Flávio Dino, ministro da Justiça do Brasil, usou o Twitter neste sábado (10), para se pronunciar a respeito de uma possível “censura” a um show de Roger Waters.

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A fala diz respeito do músico utilizar adereços com referências nazistas em alguma das apresentações que fará no Brasil entre outubro e novembro deste ano.

No último dia 17 de maio, o ex-Pink Floyd subiu ao palco de um show na Alemanha usando um uniforme em alusão ao nazismo.

Dias depois, a polícia local anunciou que estava investigando o músico por “incitação ao ódio”.

Waters se pronunciou afirmando que os adereços “são claramente uma declaração em oposição ao fascismo, injustiça e fanatismo em todas as suas formas.”

Na ocasião, o show também exibiu, num telão, o nome de várias pessoas mortas.

Nas imagens, aparecia nomes como Anne Frank, adolescente judia que morreu num campo de concentração nazista.

Imagem de Shireen Abu Akleh, jornalista palestino da Al Jazeera que morreu em operação israelense em 2022, também foi exibida.

O esclarecimento de Flávio Dino foi feito após publicação do colunista Lauro Jardim, de O Globo, afirmando que se Roger Waters usasse o figurino ao estilo de uniforme nazista em show no Brasil, seria “preso pela PF”.

E citando uma suposta conversa privada entre o ministro do STF Luiz Fux e o ministro da Justiça Flávio Dino, após pedido de representantes da comunidade judaica.

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‘Análise caso a caso’

No Twitter, Dino afirmou: “Ainda não recebi petição sobre apologia a nazismo que aconteceria em show musical. Quando receber, irei analisar, com calma e prudência, a partir de duas premissas fundamentais”.

Na sequência, o ministro da Justiça cita que “é regra geral que autoridade administrativa não pode fazer censura prévia” e cabe ao Judiciário “intervir em caso de ameaça de lesão a direitos de pessoas ou comunidades”, além do fato de que “veicular símbolos, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou amada, para fins de divulgação do nazismo” é crime.

“Essas normas valem para todos que aqui residam ou que para cá venham. Friso o que está na norma penal: ‘para fins de divulgação do nazismo’, o que obviamente exige análise caso a caso”, continua.

‘Posturas canceladoras fortalecem extrema-direita’

“Aproveito a ‘polêmica’ sobre suposta ‘censura’ a show para frisar o meu modesto entendimento: o momento político brasileiro exige ponderação, equilíbrio e capacidade de ouvir a todos. Sou ministro da Justiça do Brasil e não me cabe concordar ou discordar de pedidos sem sequer ler os argumentos dos interessados. Posturas ‘canceladoras’, supostamente ‘radicais’ e ‘revolucionárias’, no atual contexto, só servem para fortalecer a extrema-direita e propiciar o seu retorno ao poder”, conclui.

Flávio Dino ainda destaca ter conhecimento sobre o artista: “Sim, sei quem é e conheço a obra de Roger Waters há algumas décadas”.

O que diz Roger Waters sobre acusações envolvendo nazismo

Confira abaixo a íntegra do posicionamento de Roger Waters após a polêmica envolvendo o uso de símbolos nazistas em seu show na Alemanha.

O comunicado, que já havia sido divulgado à imprensa internacional anteriormente, foi repassado novamente na manhã deste sábado traduzido em português, pela organização do evento.

“Minha recente apresentação em Berlim recebeu ataques de má-fé daqueles que querem me caluniar e me silenciar porque discordam de minhas opiniões políticas e princípios morais. Os elementos de minha performance que foram questionados são claramente uma declaração em oposição ao fascismo, a injustiça e ao fanatismo em todas as suas formas. As tentativas de retratar esses elementos como algo diferente são dissimuladas e politicamente motivadas. A representação de um demagogo fascista desequilibrado tem sido uma característica dos meus shows desde “The Wall”, do Pink Floyd, em 1980. Passei minha vida inteira falando contra o autoritarismo e a opressão onde quer que os veja. Quando eu era criança, depois da guerra, o nome de Anne Frank era frequentemente falado em nossa casa – ela se tornou uma lembrança permanente do que acontece quando o fascismo não é controlado. Meus pais lutaram contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial, com meu pai pagando o preço final. Independente das consequências dos ataques contra mim, continuarei a condenar a injustiça e todos aqueles que a cometem.”