Manacapuru entrou em alerta após novos focos de desabamento, nesta terça-feira (8). O município no interior do Amazonas tem sido isolado para evitar tragédias, segundo informações da Defesa Civil do Estado.
O fenômeno de terras caídas que destruiu o Porto de Manacapuru, poderia ser evitado pelas autoridades responsáveis. A tragédia desencadeada na segunda-feira (7), soterrou casas, vários flutuantes, carros e paralisou a vida de moradores da região de Terra Preta.
Segundo a engenheira Kelly Ambrósio Neto, a calamidade teria outro desfecho se houvesse um monitoramento com o uso de tecnologias como radares e sensores geodésicos 3D, além de estações robóticas conectadas a sistemas de alarmes.
“Outra forma é a realização de perícia e vistoria do local de forma periódica, feita por profissional habilitado da engenharia. Este profissional verificaria a ocorrência de pequenos deslizamentos, solapamento, recalques diferenciais na estrutura, trincas/fissuras ou rachaduras na estrutura e piso, que podem apontar para um possível colapso da estrutura ou talude”, explica.
Os taludes são uma espécie de terreno inclinado que delimita uma massa de solo, rocha ou outro material, e que serve para garantir a estabilidade de encostas e áreas de aterro. A área pode sofrer com a ação da passagem de embarcações e fragilizar a sua base.
“No vídeo do deslizamento em Manacapuru, vimos que o talude é formado em sua base por um solo arenoso escuro, que tem pouca coesão, e em seu topo superior vemos camadas de aterro de outro material. Fizemos a análise das imagens junto à colegas peritos, e os mesmos viram cenários similares em outros episódios de quedas de talude”, contou.
O fenômeno ocorre após o grande período de seca (verão amazônico), entre os meses de outubro a dezembro. As terras caídas são comum nas beiras dos grandes rios amazônicos, pois com a seca há uma grande descida do “calado” dos rios, deixando os taludes a descoberto.
Terras caídas, fenônemo é conhecido dos ribeirinhos
Ainda de acordo com a Kelly, que já foi vice-presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias do Amazonas (Ibape), estes fenômenos são conhecidos pelas populações ribeirinhas, porém em tempos passados, quando ocorriam, não impactaram a vida desses moradores, por ocorrerem em áreas naturais e com baixa presença humana.
Hoje o que vemos é um aumento tanto da população destas localidades, quanto da realização de obras de arte de grande impacto, como portos, arruamentos e até construção de edifícios nestas bordas de rios, sem que haja um estudo geotécnico adequado e posterior execução de obras estruturantes de contenção.
O grande tráfego de embarcações com alta velocidade e as ações antrópicas de modificação do meio ambiente, taludes e encostas também podem explicar o aumento de frequência do fenômeno.