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‘Precisamos agir para garantir um planeta habitável no futuro’, diz ONU

Fitoplânctons são capazes de armazenar gás carbônico e liberar oxigênio durante a fotossíntese, aponta estudo recente conduzido na Antártica. Foto: Reprodução/Internet

Fitoplânctons são capazes de armazenar gás carbônico e liberar oxigênio durante a fotossíntese, aponta estudo recente conduzido na Antártica. Foto: Reprodução/Internet

Para garantir um planeta habitável no futuro é preciso agir imediatamente. É o que revela novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), das Nações Unidas (ONU).

O documento foi divulgado nesta segunda-feira (20), é o último documento do tipo previsto para esta década.

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No relatório, revela que nós ainda temos opções viáveis e eficazes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e fazermos as adaptações necessárias às mudanças climáticas causadas pelo homem.

Essas medidas estão disponíveis e agir de forma urgente pode garantir um planeta habitável no futuro.

Mudanças climáticas

Algumas das mudanças climáticas futuras são inevitáveis ou irreversíveis, mas podem ser limitadas por alterações rápidas e de redução sustentada das emissões globais.

O relatório aponta a necessidade de mudanças na forma de produção de alimentos, eletricidade, transportes, indústria, construções e uso do solo, além de indicar medidas como a ampliação do acesso a energia e tecnologias limpas.

A eletrificação das fontes de emissão de carbono – no transporte público, por exemplo -, resultará na melhora da saúde das populações.

Os benefícios econômicos para as pessoas apenas com melhorias na qualidade do ar seriam aproximadamente os mesmos – ou possivelmente ainda maiores – do que os custos de reduzir ou evitar as emissões.

Políticas climáticas

Os relatórios que dão base ao documento atual também indicam que há evidências de que algumas dessas políticas climáticas começam a ter impacto positivo.

Até 2020, mais de 20% das emissões globais foram taxadas por impostos sobre o carbono ou sistemas de negociação de emissões, apesar de ainda terem sido insuficientes para gerar reduções mais profundas.

Nos últimos anos, surgiram leis focadas na redução das emissões em 56 países que abrangem 53% das emissões globais em 2020.

Nesse período, a judicialização dos litígios climáticos também cresceram.

No entanto, apesar do progresso na implantação de medidas de adaptação em todos os setores e regiões, com benefícios documentados e eficácia variável, há lacunas nesse processo que irão continuar a crescer se a rota não for corrigida.

O relatório aponta que alguns ecossistemas e regiões atingiram seus limites.

O documento também ressalta que os atuais fluxos financeiros globais para adaptação são insuficientes e restringem a implementação de opções de adaptação, especialmente em países em desenvolvimento – esse foi um dos temas que exigiram os maiores esforços para a construção de um acordo na última COP, a Conferência do Clima, da ONU, no Egito.

Relatório é o último da década

O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC é uma síntese dos principais pontos revistos das conclusões prévias de 278 cientistas de 65 países.

Esse documento será o “estado da arte” até 2030 e deve servir de guia para a tomada de decisões das nações desenvolvidas e em desenvolvimento.

“A integração de ações climáticas efetivas e equitativas não apenas reduzirá perdas e danos para a natureza e as pessoas, também proporcionará benefícios mais amplos”, afirma o presidente do IPCC, Hoesung Lee, em comunicado.

“Esse Relatório de Síntese ressalta a urgência de ações mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos.”

Manter o aquecimento global limitado a 1,5° acima dos níveis pré-industriais, como prevê o Acordo de Paris, se torna um desafio cada vez maior na medida em que as emissões de gases estufa continuam a apresentar aumento contínuo, como no caso do Brasil.

O relatório destaca que o ritmo e a escala do que foi feito até agora e os planos atuais, são insuficientes para enfrentar as mudanças climáticas.

Combustíveis fósseis

A queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e uso irracional da terra levaram ao aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-níveis industriais.

Isso resultou em eventos climáticos extremos mais frequentes e mais intensos – como a tragédia do litoral norte de São Paulo – o que põe cada vez mais pessoas em perigo em todas as regiões do mundo.

Uma população de até 3,6 bilhões vive em locais e condições de vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas, aponta o IPCC.

“A justiça climática é crucial porque aqueles que menos contribuíram para a mudança climática estão sendo afetados desproporcionalmente”, disse Aditi Mukherji, um dos 93 autores deste Relatório Síntese, o capítulo final da sexta avaliação do Painel.

Temperatura global

O aumento da temperatura global – que leva a ondas de calor e chuvas mais intensas e outros extremos climáticos – eleva também a insegurança alimentar e riscos à saúde humana e aos ecossistemas.

O IPCC aponta que quando esses riscos se combinam com outros eventos como pandemias ou conflitos, tornam-se ainda mais difíceis de administrar em efeito cascata.

Há uma janela de oportunidade que está se fechando rapidamente.

Priorizar processos de equidade, justiça climática, justiça social, inclusão e transição justa pode permitir a adaptação e ações de mitigação ambiciosas e o desenvolvimento resiliente ao clima.

O documento do IPCC chama atenção para o fato que uma ação climática eficaz é possibilitada pelo compromisso político, governança multinível alinhada, estruturas institucionais, leis, políticas e estratégias e maior acesso a financiamento e tecnologia.

Segundo o relatório, há capital global suficiente para fechar as lacunas de investimento, mas também há barreiras para redirecionar o capital para a ação climática.

Aprimorar sistemas de inovação tecnológica é fundamental para acelerar a adoção generalizada de tecnologias e práticas.

As escolhas e ações implementadas nesta década, afirma o relatório, terão impactos agora e por milhares de anos.

Soluções possíveis

2025 é o limite para interromper alta de emissões

Em relatório divulgado em maio de 2022, o IPCC mostrou que 2025 é o limite para que a média anual global das emissões de gases estufa atinja seu ponto de inflexão e passe a cair.

Segundo os cientistas do grupo, medidas como incentivar energias renováveis, novas tecnologias e preservar florestas para retirar da atmosfera o carbono resultante da queima de combustíveis fósseis serão cruciais.

Para se ter ideia do tamanho do desafio: de 2010 a 2019, a média anual de emissões atingiu seus níveis mais altos da história.

Manter a mesma rota coloca a meta de limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC fora de alcance.

Ficar dentro da meta significa que nos próximos três anos as emissões precisam passar a cair de forma sustentada e chegar a 2030 com uma redução de 43% em relação a 2019.

Mesmo se a meta considerada for limitar o aumento a 2ºC, 2025 continua sendo a data-limite, com redução de um quarto do volume de emissões ante os patamares de 2019.

Ao mesmo tempo, as emissões de metano também precisam ser reduzidas em cerca de um terço.

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Ainda que essa receita seja seguida, é quase certo, diz o IPCC, que o limite de temperatura (1,5ºC) será ultrapassado temporariamente, retornando a nível mais baixo até o fim do século.

Apesar dos recordes de emissões da década passada, o ritmo de crescimento foi mais baixo em relação às décadas anteriores.

E, segundo o relatório do IPCC, há evidências crescentes de ações climáticas que já surtem efeitos positivos.

Desde 2010, houve reduções sustentadas de até 85% nos custos de energia solar e eólica energia e baterias, por exemplo.

Um número crescente de políticas públicas e legislações mais refinadas melhorou a eficiência energética, reduziu as taxas de desmate e acelerou a implantação de energia renovável.

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