Entre 2001 e 2023, as emissões de carbono provenientes de incêndios florestais aumentaram 60% no planeta, com maior destaque para as florestas extratropicais, em regiões temperadas e boreais, como as coníferas do Canadá. Este aumento foi mais expressivo do que o observado nas queimadas em florestas tropicais, como a Amazônia.
A pesquisa, conduzida por cientistas do Brasil, da Europa e dos Estados Unidos, foi publicada na revista Science em outubro.
O estudo não cobre dados de 2024, quando houve uma intensificação significativa dos incêndios em biomas como o Pantanal e a Amazônia. Essas regiões continuam sendo vulneráveis, e os impactos das queimadas nessas áreas podem se agravar nos próximos anos.
Para realizar o estudo, os pesquisadores utilizaram algoritmos de sensoriamento remoto para analisar 414 ecorregiões florestais ao redor do mundo. Variáveis como densidade populacional, construção de rodovias, clima e áreas queimadas foram levadas em conta. Uma ferramenta de inteligência artificial foi empregada para identificar padrões de incêndios e agrupar regiões com características similares, resultando na definição dos 12 piromas. A pesquisa foi liderada pelo cientista Matthew Jones, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido.
A combustão da vegetação florestal libera gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), que intensificam o aquecimento global e contribuem para as mudanças climáticas. O estudo classificou as florestas do planeta em 12 grandes regiões chamadas “piromas”, uma junção das palavras “fogo” e “bioma” em grego, para entender como os incêndios nessas áreas respondem a diferentes pressões ambientais, climáticas e humanas.
Essas zonas abrangem desde as florestas boreais próximas ao Ártico até as florestas de pinheiros da Austrália, incluindo também áreas fora dos trópicos.
Mudanças no padrão de incêndios
Os dados apontam que o aumento das emissões de carbono se deve principalmente ao crescimento da área queimada e ao aumento na intensidade dos incêndios. Em 2023, as emissões por unidade de área queimada foram 50% superiores às registradas em 2001. Um dos achados mais surpreendentes foi o aumento expressivo de emissões nas florestas boreais da Eurásia e América do Norte, que quase triplicaram entre 2001 e 2023.
De acordo com Thais Rosan, geógrafa e cientista ambiental brasileira e coautora do estudo, as florestas boreais têm enfrentado condições mais secas e ondas de calor mais frequentes, o que contribui para um aumento na quantidade de biomassa disponível para queima, intensificando os incêndios.
Impactos das Mudanças Climáticas em Florestas Tropicais e Boreais
Embora as florestas tropicais, como a Amazônia e a bacia do Congo, tenham visto uma redução nas emissões de carbono devido a incêndios, as mudanças climáticas continuam sendo um grande risco. O estudo sugere que, nos trópicos, a urbanização crescente, a construção de estradas e a expansão da agricultura têm impulsionado as queimadas, além das já conhecidas alterações climáticas.
Celso H. L. Silva-Junior, especialista em ciclo do carbono e pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), destacou a importância do estudo ao revelar que as florestas extratropicais, anteriormente consideradas menos significativas para as emissões de gases de efeito estufa, estão contribuindo de forma mais expressiva do que se imaginava.
Ele enfatiza que as mudanças climáticas aumentam a vulnerabilidade das florestas a incêndios, criando um ciclo que agrava o aquecimento global. “O grande estoque de carbono das florestas é liberado quando elas queimam, contribuindo ainda mais para o aquecimento global”, alerta.
Com informações do Uol.