O grupo Americanas protocolou nesta segunda-feira (20), o plano de recuperação judicial, que conta com cerca de R$ 42 bilhões em dívidas.

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A proposta é baseada no aporte de R$ 10 bilhões dos acionistas de referência, o trio formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

Esse valor, porém, ainda está em discussão com os bancos credores e é atualmente um dos principais entraves para o sucesso do plano.

Além disso, no documento, a empresa afirma que ainda terá a receber de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões pelo Hortifruti, por sua participação na Uni.co (dona das marcas Imaginarium e Puket) e por um jatinho – os três serão vendidos.

Se o plano for aprovado como está, a companhia contará com R$ 5,8 bilhões de dívida bruta em balanço, com a relação dívida líquida sobre o Ebitda de 2,5 vezes.

“Para toda essa mecânica funcionar, é preciso dinheiro novo. A quantidade de dinheiro novo impacta o tamanho do ‘recovery’ (redução da dívida) de todos os credores. Esse é um dos principais pontos de discussão”, disse o novo CEO da companhia, Leonardo Coelho, ao Estadão/Broadcast.

Experiente, ele se diz ciente de que processos de recuperação judicial têm fases e que elas envolvem chegar muito próximo a um acordo e ver uma das partes retroagir.

“Esse não deve ser o plano final, mas tampouco, é algo apenas para cumprir uma obrigação legal. Ele já tem muito do que foi discutido com os credores financeiros e fornecedores até agora. A conversa está equilibrada embora ainda não haja aceite das partes”, afirmou.

A expectativa é que o plano seja aprovado até o terceiro trimestre. A primeira assembleia de credores para avaliar o assunto acontecerá em junho.

Sobre o dia a dia da empresa hoje, ele diz que a situação de caixa não é confortável, mas foi normalizada.

A principal razão para isso foi o empréstimo feito pelo trio de investidores no modelo DIP, específico para financiar empresas em recuperação judicial.

Dos R$ 2 bilhões emprestados – que seriam descontados dos R$ 10 bilhões de aporte sinalizados até aqui – a Americanas sacou R$ 1 bilhão.

Com a aprovação da Recuperação Judicial, a empresa não precisou pagar o que tinha em estoque, o que também deu alívio ao caixa.

Assim, a empresa tem conseguido operar, pagando seus fornecedores praticamente à vista para novas compras.

Coelho diz que o plano existe para garantir a operação da empresa, mas que, sim, pode haver fechamento de lojas e redução de Centros de Distribuição, ainda que esse não seja o direcionamento inicial.

“A operação tem de ser rentável e, hoje, precisa de ajustes para isso. O plano de transformação tem o potencial de recuperar a rentabilidade do nosso digital. Se não recuperar, terei de resolver de outro jeito. Carregar uma operação deficitária não é uma opção para um empresa em Recuperação Judicial”, afirmou.

Ele diz acreditar ter alavancas suficientes para não enveredar por um caminho de “detonar o digital 100%”, ou seja, acabar com a operação.

Hoje, um dos maiores desafios da companhia é retomar a confiança do consumidor digital.

As tentativas para isso envolvem preços atrativos e bom sortimento de produtos.

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O plano

Há cerca de 40 dias, as discussões voltadas ao Plano de Recuperação Judicial, conta Coelho, se dão em torno de valores mais específicos e não no formato do plano, que já está mais maduro.

A proposta da companhia dá três opções aos fornecedores e quatro aos credores financeiros.

Para os fornecedores, a primeira saída se destina àqueles que tem até R$ 12 mil para receber, ou que aceitam esse valor pelos débitos.

Eles serão pagos sem deságio em até 30 dias depois da homologação do plano.

A segunda opção é se tornar um “fornecedor colaborador” e é destinada às fabricantes estratégicas para a empresa.

Propõe-se o pagamento em uma parcela única, sem deságio, em até 360 dias.

No entanto, essas empresas têm de garantir, em novas vendas para a Americanas, preços equivalentes aos praticados em 2022 (com correção pela inflação), além de quantidades e condições comerciais também equivalentes.

Soma-se a isso ainda o dever de voltar a conceder prazo de pagamento equivalente ao que a companhia tinha no passado, na medida em que for feito o pagamento da dívida.

“Se a Americanas quitar o equivalente a 10% da dívida, esse fornecedor tem de conceder 10% do prazo de antes para novas compras”, explica Coelho.

Quem não topar nenhuma das outras duas opções, tem o deságio de 50% sobre a dívida, e o restante será pago em 48 parcelas corrigidas pelo IPCA, a partir da homologação do plano.

Financeiros

A primeira opção para os credores financeiros, que a companhia avalia ser mais voltada para os detentores de títulos de dívida em dólar (bondholders), é o “leilão reverso voluntário”.

Nele, o desconto mínimo é 70%. A companhia vai estabelecer o limite de até R$ 2,5 bilhões de pagamentos para essa modalidade.

A segunda saída, destinada principalmente aos grandes bancos, prevê a conversão de dívida em participação na Americanas.

Para cada R$ 1 da capitalização a ser feita pelo trio de acionistas de referência, os credores poderão converter R$ 1 de dívida em ações.

Além disso, poderão receber uma parte do saldo a vista, com deságio de 60% e converter o restante do saldo em nova dívida, a ser paga em 5 anos com 128% do CDI de remuneração.

Outra vantagem seria que, quem escolher essa opção, ainda terá acesso a 50% do valor arrecadado com a venda do Hortifruti, da participação da Unico e do jatinho da companhia.

Esse montante será usado para recomprar dívidas desses credores, sem deságio.

Nessa última cláusula, porém, é necessário que o credor volte a oferecer fiança bancária para a companhia.

Restam ainda 2 opções:

  • a dívida subordinada, com deságio de 60% e pagamento em 20 anos com correção pela inflação (opção que deve atender a credores que não podem converter dívidas em ação);
  • e o ‘default option’, no qual a dívida tem 80% de desconto e é convertida em um novo título, a ser pago em 20 anos, com remuneração pela TR.
  • a dívida subordinada garante 40% do valor devido ao credor, enquanto a última opção tem valor de “recovery virtualmente zero”.

A empresa tentou tirar da Recuperação Judicial os credores de classe 1 e 4, que se tratam de dívidas trabalhistas e com os micro e pequenos fornecedores.

Ao todo, esse valor chegaria a R$ 240 milhões, mas a empresa só conseguiu pagar R$ 121 milhões até que o banco Safra conseguisse bloquear esse procedimento na Justiça.

A empresa ainda vai tentar realizar esses pagamentos, mas, se não for possível, esse saldo entra no processo de recuperação também.