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Estudo relaciona desmatamento com aumento de anemia em crianças na Amazônia

Um estudo conduzido por pesquisadores da britânica Lancaster University, da Universidade de São Paulo (USP), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade do Pará, aponta que a carne de caça é um item fundamental na alimentação de brasileiros na primeira infância que vivem nas zonas rurais na Amazônia. As informações são da BBC Brasil.

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De acordo com a pesquisa, recém-publicada pela Scientific Reports (do grupo Nature), o avanço do desmatamento na floresta amazônica, impulsionado pela criação de áreas de pastagem para bois, tende a reduzir a oferta de carne de caça para indígenas, ribeirinhos e comunidades tradicionais amazônicas.

“Na própria Amazônia, a população relata isso. Quando há uma degradação do ambiente, animais cuja carne é muito valorizada, como a anta ou a queixada, costumam sumir da região bem rápido. Outras espécies, como a paca, parecem ser mais resilientes à devastação ou à caça predatória”, explica a pesquisadora Patrícia Carignano Torres, da USP, uma das autoras do estudo.

E com menos carne de caça disponível, casos de anemias entre crianças aumentam.

“Vale a pena deixar claro que as pessoas na zona rural na Amazônia praticamente nunca consomem carne bovina. Em média, essas famílias comem bife uma vez a cada dois meses. Portanto, a carne bovina não está apoiando a segurança alimentar e nutricional dessas crianças”, afirma o cientista social Luke Parry, da Lancaster University.

Dados da Organização Mundial de Saúde já havia apontando, anteriormente, a anemia como um grave problema entre os povos indígenas, com prevalência superior a 40%.

Coleta de informações

Os pesquisadores visitaram 1.100 domicílios em 4 municípios do Amazonas. Ao todo, eles visitaram 58 vilarejos amazônicos, 44 deles acessíveis apenas de barco.

Nas visitas, os pesquisadores cruzaram os hábitos alimentares da população local com a contagem da proteína hemoglobina presente no sangue de 610 crianças.

Resultado

O resultado da pesquisa apontou que onde o consumo médio de carne de caça não chega a duas vezes por mês, parece haver pouco impacto dessa fonte de proteína na saúde na primeira infância.

Já nas zonas rurais e remotas, onde o consumo de carne de caça médio por família varia entre 4 e 8 vezes por mês, pacas, antas, bugios, jabutis e queixadas são indispensáveis no crescimento e desenvolvimento das crianças.

O consumo de peixes não demonstrou efeito sobre a prevalência da anemia.

O problema é maior

De acordo com a pesquisadora Patrícia Carignano, embora a carne de caça represente alguma segurança nutricional para essas crianças, ela não é uma “bala de prata” para salvar a infância da Amazônia.

“Sequer sabemos hoje quais micronutrientes esses animais selvagens possuem, nunca houve estudos disso. Essas crianças vivem com privação de uma série de vitaminas e minerais. E sabemos que se a carne de caça segura um pouco esses índices de anemia, ela não resolve por completo o problema”, afirma Torres.

Os dados sugerem que não basta a conservação ambiental para salvar espécies de extinção e crianças da anemia.

“A Amazônia precisa de um desenvolvimento econômico sustentável, que mantenha a floresta em pé ao mesmo tempo em que gere mais renda para que a população local tenha acesso a melhores alimentação e práticas de saúde”, resume Torres.

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