A Constituição Federal ganhou a primeira tradução oficial em uma língua indígena depois de 35 anos promulgada.

A cerimônia ocorreu na Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira (AM), na quarta-feira (19).

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Ao todo, mais de 90% dos 47 mil habitantes do município são indígenas e por isso o lugar tem um valor simbólico.

A primeira Constituição Federal do Brasil traduzida para uma língua indígena, o nheengatu, foi lançada pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber.

O nheengatu, pertencente à família do tupi-guarani e também denominado “tupi moderno”, é uma das quatro línguas cooficiais do município, considerado o mais indígena do país.

A tradução foi feita por um grupo de 15 indígenas bilíngues da região do Alto Rio Negro e Médio Tapajós, eles foram responsáveis por traduzir cada palavra das mais de 450 páginas da Constituição brasileira

O evento foi mais um passo para o reconhecimento e proteção dos direitos desses brasileiros.

O hino nacional foi cantado em língua indígena; 15 indígenas do Alto Rio Negro e Médio Tapajós receberam os primeiros exemplares da Constituição Federal de 1988 na língua deles: Nheengatu.

A ministra Rosa Weber falou durante o evento sobre a língua falada pelos indígenas.

“Eu aprendi que o Nheengatu é uma língua do tronco de Tupi Guarani e levou para a língua brasileira milhares de vocábulos”, afirmou.

Dadá Baniwa, umas das indígenas que ajudou a traduzir a constituição, agora pode folhear os direitos de cidadã que ajudou a deixar compreensíveis para o seu povo.

“Falar da Constituição Federal, falar de um documento muito importante, de uma lei muito importante, que hoje temos esses exemplares agora em Nheengatu, que é uma das línguas oficiais do nosso município de São Gabriel da Cachoeira, que é o município mais indígena do Brasil”, comemorou.

A ministra do STF Cármen Lúcia, a presidente da Funai, Joenia Wapichana, e a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, também acompanharam o lançamento.

Segundo o IBGE, o Brasil tem 305 povos indígenas que, até hoje, conseguiram preservar 274 línguas diferentes.

O Nheengatu é considerado um tipo de língua geral amazônica, falada por diferentes povos.

A partir dessa iniciativa, a intenção é fazer com que a Constituição seja conhecida por todos os brasileiros, com futuras traduções também para outras línguas indígenas.

A ministra dos povos indígenas, Sônia Guajajara, também falou sobre a importância da medida, que garante o direito desses povos.

“Para que a gente possa, juntos, fazer valer essa Constituição e, assim, a gente garantir a continuidade desse trabalho e que os povos possam acessar diretamente o seu direito, a partir da sua língua paterna”, afirmou.

Poder ler a Constituição na língua nativa é uma conquista para quem tem sede de fazer valer as leis que regem o país, e que estão lá no mais novo e importante livro indígena.

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Língua Geral Amazônica

Rosa Weber justificou a escolha do nheengatu pela importância dele para a região amazônica.

“Partiu da percepção de que essa língua historicamente permitiu a comunicação entre comunidades de distintos povos espalhados em toda a região amazônica, até a fronteira com o Peru, Colômbia e Venezuela, e chegou, segundo historiadores, a ser prevalente no Brasil, até ser perseguida e proibida”, disse.

Denominado “Língua Geral Amazônica” e tupi moderno, o nheengatu é o único idioma ainda vivo que descende do tupi antigo, apresentando traços que o relacionam com o tupi falado na costa brasileira.

“Aprendi que o nheengatu é uma língua do tronco do tupi-guarani e legou para a língua brasileira milhares de vocábulos, o nosso sotaque nasal e com prevalência de vogais, que em conjunto com a herança de outros idiomas indígenas e dos idiomas africanos, caracteriza a nossa língua como única e uma das mais ricas do mundo”, frisou a ministra Weber.