A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carmen Lúcia Antunes Rocha, abriu nesta quarta (21) o Alright Summit, evento voltado a empresas da mídia regional, destacando o papel fundamental dessa indústria na defesa da democracia. Segundo ela, com o surgimento da inteligência artificial e das deep fakes, capazes de simular vozes e vídeos falsos, “desde a Segunda Guerra Mundial” o papel da imprensa no combate à mentira não era não crucial.

O evento promovido pela StartUp de mídia Alright reuniu dezenas de representantes de veículos jornalísticos de todas as regiões do País, entre eles o Grupo Norte de Comunicação. A diretora de Negócios Digitais do Grupo Norte, Maria Luiza Borges, atuou como curadora e uma das mediadoras do encontro.

A ministra Cármen Lúcia, que tem atuado fortemente na divulgação da campanha “A mentira destrói seu voto”, destacou que durante a Segunda Guerra a imprensa foi fundamental para lançar luz contra o genocídio de seres humanos. ˜Agora, esta mesma imprensa pode ajudar a combater a desinformação que mata a capacidade de pensar das pessoas”, comparou a magistrada.

A fala da ministra foi seguida de um painel que discutiu a desinformação e seus efeitos na periferia. A professora e jornalista Ana Regina Rêgo, da Universidade Federal do Piauí, apresentou a Rede Nacional de Combate à Desinformação, uma iniciativa que conecta mais de 200 entidades que buscam furar bolhas para desmentir conteúdo falso.

A jornalista e ativista negra Marcelle Chagas falou sobre sua pesquisa, que estudou numa periferia do Rio de Janeiro como a desinformação se propaga de forma muito peculiar nesses territórios, às vezes referendada por lideranças locais que têm algum tipo de autoridade, seja familiar, religiosa, ou de estruturas paralelas de poder.

Já o jornalista Daniel Nardim trouxe uma interessante experiência de educação midiática protagonizada pelo Amazônia Vox, plataforma jornalística de Belém-PA. A plataforma reúne ainda um banco de fontes e de jornalistas free lancers da região.

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A onda da IA e como investir a baixo custo

“IA e a Cultura da Experimentação” foi o tema de um painel que reuniu o líder de engenharia da Netflix, Eduardo Lundgren; um representante do Google News, Ricardo Fiorotto, e o CEO da Alright Media, Domingos Secco. A mediação foi feita pela diretora de Negócios Digitais do Grupo Norte de Comunicação, Maria Luiza Borges.

Lundgren disse, apesar de muitas empresas que investiram muito em inteligência artificial estarem repensando suas estratégias, não dá para fugir dessa nova tecnologia, é preciso embarcar e isso hoje já pode ser feito a baixo custo. Há potencial em várias áreas mas onde se consegue maior ganho é nas tarefas repetitivas.

Fiorotto trouxe um combo das ferramentas gratuitas que estão disponíveis no Google que podem ajudar o publisher a melhorar sua entrega de conteúdo. O Google acaba de relançar o NCI, plataforma que conecta dados de audiência com uma verdadeira auditoria técnica do site, permitindo uma avaliação completa sobre o produto. Já outro produto apresentado, o PinPoint, permite que sejam catelogados e usados vários formatos de documento com o uso de IA.

Secco fez um alerta importante sobre a incapacidade de muitos veículos de mídia de fazerem o próprio marketing e por isso estarem ficando para tras na busca por espaço. “Já passou da hora da imprensa achar que é apenas veiculadora de anúncio. É preciso se comportar como produto, valorizar, falar desse produto”, frisou.

Modelos de negócio

A presidente da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), Regina Bucco, mediou o painel que discutiu modelos de negócio para a mídia digital, com a participação de uma representante da Secom (Secretaria de Comunicacação do Governo Federal), outro do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) e ainda uma representante da Associação de Jornalismo Online (Ajor).

Regina Bucco alfinetou a representante da Secom, Marina Pita, ao perguntar quando a secretaria iria liberar campanhas para a mídia regional. Pita explicou que o governo estava trabalhando junto ao TCU para padronizar e dar transparência às regras de acesso às verbas publicitárias públicas, criando para isso uma Instrução Normativa. O objetivo é evitar casos, como ocorridos em governos passados, em que anúncios oficiais foram parar em sites mal afamados.

Sérgio Ludtke, presidente do Projor, trouxe para o painel um trabalho que o instituto está finalizando, com o financiamento do Google, que é a elaboração de indicadores de compromisso com o público, para balizar o trabalho de veículos jornalísticos.

São 11 indicadores ao todo: e serão considerados em conformidade aqueles veículos que cumprirem pelo menos 8 deles.

  • Expediente
  • Princípios editoriais
  • Política de correção de erros
  • Afliliação a associações setoriais do jornalismo
  • Acesso aos profissionais da redação
  • Propriedade do veículo
  • Identificação dos conteúdos patrocinados
  • Transparência de financiamento
  • Identificação de autoria
  • Politica de privacidade
  • Acessibilidade

O lançamento desse verdadeiro guia de boas práticas para os veículos jornalísticos deve ocorrer em novembro, num evento nacional do Google.

Ainda nesse painel, a gerente-executiva da Ajor, Samanta do Carmo, trouxe o resultado do levantamento Oasis, mostrando as principais fontes de financiamento dos veículos digitais. Publicidade ainda responde por praticamente metade da receita, mas 37% do recursos já vêm dos chamados “grants”, projetos financiados por editais, fundações ou grandes plataformas.

Em terceiro lugar aparece receita do leitor, para veículos que mantêm o modelo de assinatura. Nesse ponto Samanta faz um alerta: muitas empresa de mídia não conhecem a sua audiência, não usam ferramentas de analytics e por isso acabam produzindo para o público errado. Isso pode explicar o baixo engajamento de alguns deles.

Erros e acertos do Flow Podcast

No encerramento, um veículo nativo digital veio contar a sua história. A CEO do Grupo Flow, Sara Buchwitz, falou sobre os erros e os acertos da trajetória do grupo, nascido em 2018 de forma despretenciosa, e que atravessou uma grande crise de reputação com uma afirmação antissemita feita no ar pelo integrante Monark.

Apesar de ter enfrentado um cancelamento nunca visto na internet brasileira e a perda de patrocínio, o Flow conseguiu dar a volta por cima.

Sarah destacou que o Flow nunca comprou audiência e, por isso, quando esteve no seu pior momento, seus seguidores não o abandonaram. Os patrocinadores sumiram, o Youtube cortou a monetização por meses, mas a comunidade se manteve.

O Flow hoje oferece um ecossistema de produtos e desenvolve soluções que podem ser vendidas a outros criadores. Investe também em jornalismo. O Flownews é apresentado pelo experiente jornalista Carlos Tramontina. Ainda não é rentável, mas Sarah acredita que esse tempo de investimento era o esperado.

Evento Online

O Alritght Summit teve ainda conteúdo que foi ao ar apenas online, no horário da manhã do dia 21. A programação online abordou temas como: Vozes e Perspectivas de Mulheres no Jornalismo Digital, Transformação Digital dos Veículos de Jornalismo, Colaboração no Jornalismo Hiperlocal, Oásis de Notícias e Modelos de Negócio, Monetização com Ads, a relação entre o Jornalismo e Influenciadores Locais e a inovação nos negócios digitais.

A gravação completa do Alright Summit está disponível no canal da Alright no YouTube.

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