O livro “Caso Delmo: Autos do Processo e a Confissão dos Acusados”, dos escritores Simão Pessoa e Durango Duarte, mostra os segredos desse crime brutal que parou Manaus e virou manchete no mundo todo nos anos 50.

O crime ocorreu dia 5 de fevereiro de 1952. O jovem Delmo Campelo Pereira, acusado de assalto a homicídio, foi morto por um grupo de motoristas que buscavam fazer justiça com as próprias mãos.

A obra conta uma história sombria, rodeada por uma vida de crimes e seguida com a morte cruel de Delmo. Em entrevista ao Portal Norte, Durango Duarte afirmou que os autores conseguiram a cópia do processo com informações exclusivas.

“Foi um grande amigo dele [Simão], que lamentavelmente faleceu, que conseguiu a cópia do processo que estava na mão de um desembargador que dava aulas na faculdade. Com esse processo, a narrativa muda, porque ela acrescenta fatos do ponto de vista jurídico, técnico, com fotos, com detalhes, com depoimentos e com uma série de coisa“, destaca o pesquisador.

O lançamento do livro acontecerá dia 19 de dezembro, às 19h, no Mirante Lúcia Almeida, localizado no Centro de Manaus.

Nova versão

Embora Durango tenha um livro sobre o caso de Delmo, Simão também estava trabalhando em uma obra com o mesmo tema. Como resultado, eles decidiram unir seus esforços e escrever uma nova versão com detalhes chocantes.

“Então, na realidade, o esqueleto do livro é do Simão e eu vou completando o livro com as informações que eu tive”, explica Duarte.

Durango conta que a história possui muitas perspectivas diferentes. Ao todo, 27 pessoas foram acusadas do crime e o livro busca contar a história real.

“Quando saíram da cadeia, eles foram contando histórias de como foi e cada um contava uma versão. É imaginar que 27 condenados saíram contando 27 histórias diferentes e isso se propagou para diversas versões diferentes, mas para resgatar a história, se você não tem o processo e não tem as páginas dos jornais ou da revista Cruzeiro, você não teria uma história que é a história real dos fatos”, detalha o escritor.

O escritor também destaca que, atualmente, se vê poucos livros escritos sobre Manaus. Neste sentido, o objetivo é fazer com que escritores, historiadores e estudantes possam escrever mais obras sobre a história da cidade.

Caso Delmo

Delmo Campelo Pereira era um estudante e filho do dono da Serraria Pereira, uma das maiores empresas da cidade. O jovem decidiu assaltar a serraria do pai para usar o dinheiro em clubes noturnos.

O estudante pediu para que o chofer (atualmente conhecido como taxistas) José Honório Alves da Costa o leva-se ao local. Ele não conseguiu realizar o roubo e feriu o vigia Antônio Firmino da Silva.

Ao tentar fugir, Delmo encontrou uma arma de calibre 38 e notou que o motorista havia percebido o crime. Para silenciar José Honório, deu dois tiros nas costas. No dia seguinte, a brutalidade do crime assustou a cidade e gerou uma revolta generalizada entre os motoristas.

Delmo confessou o crime com contradições, por isso, recebeu o “soro da verdade”, uma droga utilizada na época, e sem comprovação científica, para fazer o paciente revelar segredos. Antes de ser transferido para a polícia, o padre João Batista Rottine o ouviu em confissão.

Durante sua transferência, os motoristas o atraíram para fora da cidade, onde 54 homens participaram do linchamento e 27 o assassinaram.

O corpo de Delmo foi encontrado com marcas de fios elétricos em seu corpo e seu enterro movimentou a cidade. Após o massacre, dezenas de motoristas foram presos e ocorreu uma série de investigações e depoimentos. No fim, 28 pessoas foram levadas ao banco dos réus pelo assassinato do jovem Delmo.