Os presidentes Vladimir Putin, da Rússia, e Emmanuel Macron, da França, se reuniram nesta segunda-feira (7) no Kremlin, para cumprir uma agenda recheada de pontos relacionados à crise entre russos e ucranianos.
O Ocidente teme que a Rússia invada a Ucrânia, e exercícios militares da Rússia na fronteira preocupam cada vez mais.
Os líderes participaram de uma coletiva de imprensa após o encontro.
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Putin e Macron dialogaram por cinco horas. Macron vem atuando como interlocutor mais ativo da Europa na tensão entre os países europeus.
Na atual crise, o líder francês conversou com o presidente russo por telefone pelo menos cinco vezes desde dezembro, em uma tentativa de impedir a invasão russa.
Putin afirmou que eles vão se falar novamente por telefone após a visita de Macron a Kiev, a capital ucraniana, nesta terça-feira (8).
O presidente russo parece ter deixado a porta aberta para a diplomacia, mesmo após críticas ao governo da Ucrânia. Dentre outras acusações, a Rússia também considera que os ucranianos estariam violando os direitos dos russos que vivem no país vizinho.
“Várias de suas ideias ou propostas [de Macron] – sobre as quais provavelmente é muito cedo para falar – considero bastante viáveis para criar uma base para nossos próximos passos”, falou Putin.
Autoridades russas negam que planejam atacar a Ucrânia.
Já autoridades americanas seguem dizendo que os militares russos sinalizam uma invasão a qualquer momento.
Nas últimas semanas, é crescente a tensão na região da Europa onde estão localizadas a Ucrânia e a Rússia. O exercício de tropas russas na fronteira preocupa o mundo, e a Otan, aliança militar liderada pelos EUA, tenta impedir uma guerra de território naquele país que ainda tem democracia recente e com pensamento dividido.
O Portal Norte preparou tópicos sobre o assunto para explicar o que de fato acontece naquela região e o que está em jogo.
Para entender os acontecimentos se faz necessário, claro, mergulhar na história.
O papel da Ucrânia na região, o apoio da Otan, a Crimeia, bem como a posição dos Estados Unidos e Alemanha são situações importantes para contextualizar o assunto.
Foto: Reprodução – Combio russo em fronteira com a Ucrânia
Ucrânia
A Ucrânia tem mais de 44 milhões de habitantes e o seu território é maior, por exemplo, que o da França, com mais de 600 mil quilômetros quadrados.
Desde o fim da Guerra Fria, em 1991, a Ucrânia tem sido uma fronteira entre a influência das democracias liberais da Europa (Ocidente) e a Rússia (Oriente).
A região que hoje é a Ucrânia chegou a ser parte do antigo Império Russo. Em 1919, ela virou uma república da União Soviética (URSS).
Com o colapso do bloco no início dos anos 1990, a Ucrânia ficou independente em um acordo de 1994.
De lá até o ano de 2014, o país foi presidido por aliados da Rússia. Um pouco antes, em novembro de 2013, protestos começaram a tomar conta da Ucrânia exigindo maior integração com a Europa (movimento conhecido como “Euromaidan”).
Depois de 93 dias e diante da pressão popular e internacional, o Parlamento acabou depondo no dia 22 de fevereiro de 2014 o então presidente aliado da Rússia, Víktor Fédorovych Yanukóvytch.
Em resposta a isso, os russos apoiaram grupos separatistas na Crimeia, onde já vivia numerosa população de origem russa, o que se desdobrou na anexação da região.
Foto: Reprodução – Região do mundo envolvida na tensão entre Rússia e Ucrânia
A Crimeia
A Crimeia era território ucraniano, mas acabou indo parar nas mãos dos russos em 2014.
Sem confirmação oficial, fala-se que conflitos na fronteira leste da Ucrânia deixaram mais de 10 mil mortos em sete anos.
O que a Rússia quer?
Vladimir Putin nunca “engoliu” deixar de ter influência em Kiev desde a saída do seu último aliado em 2014.
Além da redução de poder, a influência do ocidente em países daquela região incomoda os russos. Para eles, a Ucrânia é uma porta que pode dar sequência ao avanço das ideias ocidentais no “quintal” da Rússia.
A Ucrânia não faz parte da Otan e isso é uma situação que Putin alega para exigir que o Ocidente não dê apoio aos ucranianos como faz nesse momento.
Armas, navios e aviões estão sendo colocados à disposição dos ucranianos para evitar possível invasão russa.
A Rússia exige que a Otan interrompa sua expansão rumo aos países do leste europeu. Os russos acusam a aliança de “cercar a Rússia”.
Putin enxerga que a Ucrânia pode se tornar novo membro da Otan, e a Rússia não tolerará o Ocidente cada vez mais protagonista em nações daquela parte do mundo.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, em setembro do ano passado. Na ocasião, Biden anunciou a criação de um pacote de assistência de US$ 60 milhões e US$ 45 milhões a título de assistência humanitária para a Ucrânia. Além disso, apoio às aspirações do país em se tornar membro da Otan.
Não precisa ir muito além para entender que a agenda da Ucrânia com o mundo representa um barril de pólvora frente ao incômodo pensamento russo de perda de poder na região.
Foto: Reprodução/Evan Vucci/AP – Presidente Joe Biden (dir.) recebe na Casa Branca presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, no dia 01/09/21
Ucrânia fora da Otan
Em meio aos acontecimentos do mundo, movimentos de aproximação da Ucrânia com a União Europeia e a Otan foram feitos ao longo das décadas. Mas o país é dividido, não há uma visão definida sobre de que lado o povo está.
O lado oeste do país, que inclui a capital Kiev, anseia obter os padrões europeus e seus costumes ocidentais, mas a parte leste ainda se enxerga mais próxima dos russos.
Otan
A sigla OTAN significa Organização do Tratado do Atlântico Norte. Trata-se de uma aliança político-militar criada no dia 4 de abril de 1949, durante a Guerra Fria, e que integra países ocidentais e capitalistas, liderados pelos Estados Unidos.
O seu objetivo era inibir o avanço do bloco socialista no continente europeu, fazendo frente a União Soviética e seus aliados da Europa oriental.
Fizeram parte da assinatura inicial da Otan doze países: Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Bélgica, Islândia, Países Baixos, Luxemburgo, Dinamarca, Noruega, Finlândia, Portugal e Itália. Posteriormente, aderiram à organização a Grécia, Turquia, Alemanha Ocidental e Espanha.
Passados mais de 50 anos, houve necessidade de redefinir o papel da Otan. Atualmente, o objetivo da aliança é garantir segurança à Europa e América do Norte.
No cenário atual, a OTAN é composta por: Estados Unidos, Canadá, Bélgica, Dinamarca, França, Holanda, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Portugal, Reino Unido, Grécia, Alemanha, Espanha, Polônia, República Tcheca, Hungria, Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, Croácia, Albânia, Turquia e Macedônia.
Pacto de Varsóvia
Diante da criação da Otan, na metade do século 20, a União Soviética e a Europa oriental (socialista) viabilizaram em 1955, o Pacto de Varsóvia. A ideia era defender o regime socialista.
Mas aí veio o ano de 1991. Com a desintegração do bloco socialista e o fim da União Soviética, o Pacto de Vasórvia foi dissolvido.
Isso fortaleceu a Otan. Anos depois, a contragosto da Rússia, os seguintes países europeus que eram zona de influência soviética passaram a integrar a aliança liderada pelos EUA: República Tcheca, Hungria, Albânia, Croácia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Eslovênia e Eslováquia se tornaram membros.
Estados Unidos
Se no final da 1ª Guerra Mundial os Estados Unidos preferiram focar em interesses internos do próprio do país, depois da segunda guerra mundial a situação foi oposta.
Como um dos países vencedores da 2ª guerra, os norte-americanos decidiram marcar presença no cenário mundial. A criação da Otan faz parte disso.
O polêmico Nord Stream 2
O Nord Stream 2 é um gasoduto de US$ 11,8 bilhões que liga a Rússia à Alemanha. Ele foi concluído em novembro de 2021, mas corre o risco de não ser inaugurado em caso de invasão russa ao território ucraniano.
O gasoduto tem 1,2 mil km de extensão e a capacidade dele é de 55 milhões de metros cúbicos de gás por ano. Contornando a Ucrânia, a rota do gás aumentará as possibilidades de fornecimento de gás russo para a Europa.
Durante anos, esse projeto opôs os Estados Unidos contra a Alemanha, principal cliente e promotora do gasoduto, mas também os europeus uns contra os outros, além da Rússia e da Ucrânia.
Os Estados Unidos desaprovam o projeto por acreditarem que o gasoduto torna os europeus mais dependentes da energia russa.
Ter um serviço importante de grande alcance dependente dos russos é visto com grande desconfiança por muitos países. Eles temem que Putin utilize isso como escudo e pressão política em caso de sanções por manobras da Rússia em diferentes cenários.
Foto: Reprodução – Instalações na Rússia do gasoduto Nord Stream 2
Alemanha
A Alemanha é membro da Otan. O país é parte principal interessada no gás oriundo da Rússia e vem trabalhando com diplomacia nos bastidores da crise.
O governo alemão tenta convencer à Otan de que vale mais diálogo com os russos e ucranianos antes de qualquer sanção ou medida mais drástica. Não é interesse dos alemães radicalizar posição no momento. Os próximos passos da Rússia serão decisivos para ações de líderes da Otan.
O mundo observa com preocupação. Os mercados ainda não se recuperaram dos números impostos pela pandemia do coronavírus. Um conflito a essa altura só provocaria mais crise sem precedentes e insegurança na retomada do fôlego da economia global.
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