A cantora, pastora evangélica e ex-deputada federal, Flordelis dos Santos de Souza, de 61 anos foi condenada neste domingo (13) a 50 anos e 28 dias de prisão pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo.

O crime ocorreu em 16 de junho de 2019 na garagem da casa em que a família morava, em Niterói, região metropolitana do Rio.

O julgamento, iniciado às 9h da última segunda-feira, 7, acabou às 7h20 deste domingo, 13.

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Flordelis

Flordelis está nas manchetes dos jornais por um crime, mas sua fama é muito anterior.

Antes de frequentar o noticiário policial, a pastora lançou discos de música gospel, fez turnês nos EUA e Europa, recebeu homenagens.

Já foi tema de filme, focado em torno de sua vocação missionária, de um livro pouco lisonjeiro, Flordelis: A Pastora do Diabo, que a acusa de capitalizar em cima da adoção de dezenas de crianças.

Mais recentemente, se tornou protagonista de uma produção que foca o assassinato do seu marido, Anderson do Carmo, Flordelis: Questiona ou Adora.

Julgamento

O julgamento, iniciado às 9h da segunda-feira, 7, acabou às 7h20 deste domingo, 13. Flordelis foi julgada pelo Tribunal do Júri, composto por sete jurados, três mulheres e quatro homens, sorteados entre cidadãos previamente alistados, sob o comando da juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói.

Segundo o Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ), responsável pela acusação, Flordelis e familiares próximos dela estavam descontentes com a conduta do pastor, que gerenciava a carreira da pastora e cantora e administrava o dinheiro.

Por isso, decidiram matá-lo, primeiro tentando fazer por envenenando e, por fim, acabaram matando-o a tiros. A pastora sempre negou o crime.

Além de Flordelis, também foram julgados quatro familiares dela: Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva de Flordelis, Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, Rayane dos Santos Oliveira, filha de Simone e neta de Flordelis, e André Luiz de Oliveira, filho adotivo de Flordelis.

Só Simone foi condenada a 31 anos e 4 meses. Os demais foram absolvidos.

Anderson

Aos 30 anos, recém-separada do primeiro marido e com três filhos biológicos, Flordelis conheceu Anderson, que na época tinha 14 anos e também era morador da comunidade.

De início, ele se envolveu com Simone, que tinha 11 anos.

Diferentemente dos jovens que Flordelis acolhia, Anderson não tinha problemas com drogas nem crimes.

Nascido e criado na comunidade, vivia com os pais e estava concluindo o ensino médio no Colégio Pedro II, tradicional escola federal no bairro de São Cristóvão. Também era jovem aprendiz no Banco do Brasil.

Na época, Flordelis e sua mãe já tinham aberto uma igreja, no Jacarezinho. Anderson se tornou líder do grupo de jovens.

Não muito depois, e apesar da pouca idade, se tornou uma espécie de administrador da casa de Flordelis, visto como um líder pelos demais.

Dentre os jovens que ela acolheu, um deles – Wagner Andrade Pimenta, o Misael – passou a gravar os cultos ministrados por Flordelis e a fazer cópias em CD e DVD para vender nas igrejas por onde passavam.

A parceria de Anderson e da cantora se consolidou enquanto ela pregava e ele transformava em dinheiro as pregações, que vendia pelas ruas.

Juntos, Flordelis e Anderson fundaram a Comunidade Evangélica Ministério Flordelis, em 1999, no Rocha, zona norte do Rio.

Anderson era presidente da instituição. No início dos anos 2000, o ministério foi transferido para São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. A igreja chegou a ter cinco filiais.

Deputada bolsonarista

Flordelis afirmava ser mãe de 55 filhos, a maioria afetivos, e a desburocratização da adoção foi a bandeira que a elegeu deputada federal, pelo PSD, em 2018, na onda bolsonarista.

Foi a quinta mais votada no estado, com 196.959 votos, feito importante para quem havia tentado vaga de vereadora em São Gonçalo, em 2004, recebendo pouco mais de 2 mil votos.

Nenhum dos projetos de Flordelis como deputada teve grande impacto nem foi aprovado.

Em Brasília, Flordelis estava sempre com o marido, que chegou a conseguir um crachá para circular no plenário da Câmara dos Deputados. Anderson fazia as articulações.

Conseguiu que ela fosse recebida pela primeira-dama Michele Bolsonaro, no Palácio da Alvorada e pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.

Também foi do pastor a articulação de um seminário sobre adoção na Câmara dos Deputados, realizado pouco mais de duas semanas antes de sua morte.

O mandato de Flordelis como deputada foi cassado em agosto do ano passado, quando o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovou, por 16 a 1, parecer nesse sentido.

Depois, acabaria presa, na espiral que tragou o seu sucesso a partir do assassinato de Anderson.