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Polícia Civil cumpre mandados contra militares e guarda metropolitano em Palmas

Policiais da 1ª DHPP de Palmas cumpriram 14 mandados de busca e apreensão em Palmas - Foto: DICOM/SSP TO

Policiais da 1ª DHPP de Palmas cumpriram 14 mandados de busca e apreensão em Palmas - Foto: DICOM/SSP TO

A Polícia Civil do Tocantins cumpriu 14 mandados de busca e apreensão contra cinco policiais militares e um guarda metropolitano de Palmas. Operação foi deflagrada na manhã desta terça-feira (15), investiga o envolvimento dos mesmos, no homicídio de Jaimeson Alves da Rocha, de 35 anos. Ele foi morto no dia 18 de junho deste ano, por volta das 11h30, em uma oficina no Jardim Aureny III.

A equipe da 1ª Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP – Palmas), cumpriu os mandados deferidos pela 1ª Vara Criminal da capital. Foram apreendidos celulares, armas funcionais que serão entregues à corregedoria da Polícia Militar, além de coleta de material genético.

Além disso, os investigados deverão cumprir outras medidas cautelares, tais como uso de tornozeleira eletrônica, afastamento do exercício da função pública e suspensão da posse e restrição do porte de arma de fogo. Todas as armas e munições deverão ser entregues imediatamente para a Corregedoria da Polícia Militar.

Além disso, os militares ficam proibidos de acesso às dependências dos Quartéis da PM e da Guarda Metropolitana, de se ausentar de Palmas e de manter contato com as partes e testemunhas.

Veja versão dos policiais

Os relatos dos policiais que atuam na Rondas Ostensivas Tática Metropolitana (ROTAM), é de que a guarnição foi acionada pelo serviço de inteligência do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque). A missão seria a captura de Jaimeson, que estava trafegando em uma motocicleta vermelha pelas ruas do setor, já que tinha um mandado de prisão contra ele.

Os policiais relataram ainda que, quando percebeu a aproximação da viatura da Rotam, Jaimeson mudou a rota e entrou na oficina para se esconder.

A vítima estaria nos fundos do estabelecimento, de costas para os policiais e na abordagem, teria ignorado o pedido para se virar de frente, além de negar erguer as mãos para o alto, em sinal de rendição.

Mas, ainda de acordo com o relato dos policiais, o homem teria se virado de forma repentina para a guarnição, já efetuando disparos contra os militares. Para revidar a agressão, os policias então utilizaram suas armas e balearam Jaimeson, que veio a óbito no local, após o confronto.

Investigação da Polícia Civil aponta crime de execução

A investigação da 1ª DHPP de Palmas, reuniu informações no local, acionou a perícia oficial, ouviu as testemunhas e os agentes envolvidos, além de requisitar imagens das câmeras de segurança de estabelecimentos próximos ao local.

E tudo apontou que a versão contada pelos policiais e o guarda metropolitano não é possível. As evidências são de um crime de execução e não de morte provocada por confronto.

Os detalhes da investigação da equipe da DHPP dão conta de que o estabelecimento é realmente uma oficina. Se trata de um local estreito e sem possibilidade de saída para os fundos, como relatado pelos policiais.

Outra contradição está no registro das imagens de câmera de segurança. As imagens mostram que Jaimeson foi até a oficina de forma tranquila, buscando mesmo conserto para a sua motocicleta, que apresentava vazamento de óleo. Logo em seguida o mecânico inicia a revisão do veículo ainda na calçada do estabelecimento, enquanto o cliente entra no local.

Poucos minutos depois, três policiais da ROTAM chegam na oficina, pedem para que o mecânico saia e eles entram no local. A proprietária, que também estava dentro do estabelecimento, é convidada a se retirar.

Proprietária da oficina relata acontecimento

O relato da proprietária é de que antes de sair, ela viu que o Jaimeson já tinha sido revistado pelos policiais e estava de frente para os militares, com as mãos para cima, completamente rendido.

A proprietária contou ainda que quando saiu, se deparou com o guarda metropolitano, que fez alguns questionamentos sobre a vítima. Em seguida, a mulher correu ao ouvir os disparos. Um policial da inteligência do BPChoque acompanhou toda a abordagem de perto.

Outro detalhe registrado pela câmera de segurança é que tanto o agente da inteligência, quando o guarda metropolitano, aparecem nas imagens passando em frente a oficina. Eles estão em veículos descaracterizados, antes mesmo da chegada dos outros policiais. O guarda teria ainda afastado mais ainda o mecânico e a proprietária, do estabelecimento.

A arma do crime

Relatos das testemunhas são de que teve um significativo intervalo entre dois blocos de disparos. Isso evidencia que os primeiros vitimaram Jaimeson Alves. Já os outros, foram disparados para a produção de provas para retratar um possível confronto.

Além disso, as investigações apontam que foi feita a implantação de um revólver na cena do crime, em que o porte foi falsamente atribuído à vítima. De acordo com o laudo, Jaimeson foi atingido com dois disparos, dois no tórax e um no ombro.

Outros três projéteis foram encontrados na parede da oficina, que correspondem ao segundo bloco de tiros. Disparos, que, teoricamente, foram feitos pela vítima. A perícia do Laboratório de Genética da Polícia Civil do Tocantins feita na arma, constatou que o contato de Jaimeson com a arma, aconteceu de maneira forçada. Isso quando ele já estava sem vida.

No gatilho da arma, foram encontrados o DNA da vítima e de mais duas pessoas, o que reforçou a tese de que ela foi manuseada por outras pessoas e plantada no local do crime.

jaimeson estava sendo acompanhado dias antes do crime

As investigações apontam ainda que esses policiais, com apoio do guarda metropolitano, estavam monitorando Jaimeson, pelo menos nove dias antes do homicídio.

A vítima tinha uma extensa ficha criminal e já tinha passado por diversas abordagens policiais. Uma delas foi registrada no dia 16 de dezembro de 2023. Na ocasião, Jaimeson foi abordado em uma ação de patrulhamento da PM e teve um desentendimento com a guarnição.

Ele acabou agredindo um dos policiais, seguido de luta corporal e por isso, o policial agredido precisou atirar no Jaimeson, que foi atingido na região pélvica.

Logo depois de ter sido liberado do atendimento médico, Jaimeson foi preso e ficou detido até os primeiros meses de 2024.

O que diz a Guarda Metropolitana de Palmas

Em nota ao Portal Norte, a Prefeitura de Palmas, por meio da Secretaria de Segurança e Mobildiade Urbana, informou que está colaborando com a Polícia Civil. Informou ainda que não teve acesso aos autos, mas que caso seja confirmada a participação do agente, irá tomar as medidas cabíveis. Veja nota na íntegra:

A Prefeitura de Palmas, por meio da Secretaria de Segurança e Mobilidade Urbana (SESMU), informa que desde que teve conhecimento da investigação está colaborando com a Polícia Civil no caso do suposto envolvimento de um agente da Guarda Metropolitana de Palmas que culminou na morte de uma pessoa no bairro Jardim Aureny III, em junho deste ano. Contudo, a SESMU não teve acesso à íntegra dos autos, mas, sendo confirmada a participação do agente, a pasta tomará todas as medidas cabíveis para apurar possíveis desvios de conduta e aplicar as sanções dentro do que determina a legislação. Cumpre ressaltar que a gestão permanece à inteira disposição das autoridades policiais para quaisquer esclarecimentos ou envio de informações.

O que diz a Polícia Militar

A Polícia Militar do Tocantins tomou conhecimento de que na manhã desta terça-feira,15, a Polícia Civil esteve no Quartel do Batalhão de Polícia de Choque (BPCHOQUE) para cumprimento de mandados de busca e apreensão em armários de cinco policiais que estão sendo investigados pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoas (DHPP), por terem, segundo investigações consignadas em Inquérito Policial, praticado homicídio contra um indivíduo, na Região Sul da capital Palmas, em junho deste ano de 2024, durante um cumprimento de mandado de prisão por crimes de tráfico de drogas, roubo, porte ilegal de armas e associação ao tráfico.

A PMTO colaborou com os trabalhos do cumprimento de mandados de busca e apreensão, por meio da Corregedoria, e acompanhou o cumprimento da ordem judicial, com um oficial presente em todos os locais que foram alvos da operação.

A Polícia Militar lamenta o pedido do Delegado que preside o Inquérito da busca e apreensão nas dependências do Quartel, haja vista que as armas e os depoimentos dos policiais foram colhidos no ato da apresentação da ocorrência na Delegacia de Polícia (Depol).

Na oportunidade, a Polícia Militar do Tocantins ratifica seu compromisso com a legalidade e reforça o seu compromisso com a lei, a ordem e a ética, destacando ainda que repudia ilações ou suposições que envolvem o caso veiculadas sem a devida comprovação e que irá colaborar no que for necessário durante as investigações.
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