foi professor universitário.
A produção da literatura atual
“Não consigo dar conta de toda a produção atual, muita coisa é publicada. Mas li certos autores que acho importantes, o Jeferson Tenório, o Itamar Vieira Júnior, que fazem um romance que não tem apenas o aspecto de denúncia social, mas possuem uma complexidade que é literária, que é o que me interessa”.
O desconhecimento da região Norte e a questão educacional
“Um prazer muito grande é quando as pessoas me dizem que foram conhecer o Norte graças a meus romances, como Dois Irmãos ou Órfãos do Paraíso, que se passam na região Norte. Temos que romper com isso, de conhecer apenas as capitais do Sul. Eu mesmo quis conhecer a Bahia graças a Euclides da Cunha. Mas o Norte ainda é muito pouco conhecido”.
O cinema brasileiro e o Brasil profundo
“O filme “Iracema – uma Transa Amazônica”, fez a cabeça da minha geração, porque fala de coisas que estão aí, a prostituição, as queimadas na floresta, a violência. É um filme dos anos 70 que foi censurado pela ditadura militar, e já denuncia o que estamos vivendo tantos anos depois. O Brasil parece um grande romance da desilusão, quando a gente pensa que pode dar certo, acontece uma espécie de ruptura, um retrocesso. “Noites Alienígenas” se passa inteiramente em Rio Branco, o que já é uma novidade. E estão no filme as questões locais, a desesperança da juventude, o problema indígena etc.”
Desenvolvimento da Amazônia: um pacto democrático
“Tem que haver um pacto democrático, com os grupos poderosos não pensando apenas em seu lucro pessoal. Manaus tem um dos dez maiores PIBs do país, e metade da população não tem acesso a esgoto. Tem que se tornar uma região viável, uma cidade arborizada, com habitações decentes, mas não tem acontecido isso. A desigualdade neste país é obscena, uma loucura.”
Literatura como esperança
“Com todos os problemas que tratamos, nestes tempos de barbárie, a literatura surge como esperança. A educação e a leitura de bons livros, para superar a xenofobia, o racismo, o ódio e a impossibilidade de comunicação. Ao escrever, exerço essa esperança”.
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Quem é Milton Hatoum
MILTON HATOUM nasceu em Manaus, em 1952. Estudou arquitetura na USP e estreou na ficção com Relato de um certo Oriente (1989), vencedor do prêmio Jabuti (melhor romance). Seu segundo romance, Dois irmãos (2000), foi adaptado para televisão, teatro e quadrinhos. Com Cinzas do Norte (2005), Hatoum ganhou os prêmios Jabuti, Livro do Ano, Bravo!, APCA e Portugal Telecom.Sua obra de ficção, publicada em catorze países, recebeu em 2018 o prêmio Roger Caillois (Maison de l’Amérique Latine/Pen Club-França).