O relatório final que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros 36 ex-integrantes do seu governo por tentativa de golpe de estado foi divulgado nesta terça (26).
O sigilo do relatório foi derrubado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do chamado inquérito do golpe.
A PF concluiu que as provas evidenciam a atuação de uma organização criminosa, que desde 2019, começou a desenvolver ações para manter Bolsonaro no poder.
“A partir da consumação de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, restringindo o exercício do Poder Judiciário e impedindo a posse do então presidente da república eleito”, diz trecho do relatório.
Segundo a PF, o grupo investigado, “mesmo cientes da inexistência de fraudes nas eleições realizadas em 2022”, promoveu ações para “desacreditar o processo eleitoral brasileiro”.
Entenda passo a passo do plano golpista:
Ataque ao sistema eleitoral
A ação do grupo começou por meio da disseminação de informações falsas sobre o sistema eletrônico de votação e da narrativa de que os ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), teriam o objetivo de “prejudicar o então presidente da República”.
Esse movimento desencadeou várias manifestações, desde o ano de 2020, em frente a instalações militares, como o QG do Exército, em Brasília.
“O objetivo era gerar um ambiente de pressão popular e, ao mesmo tempo, coagir os poderes constituídos”, diz o relatório.
Após a derrota eleitoral, a organização criminosa começou a planejar ações para viabilizar o golpe de Estado. Para isso, foram disseminados falsos estudos sobre a vulnerabilidades das urnas eletrônicas.
“Com isso, o então presidente Jair Bolsonaro seria mantido no Poder, respaldado pelo braço armado do Estado, sendo convocada novas eleições presidenciais, possivelmente sem a participação do candidato vencedor”, explica o texto.
Assassinatos
Para o êxito do plano seria necessário neutralizar o chamado “centro de gravidade”, termo dado pelos integrantes da organização ao ministro Alexandre de Moraes, que seria “o núcleo de resistência a ser vencido para a ruptura institucional”.
O plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), envolvia o uso de veneno e explosivos.
“Nesse sentido, dentro da divisão de tarefas, o núcleo operacional planejou as ações clandestinas para prender/assassinar o ministro Alexandre de Moraes e os integrantes da chapa presidencial vencedora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin”, destaca o documento.
Apoio militar
Então, os chamados “Kids Pretos” começaram a realizar ações para monitorar o ministro e o presidente, por meio do uso de técnicas de anonimização para evitar a identificação dos criminosos.
No entanto, para a consumação do golpe seria necessário o apoio do braço armado do Estado, em especial o Exército. Sendo assim, foram realizadas vária reuniões com os comandantes das Forças e com o ministro da Defesa para apresentar o Decreto e obter apoio.
Apesar de todas as pressões realizadas, o general Freire Gomes e a maioria do Alto Comando do Exército mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado.
“Tal fato não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final e, por isso, o então presidente da República Jair Bolsonaro, apesar de estar com o decreto pronto, não o assinou”, conclui o relatório.