Lu Barsoti nasceu em Rio Claro, no interior de São Paulo. Desde criança, entrevistava políticos, artistas e outras personalidades em um jornal local. Sabendo que a Santa Casa da cidade vivia uma crise financeira, a menina teve a ideia de pedir para Chitãozinho e Xororó um show beneficente, a fim de arrecadar fundos para a instituição. A dupla concordou. O evento foi um sucesso e tirou a Santa Casa do vermelho.

Tocados pela atitude da menina, vários moradores da cidade enviaram cartas à produção do “Em Nome do Amor”, do SBT, e Lu foi parar na emissora, de frente com a dupla e com o apresentador do programa, Silvio Santos. A desenvoltura da jovem, com 14 anos à época, chamou a atenção de Silvio, que decidiu contratá-la. Dias depois, ela já fazia parte da emissora.

Confira o Norte Entrevista com Lu Barsoti.

DESTAQUES:

A contratação

“O diretor me chamou, junto com a minha mãe que estava me acompanhando e falou: ‘olha, o Silvio veio conversar comigo dizendo que ele quer contratar a Lu. Estou vindo conversar com vocês, pra pensarem a respeito, mas não quero que criem muita expectativa, porque pode ser só uma coisa de momento. Mas, se não for, estejam preparados.” Essa gravação foi numa sexta-feira. Na segunda-feira, eles entraram em contato de novo com os meus pais falando que, realmente, não era coisa de momento. E aí, na mesma semana, eu vim pra São Paulo e assinei o contrato.”

A convocação para o primeiro programa

“O Serginho Groisman ia deixar o Programa Livre e aí o Silvio me chamou pra conversar e falou: “vou colocar alguns apresentadores e eu quero você nesse rodízio”. Aí ele já me deu a lição: “eu quero que você aprenda com o pessoal do áudio, com o pessoal da iluminação, eu quero você fique no switcher aprendendo como que é corte de câmera, que você faça amizade com os câmeras, pra entender como funciona o trabalho deles e eu quero você frequentando a produção do programa. Então, você vai vir pra São Paulo de segunda a sexta, porque um artista de verdade tem que saber como funciona por detrás das câmeras”. Eu: ‘ok, vamos lá’.”

A estreia

“O que pesou muito pra mim na minha estreia não foi apresentar o programa, não foi fazer o programa ao vivo, porque eu me sentia muito em casa e eu já tinha essa experiência. O que me deu muito frio na barriga foi o fato de eu ter 16 anos, a idade da plateia, estar a anos-luz de Serginho Groisman ou até dos meus colegas apresentadores. ‘Como que eu me apresento? Eu chego como a apresentadora? Não, vai soar estranho’. Eu ficava pensando se fosse eu no lugar da plateia me recebendo. Até que eu cheguei à conclusão de que eu não seria a apresentadora, porque eu ainda não era. “Então, eu vou ser a adolescente, de 16 anos, junto com outros adolescentes fazendo o programa, até eu encontrar a minha linguagem dentro desse programa”, e eu consegui isso. Eu fui muito abençoada dos jovens que estavam lá, porque eles me ajudaram. A gente apresentou o programa junto e deu super certo”.

Conversa com Silvio Santos após demissão

“Eu fui conversar com ele. Pra minha surpresa, ele olhou pra mim e falou: “quem é você?”. Eu falei: “sou eu, Lu Barsoti. Lembra de mim? A gente sempre conversava”. Ele: “Ah, sim. Acho que estou me lembrando. Você não está mais no SBT, né?” Falei: “Então, Silvio, eu não sei o que o que foi que aconteceu”. Aí ele disse: “Deixa eu te falar uma coisa. Vai pra outra emissora, que eu te trago de volta”. E me deu as costas e saiu andando. Aquilo me matou, porque eu fui de uma situação em que eu conversava com o Silvio pelo menos três vezes por semana, em que eu tinha uma relação de muita proximidade com ele, para um ponto em que ele não sabia quem eu era. Uma distância tão grande e “vai pra outra emissora, que eu te trago de volta”.

Motivo da demissão

“Eu fui informada de que estava rolando na rádio peão, dentro da emissora, que eu havia pedido demissão, porque eu não era valorizada. E onde as pessoas se embasaram pra fazer essa fofoca? No salário. O Jassa conversou com o Silvio e a fofoca havia chegado nele, e ele estava extremamente magoado, porque ele investiu em mim. Realmente, eu não tinha um salário milionário, mas eu tinha ele como professor. Ele investiu em mim com aparelho no dente, com aula de canto, aula de dança, com fono, teatro, com tudo, como se eu fosse uma das filhas dele. Até aula de etiqueta. Uma das maiores professoras do Brasil, a Madane Christine Yufon, que foi professora das filhas dele, ele me proporcionou.”

Depressão após saída da TV

“A única coisa que eu pensava era o porquê. Eu dava audiência, eu era uma pessoa querida nos bastidores, tinha a questão dos patrocinadores. Eu seguia à risca tudo que me era pedido. Eu me dediquei de corpo e alma. Por quê? Eu era uma pessoa famosa. Cheguei a experimentar um boom de fama em que eu não conseguia andar sozinha na rua, não conseguia ir ao restaurante, ao shopping, porque eu ficava tirando fotos e dando autógrafos e, pra mim, era maravilhoso. Por que eu não chamei atenção de outras emissoras? Por que não quiseram apostar? Isso me levou a ter uma depressão muito grande. Precisei de auxílio psiquiátrico, auxílio psicológico. Mas, graças a Deus, eu superei.”

Retorno à Comunicação:

“Quando eu me vi trancada dentro de casa, vi as vidas ceifadas e as famílias em luto, aquilo me tocou. O meu coração grita. Eu quero falar com as pessoas. Eu quero me comunicar. Não é o Direito. Estou nessa transição de ver onde eu vou me encaixar, seja no YouTube ou no Instagram. A tia, de 40 anos, ainda está tateando, começando a aprender como tudo funciona.”