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‘A sua voz se cala, mas os seus poemas falarão eternamente’, diz Tenório Telles sobre partida de Thiago de Mello

O grande poeta amazonense Thiago de Mello, de 95 anos, teve morte natural, nesta sexta-feira, 14, em Manaus. O falecimento dele causou grande comoção, principalmente no meio literário. 

O Portal Norte de Notícias entrou em contato com alguns escritores e poetas amazonenses, que falaram sobre o legado de Thiago de Mello para o Amazonas.

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Para os escritores Tenório Telles e Sérgio Freire as obras literárias de Thiago viverão eternamente.

“O poeta Thiago de Mello deixa como grande legado uma poesia comprometida com a vida, com o ser humano, e com a esperança. A passagem dele é uma nota triste para a cultura brasileira. A sua voz se cala, mas os seus poemas falarão eternamente”, comentou emocionado o escritor Tenório Telles.

“Thiago deixa um legado lindo com sua obra poética. Sua história de vida deve ser lembrada como um estímulo à resistência a um mundo antidemocrático e feio, em todos os sentidos. Hoje faz escuro, mas a poesia há de cantar sempre”, disse o escritor Sérgio Freire.

Um documentário a respeito das obras de Thiago de Mello foi produzido pela Editora Valer quando ele completou 95 anos.

Veja o vídeo:

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Estatuto do Homem

O Estatuto do Homem, obra literária valiosa de Thiago de Mello, é considerado um marco histórico dos poemas do escritor.

“O mundo literário hoje amanheceu triste, (o falecimento do Thiago) chocou todos nós poetas, escritores, amazonenses, brasileiros e o mundo todo. Thiago de Mello é o nosso poetar maior. Sempre foi a minha referência. Ele deixa um legado muito grande para todo nós, que é o Estatuto do homem. Por todas as obras que ele produziu, (o Estatuto) ficará marcado para sempre nos seus leitores”, lamentou o poeta João Bosco Rocha, conhecido como Bosquinho Poeta. “Thiago de Mello é o orgulho do Amazonas, pois levou o nosso nome literário para o mundo. Ele será sempre imortal por suas obras”, acrescentou.

“Thiago saiu de mãos dadas com a Estrela da Manhã, defendendo “o direito de cantar e a festa do dia que chegou”. Deixou com o Homem o seu Estatuto,  decretando que “agora vale a verdade, agora vale a vida. E que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas; e que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança. Que este planeta faça valer o legado inesquecível de esperança do nosso poeta amazônico, cidadão universal”, disse a escritora Etelvina Garcia.

“Além da perda irreparável de um dos maiores poetas brasileiros e dono da mais completa biografia cultural do Brasil, Thiago de Mello representava um guerreiro completo a defender a Amazônia – a sua querida ‘Pátria das Águas’. Difícil para o povo de Barreirinha, do Amazonas e do Brasil deixar de se sentir órfãos do que há de mais belo na arte de Camões e que ele, Thiago, tão bem representava e nos deleitava! Que Deus abrace Thiago e que o céu saiba agradecer suas maravilhosas rimas!”, disse o escritor Gaitano Antonaccio.

Ainda conforme Gaitano, o Estatuto do Homem foi apenas um dos grandes poemas de grande repercussão de Thiago de Mello.

“Thiago de Melo foi talentoso e fidalgo em muitas outras. Suas poesia invadiram Cuba, Chile e outros países de grandes poetas”, finalizou. 

Leia abaixo o Estatudo do Homem:

O Estatuto do Homem

Artigo Primeiro

Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo Segundo

Fica decretado que todos os dias da semana,  inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo Terceiro

Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito  a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo Quarto

Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único

O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo Quinto

Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo Sexto

Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo Sétimo

Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha  sempre o quente sabor da ternura.

Artigo Oitavo

Fica permitido a qualquer  pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.

Artigo  Nono

Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo Décimo

Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único

Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.

Artigo Décimo Primeiro

Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais compra o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.

Artigo Fina

Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso  e das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

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