O ex-presidente Jair Bolsonaro teve uma agenda secreta com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, duas horas antes de o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciar a reunião que elevou em um ponto a taxa básica de juros da economia (Selic), em maio de 2022.
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A informação foi publicada inicialmente pelo site Metrópoles, e de acordo com o colunista Guilherme Amado, o encontro entre Bolsonaro e Campos Neto não foi citado nas agendas públicas da Presidência e do BC, mas consta de uma “agenda confidencial” do então presidente que era enviada a um grupo de assessores do Palácio do Planalto.
A reunião ocorreu entre as 7h30 e as 8h do dia 4 de maio do ano passado, no gabinete presidencial.
A informação aparece em um e-mail com título “Agenda Confidencial do PR: 04/5/2022”, ao qual está anexado o documento “04_5_2022 Confidencial”.
O Banco Central confirmou que houve o encontro.
A mensagem foi enviada para Mauro César Cid, então ajudante de ordens da Presidência, às 20h56 do dia 3 de maio.
A reunião do Copom começou menos de duas horas depois, às 9h37, segundo a ata do BC.
Campos Neto e os outros integrantes do comitê encerraram o encontro e divulgaram a ata às 19h12.
Por unanimidade, o colegiado decidiu elevar a taxa Selic em um ponto percentual: de 11,75% a 12,75%. Era o maior patamar em cinco anos.
As reuniões do Copom, das quais diretores do BC e Campos Neto fazem parte, têm uma regra chamada de “período de silêncio”.
Segundo essa regra, os participantes do Copom, na semana que antecede a reunião do órgão até o dia da publicação da ata com o resultado do encontro, não podem:
“Emitir declaração sobre Assuntos do Copom em discursos, entrevistas à imprensa e encontros com pessoas que possam ter interesse nas decisões do Copom, incluindo regulados, economistas, investidores, analistas de mercado e empresários”.
Em nota, o Banco Central afirmou que “nenhum tema relativo ao Copom foi tratado durante o referido encontro” com Bolsonaro.
“As regras do período de silêncio do Copom não vedam reuniões com agentes públicos”, disse o BC.
A autarquia atribuiu a ausência da reunião na agenda pública de Campos Neto a uma “falha operacional”. O BC não explicou a razão de a reunião coincidentemente não constar da agenda pública de Bolsonaro.
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