O Dia do Psicólogo está sendo celebrado nesta sexta-feira, 27. A profissão desafiadora e essencial, por natureza, se viu ainda mais necessária diante de uma pandemia global que isolou dentro de casa uma sociedade já atormentada pelos tempos modernos.
O Portal Norte de Notícias conversou com a psicóloga amazonense, Ane Caroline Nunes, de 29 anos, que atualmente mora em Seropedica, no Rio de Janeiro. Ela trabalha em uma casa de acolhimento a crianças e adolescentes.
“Atualmente trabalho como Psicóloga em uma casa de acolhimento a crianças e adolescentes, que está dentro da política do SUAS [Sistema Único de Assistência Social], e neste contexto de atuação, tenho contato com inúmeras histórias, umas tristes, outras de superação, e o início de história. Às vezes parece que estou diante de uma literatura, a diferença é que a história acontece em tempo real e me sinto privilegiada de poder acompanhar inícios, interrupções, reviravoltas”, disse.
A vontade de cursar psicologia surgiu desde cedo. Ela conta que ainda no ensino médio, gostava de observar como aconteciam as relações, as dinâmicas entre as pessoas.
“Sempre tive uma posição mais conciliadora e gostava de saber sobre as pessoas. Quando iniciei o curso, tive uma dimensão do que de fato era estudar a psicologia e como ela era ampla. Gostava e gosto muito das questões sociais e percebi o quanto a psicologia é importante nas construções de políticas públicas, na intervenção com pessoas que vivem em situações de vulnerabilidade social, de saúde”.
Ane conta os desafios enfrentados na profissão durante a pandemia da Covid-19.
“O primeiro impacto foi a interrupção do contato, do olho no olho, que foi substituído pela tela, os fones de ouvido, microfones, internet. O setting terapêutico ganhou um novo formato. E as angústias sobre o isolamento, as ansiedades, medo pelo desconhecido, sobre o contexto político e social brasileiro se tornaram questões ainda mais presentes. Dentro do contexto da casa de acolhimento, em que as crianças e adolescentes não puderam mais socializar com a comunidade, foi possível perceber o quanto isso as afetou, modificando sono, humor”, explica.
A pandemia da Covid-19 afeta a saúde mental de uma parte considerável da população. Muitos psicólogos chegam a dizer que se veem tentados a ajudar pacientes com problemas parecidos com os seus, afinal, o isolamento social, uso de máscara, medo do desconhecido, preocupação com a saúde de familiares, também afetaram o dia a dia desses profissionais.
“Não foi fácil, é um trabalho diário de repensar o que é possível fazer, o que está sob meu controle, o que não está, os meus limites. Mas o que me ajudou muito a não me perder nessas angústias foi justamente manter a terapia em dia. Mas devo salientar que tenho uma rede de apoio que funciona, que sempre que preciso tem alguém com quem posso contar. ”, desabafa Ane.
Para ela, durante a pandemia um dos momentos mais angustiantes foi acompanhar de longe a crise de oxigênio no Amazonas.
“Quando Manaus enfrentou a crise do oxigênio, eu torcia muito para que minha família não adoecesse. Mas todos os dias via amigos perdendo alguém. Muitas pessoas queridas que foram importantes na minha história de vida, partiram devido à Covid”, concluiu.