O governo venezuelano acusou o Brasil de vetar sua entrada no bloco econômico Brics, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Segundo a Venezuela, a decisão representou uma “agressão”.
No entanto, o Itamaraty afirmou que o grupo apenas definiu critérios e princípios para novas adesões. Durante uma reunião esta semana em Kazan, Rússia, foram estabelecidos os países com potencial para se tornarem membros associados do bloco, mas a Venezuela não foi incluída.
Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela afirmou que o “o povo venezuelano sente indignação e vergonha por esta agressão inexplicável e imoral da diplomacia brasileira (Itamaraty), mantendo o pior das políticas de Jair Bolsonaro contra a Revolução Bolivariana fundada pelo comandante Hugo Chávez”.
Após negociações entre os dez países do Brics, a Rússia ficou responsável por convidar 13 nações para integrarem o bloco como membros associados. Na América Latina, os selecionados foram Cuba e Bolívia, além de outros países, como Nigéria, Turquia, Malásia e Indonésia.
Desde a reeleição de Nicolás Maduro, em julho deste ano, o Brasil tem mantido uma postura distante em relação ao governo venezuelano.
A eleição, contestada por diversos organismos internacionais e por países, incluindo o Brasil, foi criticada pela falta de transparência, com dados de mesas de votação não divulgados.
Maduro demonstrou interesse em integrar o Brics e participou da 16ª cúpula do grupo, realizada esta semana na Rússia, onde se reuniu com o presidente Vladimir Putin.
Em coletiva de imprensa, Putin declarou que respeita a posição do Brasil quanto à eleição venezuelana, embora discorde dela. Ele expressou esperança de que Brasil e Venezuela superem as diferenças diplomáticas, destacando sua confiança no presidente Lula para tratar o tema de forma “objetiva”.
Critérios do Itamaraty para novos membros do Brics
O Itamaraty afirmou que o Brasil não vetou especificamente a Venezuela, mas defendeu critérios objetivos para a inclusão de novos países.
Segundo o embaixador Eduardo Paes Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Ministério de Relações Exteriores, os critérios incluem o apoio à reforma da ONU, rejeição de sanções econômicas unilaterais e relações amigáveis com todos os membros do Brics.
Para a professora Maria Elena Rodríguez, coordenadora do grupo de pesquisa sobre o Brics da PUC-Rio, a postura brasileira foi coerente.
Segundo ela, as relações entre Brasil e Venezuela atualmente não são amistosas, o que torna inviável a inclusão da Venezuela no bloco.
“Não temos relação amigável com a Venezuela neste momento. Não temos uma relação amigável com a Nicarágua, que é outro país que havia manifestado interesse em entrar no Brics. Esse é um ponto fundamental. Você não pode ter no bloco dois países com os quais você não tem uma boa relação”, destacou.
Em agosto, tensões entre Brasil e Nicarágua culminaram na expulsão dos respectivos embaixadores. O Brasil, a pedido do Papa Francisco, tentou mediar a libertação de um bispo preso na Nicarágua, o que irritou o governo de Daniel Ortega, aumentando o atrito entre as nações.