Após uma série de críticas de setores apontados como mais conservadores, o Vaticano saiu em defesa, nessa quinta-feira (4), da bênção a casais homossexuais ou em “situação irregular”.
No dia 18 de dezembro de 2023, o papa Francisco permitiu bênçãos a casais homossexuais ou em situação “irregular”.
+ Envie esta notícia no seu WhatsApp
+ Envie esta notícia no seu Telegram
As reações foram rápidas. A Conferência Episcopal de Moçambique anunciou que não seguirá a recomendação, sob alegação de que essas bênçãos provocam nas comunidades cristãs “questionamento e perturbações”.
O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal argentino Víctor Manuel Fernández, emitiu comunicado para esclarecer alguns pontos da Declaração Fiducia Supplicans, destacando a diferença entre bênçãos litúrgicas (como a do matrimônio), e bênçãos pastorais, como é o caso.
Na sequência, a mesma decisão foi tomada em Malauí e Zâmbia (país onde a simples relação homossexual pode ser punida com 15 anos de prisão ou até execução).
Bispos de Angola, Quênia, Nigéria, São Tomé e Príncipe, Uganda e Zimbábue estão entre os demais clérigos africanos que disseram que não abençoarão casais do mesmo sexo.
Uma das mais recentes manifestações foi a do bispo de Moyobamba (Peru), Rafael Escudero, que exortou os sacerdotes de sua diocese a, “dada a falta de clareza do documento”, seguirem “a práxis ininterrupta da Igreja até agora, que é abençoar toda pessoa que pede bênção, e não casais do mesmo sexo ou casais em situação irregular”.
A Doutrina da Fé acrescenta um exemplo do que seria uma “bênção pastoral”, na qual o sacerdote formula a oração:
“Senhor, olhai para estes teus dois filhos, concedei-lhes saúde, trabalho, paz, ajuda mútua. Livrai-os de tudo o que contradiz o teu Evangelho e concedei-lhes que vivam segundo a tua vontade. Amém”.
RELACIONADAS
+ Papa autoriza bênção a casais homoafetivos, mas mantém doutrina
+ Bênção a casais homoafetivos desperta rejeição entre bispos
+ Bênção a união homoafetiva: como padres podem realizar?
Posição do Vaticano
Diante das reações e das dúvidas manifestadas, o antigo Santo Ofício afirmou que “A Declaração contém a proposta de breves e simples bênçãos pastorais (não litúrgicas ou ritualizadas) a casais (não às uniões) irregulares”.
Trata-se de, segundo frisou, “bênçãos sem forma litúrgica que não aprovam nem justificam a situação em que estas pessoas se encontram”.
Dessa forma, a doutrina a respeito de matrimônio e sexualidade, por parte da Igreja, não sofreu nenhuma alteração.
O Vaticano observou ainda que a forma como esta declaração foi recebida nas dioceses exige “a necessidade de um tempo mais longo de reflexão pastoral”.
Esse comunicado é divulgado na sequência de declarações e cartas pastorais das Conferências Episcopais e dioceses nas quais os sacerdotes são exortados a não abençoarem casais do mesmo sexo ou casais em situação irregular.
Na declaração dessa quinta-feira, o Vaticano admite que, nos seus aspectos práticos, pode ser necessário “mais ou menos tempo para a aplicação” das bênçãos, segundo os contextos locais e o discernimento de cada bispo com a sua diocese.
“Em alguns lugares não há dificuldades para uma aplicação imediata, em outros há a necessidade de não inovar nada enquanto se toma todo o tempo necessário para a leitura e a interpretação”.