O Brasil está enfrentando uma onda de incêndios florestais sem precedentes em 2024, com quase 200 mil focos registrados até o final de setembro, mais da metade deles concentrados na Amazônia.

As autoridades investigam fortes indícios de crime ambiental, com 85 inquéritos já instaurados.

Segundo a Polícia Federal, diversas ações criminosas estariam por trás dos incêndios, incluindo grilagem de terras e retaliações contra políticas ambientais do governo.

O delegado Humberto Freire de Barros, responsável pelas investigações, afirmou que as suspeitas indicam que o uso do fogo em áreas onde o manejo foi proibido caracteriza um crime ambiental.

Retomada de políticas ambientais enfrenta resistência

Em meio a esse cenário crítico, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, ressaltou os desafios enfrentados pelo governo na retomada de políticas de preservação.

Durante o Encontro Preparatório da Cúpula Social do G20, no Rio de Janeiro, Marina destacou a redução do desmatamento em 45% neste ano, mas alertou que o país enfrenta uma combinação perigosa de eventos climáticos extremos e ações criminosas.

“Nós conseguimos retomar a criação de unidades de conservação, demarcação de terra indígena, combate ao garimpo, fazer um esforço enorme para reduzir desmatamento no ano passado em 50%, esse ano já reduzimos 45% e estamos agora diante de uma situação, é uma combinação de um evento climático extremo que está assolando não só o Brasil, mas o planeta, e criminosos ateando fogo no país”, afirmou a ministra.

Destruição de áreas protegidas

Pesquisadores apontam que a grilagem de terras públicas é uma das principais causas dos incêndios na Amazônia.

Maurício Torres, da Universidade Federal do Pará (UFPA), explicou que o fogo é utilizado como parte do processo de apropriação ilegal de terras, especialmente em áreas recém-desmatadas.

O fogo é essencial para limpar a área e preparar o solo para a formação de pastagens, afirmou Torres.

O pesquisador também destacou que o desmatamento é frequentemente usado como prova de ocupação de terras, incentivado por leis de anistia anteriores que regularizam áreas invadidas até 2008.

Biomas ameaçados e impacto ambiental

Os incêndios não se limitam à Amazônia. O Cerrado, segundo maior bioma do Brasil, também sofreu danos significativos.

Em agosto, a área queimada no Cerrado aumentou 221% em comparação ao mesmo período de 2023, conforme dados da pesquisadora Vera Arruda, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

“Esses eventos resultam na perda de biodiversidade, com espécies de plantas e animais, muitas vezes endêmicas, sendo impactadas. A destruição da vegetação nativa também afeta a capacidade do bioma de funcionar como regulador do ciclo hidrológico, já que o Cerrado abriga nascentes de importantes bacias hidrográficas”, alertou Arruda.

As autoridades estão agora trabalhando para responsabilizar os criminosos não apenas pelos incêndios, mas também pelos danos ecossistêmicos causados.

De acordo com a Polícia Federal, os custos dos serviços ambientais perdidos serão calculados e os culpados poderão ser obrigados a pagar indenizações.

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