Em audiência pública em Roraima, realizada nesta quinta-feira, 9, em Caroebe, agricultores familiares e produtores rurais da Região Sul de Roraima denunciaram o risco de perderem as terras onde vivem há mais de 20 anos. 

A escuta foi promovida pela Assembleia Legislativa (ALE-RR). Neste sentido, o evento foi organizado para discutir as mudanças na política fundiária propostas pelo Governo do Estado.

O projeto foi encaminhado para o Poder Legislativo em janeiro deste ano pelo governador Antonio Denarium (Progressistas), que pediu regime de urgência. 

Contudo, os parlamentares avaliaram que a proposta era complexa e precisava de uma ampla discussão com a sociedade. 

Em abril, o chefe do Executivo tentou retirar a proposta de tramitação, mas o presidente da Assembleia, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), rejeitou.

Sampaio afirmou que todas as denúncias e demandas apresentadas na audiência farão parte do relatório da comissão especial que cuida do projeto de lei do Governo. 

O presidente do Legislativo declarou ainda que diversas reclamações já chegaram até a Casa e devem ser apuradas pelo Iteraima.

“Nos deparamos com essas denúncias e preocupações, em relação às glebas, que chegaram até nós sobre grilagem de terra. O pequeno, que vive na propriedade há anos, foi surpreendido com sobreposição de terras. De uma hora para outra, começam a aparecer pessoas que são donas dessas terras e nunca foram vistas nesses processos. Não podemos compartilhar nem permitir qualquer retrocesso nessa conquista que é nossa”, expressou.

Soldado Sampaio – Foto: Jader Souza/ SupCom ALE-RR

Sampaio reforçou que acrescentou que o Iteraima tem dinheiro, já que o governador pediu remanejamento de R$38 milhões do órgão para a Secretaria de Infraestrutura.

Demandas dos produtores rurais na audiência pública em Roraima

Produtores rurais e agricultores familiares que participaram da audiência pública em Roraima explicaram que há mais de duas décadas, sem ajuda ou suporte financeiro de qualquer instituição pública, criaram estradas e estruturaram as propriedades. 

No entanto, quando a Gleba Baliza passou da União para o Estado, o Iteraima alegou sobreposição de terras e negou o título definitivo para alguns produtores. 

Com isso, gerou-se insegurança fundiária para as cerca de 150 famílias que vivem na região.

“Esses produtores estão aqui lutando para organizar suas terras e produzir. E agora, uma medida descabida, da qual não sabemos o fundamento nem o porquê, está retirando dezenas de famílias e as jogando na rua. Não é desapropriação, é simplesmente tomar a terra das pessoas. Isso é um absurdo! Por que precisam de diversos documentos, se estamos produzindo lá há tempos? Querem priorizar os amigos do governador [Antonio Denarium]”, disse o representante da Associação dos Produtores Rurais do Sudeste de Roraima, Eurides Campos Antunes.

Eurides Campos Antunes – Foto: Jader Souza/ SupCom ALE-RR

Produtores como Rogério da Silva, que vivia na propriedade há 20 anos, perdeu os cerca de 1,5 mil hectares. 

A rapidez que ele esperava do governo estadual não veio. No lugar, o sonho de continuar na terra onde construiu uma vida foi substituído por uma enorme dor de cabeça. 

O produtor, que afirma ter toda a documentação comprovando ser dono legítimo da propriedade, espera poder reaver o local.

“Me chamaram de novato. O que é meu, é meu, o que é do meu vizinho, é do meu vizinho. As terras são de quem chega com dinheiro de fora, sem nunca ter pisado na terra, e começa a explorar madeira. Nessa audiência pública, graças a vocês, nossa voz pode ser ouvida. Vocês foram eleitos e representam o povo. Não sou letrado, sou humilde, mas preciso mostrar a nossa realidade para vocês. Tenho documentos atestando que a posse de quem está na terra é ilegal. Tive um bom advogado, mas perdi”, enfatizou Rogério.

Rogério da Silva – Foto: Jader Souza/ SupCom ALE-RR

Ainda na audiência, os agricultores pediram a redução da taxa de reposição florestal, conforme eles, no valor de R$56. Eles alegaram que nos outros estados brasileiros, a mesma taxa varia de R$10 a R$15. 

O alto valor inviabiliza a plantação e cultivo nas propriedades, segundo os trabalhadores.

Outro lado

A presidente do Iteraima, Dilma Lindalva Costa, alegou, durante a audiência pública, estar com o “coração doído” pelo que escutou na audiência e afirmou haver uma enorme desinformação sobre a Gleba Baliza. 

De acordo com ela, atualmente, existem 170 processos referentes à área mencionada. 

“Não existe produtor sendo retirado de sua terra, o que existe é uma preocupação para resolver os problemas das famílias que lá estão”, resumiu, garantindo que ninguém será retirado da propriedade, desde que cumpra o requisito da lei.

Presidente do Iteraima – Foto: Jader Souza/ SupCom ALE-RR

Dilma explicou que, ao ser transferida, a gleba, por cálculos da União, tinha 760 mil hectares. No entanto, após o georreferenciamento do Iteraima, constatou-se que eram 904 mil hectares. 

Mesmo assim, conforme a presidente do órgão, o Estado só tem direito apenas a 414 mil hectares depois de um novo processo de georreferenciamento, destacamento e matrícula da gleba por causa de projetos de assentamento e áreas indígenas. 

Em razão disso, não pode regularizar as terras dos agricultores e produtores rurais até que termine toda a regulamentação da gleba.

Por outro lado, o Incra contesta a declaração da presidente e afirma que todo o processo que o Iteraima afirma ser necessário já foi feito durante a transferência da Gleba Baliza para o Estado de Roraima. 

O superintendente do Incra em Roraima, Evangelista Siqueira, ressaltou que os atos do Incra anteriores à transferência das terras precisam ser convalidados pelo órgão estadual.

“Entendam que nós, em nível de atuação, já não podemos resolver, uma vez que a gleba foi transferida para o Estado. Além de convalidar o que foi feito pelo Incra, os processos devem ser priorizados pelo Estado para que recebam os títulos”, acrescentou.

Superintendente do Incra em Roraima, Evangelista Siqueira – Foto: Jader Souza/ SupCom ALE-RR

Fonte: Assembleia Legislativa de Roraima