O governador de Roraima, Antônio Denarium (Podemos), foi denunciado à Polícia Federal e ao Ministério Público por suposta utilização da estrutura policial do estado a favor de garimpos ilegais.

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O Norte Investigação, do jornalismo do Grupo Norte de Comunicação, teve acesso à denúncia que aponta um pedido de empresária ao governador, para transferir dois policiais que estariam atrapalhando negócios com garimpo na região.

Segundo a denúncia, a empresária conhecida como Silvana, do município de Alto Alegre, possui comércios de combustíveis e supermercados nas comunidades Vila da Penha, Vila Paredão e Vila Sumaúma.

A equipe de reportagem procurou Silvana na cidade. Em um posto de propriedade dela, o gerente do estabelecimento tentou intimidar a produção.

Por telefone, ele alertou Silvana sobre a presença da equipe no local.

Ela aceitou atender a equipe por telefone e admitiu que é amiga do Comandante Geral da Polícia Militar de Roraima e que também tem bom relacionamento com o governo Denarium.

Ao ser avisada de que o diálogo seria gravado, Silvana desconversa e disse não conhecer nenhuma autoridade.

Mais denúncias

Outra denúncia contra o governador Antônio Denarium também envolve uso policial para benefício de áreas de garimpos.

Dessa vez, a irregularidade teria ocorrido na cidade de Campos Novos no mês de janeiro.

Um casal de garimpeiros procurou a Corregedoria de Polícia para denunciar suposta extorsão de PMs que atuam na comunidade.

Em uma abordagem policial, o casal aponta que foi liberado após ficar sem uma determinada quantidade de ouro e uma arma de fogo.

A denúncia diz que os policiais não registraram a ocorrência e também não devolveram o material apreendido.

A denúncia também diz que após a abordagem, os policiais teriam retirado um HD da viatura, com imagens da ação dos PMs armazenadas.

O casal abordado tem ligação com um fazendário da região que também seria intermediário do governador Denarium.

A suspeita é de que o HD com as imagens das câmeras da viatura policial comprometeriam diretamente o governador.

O Norte Investigação foi até Campos Novos para tentar falar com os policiais envolvidos e o comandante do batalhão do município.

Os policiais disseram que apenas o comandante lotado no município de Iracema é quem poderia falar algo.

Em Iracema, policiais informaram que o chefe do batalhão havia se mudado para Caracaraí e que ninguém falaria sobre o assunto.

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Sem resposta do governo

Durante a investigação, a equipe de reportagem também buscou respostas do Comando da Polícia Militar de Roraima, da Policia Civil do Estado, da Secretaria de Comunicação de Roraima e do próprio governador, Antônio Denarium.

Nenhum deles aceitou falar ou explicou algo ao Norte Investigação.

Combate à corrupção

O membro do Comitê de Combate à Corrupção Weslei Machado falou ao Norte Investigação sobre o procedimento legal para realizar transferências de servidor público.

“É verdade que a remoção ou transferência pode atender um interesse do próprio servidor. Quando a administração pública transfere ou remove um militar, um servidor público; a ação deve ser pautada pelo interesse público”, disse.

“Há moralidade administrativa para o desfazimento editado em desvio de finalidade”, complementa.

Sobre a ação de garimpos na cooptação de mulheres e adolescentes para prostituição, a delegada da Polícia Federal de Roraima, Mariana Rodrigues, disse que esse indiciamento pode começar nas redes sociais.

“Perfis falsos entram em contato com as vítimas prometendo diversos empregos, inclusive relacionado a prostituição. O que as vítimas não sabem são as condições em que elas são submetidas”, afirma.

“Essas condições são degradantes e muitas vezes as vítimas não vão conseguir pagar a dívida para sair de lá”, complementa.

Relatório

Em abril de 2022, um relatório divulgado pela Hutukara Associação Yanomami, mostrou que 2021 era, até então, o ano de maior destruição provocada pelo garimpo ilegal na região.

A associação, liderada por Davi Kopenawa Yanomami e pelo Instituto Socioambiental, usou dados coletados no ano anterior.

A mineração ilegal polui rios e afeta diretamente o meio de vida dos povos que vivem na floresta.

No começo do ano, o governo brasileiro decretou estado de emergência em saúde para atender casos de subnutrição aguda no território Yanomami.

Segundo o porta-voz do Greenpeace na Amazônia, Danicley de Aguiar, não há dúvida que a atividade do garimpo está na raiz desse problema.

“A convivência forçada com mais de 20 mil garimpeiros dentro do seu território, levou os yanomami ao colapso”, ressalta.

Família envolvida em comércio de ouro ilegal

Vanda Garcia de Almeida e Fabrício de Souza Almeida, irmã e sobrinho do governador de Roraima, foram alvos da operação Bal da Polícia Federal em fevereiro deste ano.

A operação investigava a lavagem de dinheiro oriundo do comércio de ouro ilegal.

Segundo a Polícia Federal, o esquema terima movimentado R$ 64 milhões em pouco mais de dois anos.

O grupo criminoso usava de empresas de fachada para lavar dinheiro da compra e venda de ouro extraído ilegalmente na região de garimpo nas terras Yanomami.

Na casa do sobrinho do governador, a polícia encontrou inúmeras armas, entre elas um fuzil

Conforme informações, Fabrício é colecionador, atirador desportivo e caçador.

Assista à reportagem na íntegra: