Acusações graves envolvendo a liderança de comunidades ligadas à doutrina do Santo Daime foram registradas na última sexta-feira (3) na Delegacia de Proteção à Mulher (Deam) e na Superintendência da Polícia Federal no Acre.
As denúncias incluem pedofilia, tráfico internacional de mulheres, venda ilegal de ayahuasca (daime) em gel para a Europa, abuso sexual, espancamentos, ameaças e tentativas de morte.
Ademais, os alvos das acusações são membros da cúpula diretiva da Colônia Cinco Mil, em Rio Branco, e do Céu do Mapiá, no Amazonas.
Quem são os acusados?
O principal acusado é Maurílio José Reis, de 70 anos, conhecido como “padrinho” nas duas comunidades. Natural de Minas Gerais, ele está vinculado à doutrina desde 1975 e nega as acusações.
Maria Isabel Sabino Fernandes, de 48 anos, professora aposentada que mora entre o Acre e o Amazonas há sete anos, fez as denúncias. Ela foi casada com Maurílio por sete anos e o acusa de usar a religião para fins financeiros, alegando que ele não possui emprego fixo.
Maurílio, antes de se casar com Maria Isabel, foi casado com Maria Gregório Melo Reis, conhecida como “Neves”, com quem teve três filhos.
De acordo com as denúncias, Valdecir, um dos filhos do acusado, é responsável pela exportação do daime em gel para a Europa, realizando viagens frequentes ao continente.
As polícias Civil e Federal do Acre ouviram os depoimentos de Maria Isabel Sabino Fernandes acerca do dirigente do Santo Daime, na última sexta-feira.
A mulher registrou diversas queixas contra Maurílio José Reis em anos anteriores. No entanto, as autoridades não avançaram nas investigações nesse período, e nunca intimaram o suspeito a depor.
O que diz a ex-esposa?
Maria Isabel relatou em entrevista ao site ContilNet que iniciou sua parceria com Maurílio em 2017, após conhecê-lo em Lagoa Seca, na Paraíba, e se envolver nas atividades missionárias.
Durante esse período, o dirigente a convidou para viajar com ele e outros membros da doutrina, inclusive para o exterior.
Recentemente, Maria Isabel procurou a Polícia Civil e a Polícia Federal para atualizar denúncias feitas desde 2018, nas quais ela relatava ameaças e agressões por parte de Maurílio e seu filho. Ela agora busca proteção das autoridades.
Em sua denúncia, Maria Isabel afirmou que Maurílio estaria envolvido em uma rede de pedofilia e que a teria apresentado a vários pedófilos, incluindo dirigentes da doutrina.
Maria Isabel também relatou que, em uma dessas visitas, um amigo de Maurílio teria tentado contratar crianças (meninos e meninas) com cerca de 14 anos para realizar atos sexuais, junto às suas mães e avós.
A mulher afirmou que rompeu o relacionamento após ele prometer mudar seu comportamento ao se mudar para Recife. Ela alegou que, longe do poder e do dinheiro, ele agiria de maneira diferente.
No entanto, segundo Maria Isabel, os quatro meses de viagem pelo país foram marcados por frequentes desentendimentos.
A ex-esposa classificou Maurílio como abusador de crianças e adolescentes e traficante internacional de mulheres. Além disso, relatou que ele teria tentado agenciá-la para milionários estrangeiros em diversas ocasiões.
Embora tenha denunciado os crimes em 2018, as autoridades arquivaram o caso sem convocar Maurílio a depor.