O Ministério Público Federal (MPF) no Acre abriu um inquérito civil para investigar a presença de dois missionários estrangeiros na aldeia Santo Amaro, localizada na Terra Indígena Alto Rio Purus.

O local é habitado pelo povo Madijá-Kulina, uma etnia de contato recente. A investigação apura se os missionários Anthony Paul Goddard e Rachel Ann, ligados à organização Missão Novas Tribos do Brasil (NMTB), obtiveram autorização da comunidade indígena para permanecer na área.

Segundo a portaria assinada pelo procurador da República Luidgi Merlo Paiva dos Santos, a Funai foi orientada a realizar uma visita à aldeia entre 29 de novembro e 4 de dezembro. O objetivo é verificar se a permanência dos missionários foi consentida pelos líderes da comunidade.

Construção não autorizada na aldeia

De acordo com o portal The Intercept, Anthony Goddard teria entrado ilegalmente na Terra Indígena Alto Rio Purus em 2023, com o intuito de doutrinar os indígenas ao cristianismo. Ele chegou ao local com sua esposa, filho e um funcionário brasileiro.

Sem permissão da Funai ou das lideranças indígenas, construiu uma residência de 96 metros quadrados na aldeia Santo Amaro, localizada próximo à foz do Rio Chandless.

Embora tenha comunicado sua saída da região em maio de 2023 por meio de seus advogados, a estrutura construída permanece na área.

Goddard, que nasceu no Canadá e possui cidadania americana, pertence a uma organização religiosa protestante que busca traduzir e ensinar a Bíblia nas línguas nativas dos povos indígenas.

Missão novas tribos: histórico polêmico  

A Missão Novas Tribos do Brasil, filial da antiga New Tribes Mission, enfrenta diversas controvérsias em sua atuação. Fundada na Flórida em 1942, a organização passou a se chamar Ethnos 360 em 2017 após denúncias de abuso sexual e pedofilia em áreas onde operava.

Apesar da mudança de nome nos Estados Unidos, a subsidiária brasileira manteve a nomenclatura original.

Nas redes sociais, a organização defende que seu objetivo é levar a palavra de Deus a diferentes povos, reforçando que converter comunidades indígenas ao cristianismo é uma missão prioritária.

Investigação e proteção constitucional  

O MPF baseia o inquérito na Constituição Federal e na Lei Complementar nº 75/1993, que asseguram a proteção dos direitos das populações indígenas. O prazo inicial da investigação é de um ano, e a Funai deverá apresentar um relatório detalhado após a visita à aldeia.