Durante uma entrevista ao Portal Norte, Paulo Lima, 40 anos, compartilhou sua experiência de sobrevivência após ser vítima de um incêndio criminoso.

Em 2019, ele sofreu queimaduras em mais de 40% do corpo e passou por mais de 40 procedimentos cirúrgicos.

Além disso, Paulo, que é brigadista, chef de cozinha e músico, perdeu as pontas dos dedos no acidente.

“Meti a mão na pedra quente e comecei a perder as pontas dos dedos. A pedra estava muito quente e, ao puxar com força, subi, apoiei o peito e esperei um pouco para respirar”, relatou.

Paulo ficou internado por dois meses na UTI do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), referência em tratamento de queimados em Brasília (DF).

Combatendo o fogo

O incêndio teve início quando Paulo e um grupo de pessoas foram socorrer um casal de idosos em risco de ter sua casa consumida pelas chamas.

No entanto, com a mudança do vento, a situação se agravou:

” Eu fiquei na rota do fogo e o fogo me abraçou. Um fogo muito forte, muito intenso, muito fogo. O que era um fogo de um metro virou um fogão de cinco metros de altura”, relatou Paulo.

Além disso, ele destacou que, ao ficar preso em um paredão, o que o salvou foi a mochila de água: “protegeu meus órgãos”.

“Começei a queimar por dentro. Queimei garganta, queimei os olhos”, completou.

Paulo relatou que quando se viu sozinho e com a dificuldade de alguém socorrer, começou a escalar a montanha.

“Enquanto eu estava no fogo, vi minha roupa começar a evaporar, meu cabelo desaparecer e um calor absurdo. Começei a gritar porque era uma dor muito alta”.

Após se encontrar com um amigo na mata, pediu ajuda para que ele o guiasse, pois seus olhos estavam queimados.

“Fui andando e perdi muita pele, sangrando, e seguimos por cerca de 1 km, pulando cercas e descendo erosões.”

Após ser resgatado pelos bombeiros, foi direto para o HRAN sem noção ainda da gravidade.

Segundo Paulo, os médicos duvidaram de sua sobrevivência e, em algum momento, chegaram a considerar a amputação de seus braços.

Por fim, quando se recuperou montou uma brigada voluntária, junto com sua esposa. A Guardiões da Cafuringa ajuda a combater o fogo no DF.

Incêndios no DF

Paulo explicou que os incêndios no cerrado durante a seca não ocorrem espontaneamente e destacou que, mesmo com a chuva, o risco continua, pois raios podem atingir a vegetação.

Fora desse contexto, Paulo afirmou que qualquer incêndio é criminoso. No DF, a Polícia Federal (PF) instaurou inquéritos para apurar as causas e os responsáveis por queimadas que devastaram diversas áreas de preservação.

Dados da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) apontam que entre os meses de julho e setembro de 2024, houve um aumento significativo de 85% nos registros de incêndios em vegetação em relação ao mesmo período de 2023.

Além disso, nesses três meses de 2024, foram contabilizados 24 casos, comparados aos 13 do mesmo período de 2023.

Questionado sobre a atuação do governo federal, Paulo lamentou a falta preparo e informação.

Veja a entrevista completa: