Em 2017, a farinha produzida em Cruzeiro do Sul recebeu o selo de Identificação Geográfica (IG), tornando-se o primeiro produto brasileiro derivado de mandioca a conquistar tal reconhecimento.

O selo foi concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura e Pecuária. Esse selo atesta a qualidade superior da farinha de Cruzeiro do Sul, que é comercializada não só no Acre, mas também em outros estados.

A cidade recebeu oficialmente o título após o presidente Lula (PT) ter sancionado a Lei 15.051, de 2024. A publicação foi feita no Diário Oficial da União (DOU) nesta segunda-feira (23).

Com uma população de cerca de 91 mil habitantes, Cruzeiro do Sul é um dos principais centros econômicos da região do Vale do Juruá.

A mandioca, além de ser a base de diversos pratos típicos da culinária local, como pirão e farofa, tem papel fundamental na alimentação e na cultura da cidade.

A farinha artesanal de Cruzeiro do Sul, com sua cor amarela e textura macia, é altamente valorizada pelos consumidores e reconhecida como um produto de qualidade no mercado nacional.

Produção de farinha em Cruzeiro do Sul. – Foto: Marcos Vicentti/Secom

A cultura da farinha

O Mercado Municipal Beira-Rio, em Cruzeiro do Sul, é um ponto de referência para a comercialização de farinha de mandioca. O movimento é intenso desde antes do amanhecer.

Desde cedo, antes mesmo do amanhecer, grandes sacos de farinha, com 50 quilos cada, chegam ao mercado por meio de veículos e embarcações, vindos das comunidades rurais e ribeirinhas dos cinco municípios da região.

Tradição

A farinha de Cruzeiro do Sul tem uma história que remonta ao período pós-colonial, quando os primeiros migrantes nordestinos, especialmente os cearenses, chegaram à região, fugindo da Grande Seca entre 1877 e 1880. Na época, o Brasil ainda era um império, e o território do atual Acre pertencia à Bolívia e ao Peru.

Farinha produzida em Cruzeiro do Sul. – Foto: Marcos Vicentti/Secom

Muitos desses retirantes foram atraídos pela promessa de uma vida melhor na Amazônia, impulsionada pelo trabalho com a extração do látex das seringueiras. No entanto, a realidade encontrou esses migrantes com dificuldades imensas.

Após o declínio do Primeiro Ciclo da Borracha, a economia regional passou a buscar novas alternativas, sendo a produção de farinha uma das mais significativas. Com o tempo, a farinha produzida em Cruzeiro do Sul se destacou pela qualidade superior em relação a outras regiões.

A preparação da farinha em Cruzeiro do Sul

O processo de produção da farinha de mandioca em Cruzeiro do Sul começa com a colheita da raiz, que é levada diretamente para a casa de farinha. Lá, a mandioca é colocada em um equipamento chamado bolador, responsável por retirar as impurezas.

Descascamento da raízes de mandioca. -Foto: Marcos Vicentti/Secom

Em seguida, as raízes são descascadas manualmente e lavadas em reservatórios com água misturada a cloro para evitar contaminação.

Dentro da casa de farinha, o processo continua com a primeira trituração da mandioca, que é prensada para retirar a manipueira, um líquido tóxico presente na raiz.

Depois, a mandioca é triturada novamente, peneirada e torrada no forno. Após a segunda peneiração, a farinha é levada para secagem, completando um processo que pode durar mais de 30 horas.